Recentemente assisti uma entrevista com artista famosa que contava uma história sobre sua participação em um evento musical. Apresentou ali sua versão do que teria ocorrido e este é um bom exemplo de como narrativas são construídas: convidada para participar de um programa de televisão para cantar, embora seja conhecida como atriz de grande talento, aceitou e compareceu no horário marcado. Mas o programa atrasou, muito. Incomodada foi se aborrecendo a tal ponto que considerou até não participar. Assim, muito chateada, quando finalmente foi chamada, entrou no palco para iniciar a gravação e para manter o compromisso procurou parecer super descolada. Errou a entrada, o ritmo e a postura, só faltou tropeçar. Parecendo uma louca sua apresentação foi um desastre. No dia seguinte um amigo comentou a conversa de duas vizinhas no elevador do prédio onde ele residia: “Você viu fulana no programa da TV? Completamente drogada”.
Para nossa analise vale perguntar: a atriz em questão estava aborrecida ou drogada? A resposta pouco importa, mas a percepção das pessoas sim. De todo modo, drogada ou aborrecida, a atriz se apressou em apresentar sua versão para tentar desfazer a imagem negativa do que se viu no programa de entrevistas. Para isto servem as narrativas. O fato é irrelevante o que interessa é como ele é contado.
Vemos situações como essa o tempo todo nos meios de comunicação. São políticos explicando que usaram o dinheiro público para viajar, mas a serviço, e que só estava de “bermudas na praia” para entrar no clima. Ou o ditador que conta sua versão do fato independentemente do que seus opositores demonstram. Com a escalada das comunicações nos inúmeros aplicativos cada um conta a sua história se valendo de narrativas sem nenhum compromisso com a realidade para “acredite quem quiser”, assim os oportunismos se manifestam. Se temos, ou teremos, uma crise na saúde o que importa é descrever o que está acontecendo segundo cada conveniência independente dos fatos aos quais nem todos tem acesso, só às narrativas. Esta é a forma de passar informações ou desinformações para quem estiver vendo ou ouvindo. Conta-se a versão que mais interessa a quem está contando.
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Quando os fatos não são favoráveis criam-se descrições que isentem ou diminuam um grau de responsabilidade apontando, quase sempre, possíveis culpados que, evidentemente, nunca é o narrador. Cada um conta a história do seu ponto de vista aumentando o que convém e omitindo o que não convém. O narrador sempre está bem na fita. Isto se observa ao longo da história, mas que tem sido usada com muita frequência nesses tempos midiáticos no qual as múltiplas versões proliferam. A rigor narrativas são apenas versões de um evento sem muito compromisso com a verdade.(Foto: Pikist)

FERNANDO LEME DO PRADO
É educador
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