Inicialmente, um aviso às gestantes: o mundo corporativo não vai parar para você fazer xixi! Tenha sempre um plano B para sua bexiga! Dito isso, podemos iniciar nossas reflexões sobre a gestação e o mundo corporativo. Vamos lá!
Quando eu tinha vinte e poucos anos – e era uma jovem advogada -, pensava que um filho prejudicaria minha carreira.
Por quase uma década propaguei aos quatro ventos que eu não me casaria e não teria filhos.
É… o mundo corporativo exige este tipo de atraso (da maternidade) para quem pretende ser promovida.
Quando alguém engravidava no trabalho, eu pensava: “ Adeus carreira! Perdeu a chance de ser promovida!”.
Eu tinha um profundo sentimento de pesar, uma sensação de “coitadismo”. Era algo como se ouvisse meus avós falando (quando alguém muito jovem engravidava): Coitada! Perdeu a vida!”
Acho que esta sensação me levou ao atraso da maternidade (aliado aos problemas que a idade elege pra quem pretende engravidar bem próximo dos 40 anos).
Não conto estas histórias de forma pejorativa. Não quero afirmar que meu pensamento de jovem era o correto. Pelo contrário!
O que quero demonstrar é o pensamento dominante no mundo dos negócios de quem não tem filhos. O pensamento de quem afasta, ainda que momentaneamente, a maternidade.
Sem sofrimento, e desde jovens, aprendemos que o mundo corporativo é para os fortes! Que temos que aguentar a pressão! Que é assim…
É o lugar que a gente chora e vomita (trancados no banheiro) e sai sorrindo pra ninguém ver.
É sobre isto que quero escrever hoje: sobre a necessidade de ser forte, de ser profissional mesmo com alguém dentro de você.
Eu não fui a primeira e não serei a última gestante a contar este tipo de experiência. A contar que trabalhou fortemente até o último dia (até o último que pode aguentar).
Todas as mães do mundo corporativo também tem que fazer exatamente a mesma coisa. Nada muda!
É certo que algumas também optam por se dedicar, por um período, exclusivamente, à maternidade. Escolha justa do mesmo modo. Cada um sabe o que é melhor para si.
Estou grávida e o primeiro pensamento que tive ao saber da notícia foi: “Nada vai mudar na minha carreira. Vou trabalhar no mesmo ritmo até o último dia que eu puder aguentar”.
Só não sabia o que viriam durante as semanas de gestação. Minha amiga, não é só uma barriga maior, não!
Eu só não sabia que agora teria alguém (que sequer nasceu) na minha chefia. Alguém que te faz parar (mesmo você querendo acelerar).
A gestação é uma coisa muito louca, uma experiência que transcende a sua própria escolha de vida. Não é mais você o piloto da sua aeronave, alguém a comanda com você!
Estes dias vi uma entrevista sobre fertilidade com a repórter da Globo. Ela relatava que após uma bomba hormonal (causada pelo procedimento de fertilização in vitro) não podia chegar na empresa e simplesmente dizer: “olha! Pega leve comigo porque estou muito irritada e sensível devido à quantidade de hormônios no meu corpo”.
Isso ocorre na gestação também! Não é comum dizer ao chefe, ou aos seus pares, que hoje você não conseguiu terminar o relatório porque parou 10 vezes para vomitar. Isso é um problema seu (não deles).
Você não vai “parar o mundo” pra ter seu bebê. Então, trate de arrumar um modo de descer do trem em movimento (e também em segurança).
É justamente isto que o mundo corporativo exige de seus colaboradores, especialmente das grávidas: ninguém vai passar a mão na sua cabeça porque seu cachorro está doente, ou porque sua madrinha morreu ou porque você está grávida. Entregue seus relatórios no prazo! Isso é o que importa!
Minha querida, a empresa não é a geladeira que você abre e pega um toddinho gelado, não!
O mundo corporativo é para os fortes, meu bem!
Importante é a entrega do relatório de fechamento do primeiro semestre! Lembra?
Então, uma gestante no mundo corporativo não pode desanimar: levanta, sacode a poeira e entrega o relatório até as 18 horas, cumprindo o SLA (sigla em inglês que significa o acordo entre as partes, geralmente quanto ao prazo de entrega de atividades).
Eu, que sempre achei bobagem ter fila preferencial pra gestante, vaga preferencial no estacionamento (pra que bem barriga tinha!) e tratamento diferenciado no trabalho, mudei de opinião.
Hoje eu sou a favor da empatia (porque sei que mesmo sem um barrigão pra ostentar, as grávidas do primeiro trimestre trabalham como se estivessem trabalhando no filme “The Walking Dead” mas com metas a serem cumpridas como se estivessem no programa de TV “O Aprendiz “).
O mundo corporativo não aceita baixa performance. O mundo corporativo não está “nem aí” pra sua gravidez!
Não! Não estou generalizando e não é a intenção colocar as empresas na condição de “carrascos”. Tem empatia no mundo corporativo? A resposta é: tem sim.
MAIS UM ARTIGO DA ADVOGADA ANA KARINA
VOCÊ ESTÁ CONECTADO OU DESCONECTADO
A ideia é apenas trazer o modo Nelson Rodrigues para este texto, ou seja: a vida como ela é! Sem romantizar.
Não espere que o mundo seja generoso contigo. Vá buscar seu prêmio. Bata sua meta! Entregue suas atividades nos prazos acordados.
O objetivo deste texto é informar aos empregadores que as grávidas podem gerar lucro sim!
Também é dizer para as grávidas: Sim! Nós podemos!
Nós, grávidas, merecemos cuidados, merecemos empatia e merecemos a preferência na fila do banheiro (especialmente no banheiro da empresa que não tem a placa “preferencial”. (Foto: www.elheraldo.com)
ANA KARINA
Advogada e professora de Direito do Trabalho em cursos de pós-graduação. Entusiasta da vida, futura mamãe que não joga truco nem tranca. Foge de verdades absolutas e gosta de gente sincera e que não mantém velhas opiniões formadas sobre tudo”. Facebook: Ana Karina Borin