Realmente já é Natal, de novo. Dá impressão que mal saímos de uma comemoração natalina e já estamos em outra. Parece que neste ano teremos um Natal diferente de tantos outros. Sempre me policio para acreditar que nós fazemos as diferenças, porém o espírito de coletividade, as conversas e as constatações nos apontam para muitas diferenças.
Primeiro que a tal questão da data já nem é tão apontada e nem é muitos explicitada: sim, esquecem do sentido do Natal. Mentira que todos pensam que é data do nascimento de Cristo. Mentira. A grande parte de pessoas pensa na esbórnia, nos presentes, na bebedeira e na comilança, na oportunidade de rasgar a fantasia e a seriedade com que conviveu até este momento.
Percebe-se que a religiosidade e a fé estejam se tornando artigo de muito capricho individual, cada um vivendo as suas conveniências: os discursos são diferentes das atitudes e as inadequações são percebidas em muitos grupos, que insistem em falar em empatia, em doação, em cristianismo, sem mexer uma pena para dar força à estes movimentos já se perdendo em nossas civilizações. Mas todo mundo crendo naquilo que melhor lhe convém (sempre no melhor estilo hipócrita e falso, mas “feliz”).
As mesas não estarão tão fartas de variadas comidas e iguarias porque nossos bolsos não estão tão mais cheios e tão mais folgados: pelo contrário, estamos menos afortunados. Mas temos, sim, o suficiente para garantir a dignidade, o que já nos garante um dia feliz, em especial se não inventarmos de buscar um Natal americano e acreditarmos que nossa culinária é abençoada e rica.
Muitos planos para o ano novo, também, serão reduzidos, em especial porque mal acabamos este ano de tantas incertezas e já estamos percebendo que entraremos noutro, novo, porém incerto, de muitas inconstâncias políticas, sociais e culturais. Nossas escolhas parecem-me que não atingiram suas metas, o que nos tornará mais atentos e mais perspicazes diante do que está por vir. Percebo que a agitação social será de grande monta e que será preciso cautela para não afundarmos em frustrações desnecessárias. Acho que estou sendo claro.
Sobre os afastamentos, pelo que vejo, percebo que já não se aplicam: ninguém acredita mais que a Covid está ai, agindo silenciosamente, mas com força e com estragos reais. A vacinação não avança (não só contra a Covid), porém este estado de coisa, estado de descrença é fruto de uma cultura imperiosa que tomou conta do país, em 2021, tornando-nos mais incultos. Isso precisa mudar e teremos chance, antes de sofrermos perdas maiores.
E as relações pessoais? Dizem que temos categorias de amigos. Vivi acreditando nisso por longos anos, dividindo-me entre dois ou três grupos deles, partilhando com uns…com outros…e com outros, ainda. Mas, hoje, mais maduro e mais vivido, percebo que amigos são amigos e foda-se o resto: não tem influentes, poderosos, comuns, simples. Como não tem os héteros, os homos, os pobres, os ricos, os negros, amarelos, brancos, nem os católicos, evangélicos e umbandistas. Tem os amigos e basta.
Hoje percebo e sei que é verdade que todos eles são importantes, todos me influenciam, todos me ajudam muito. Existem aqueles a quem tenho mais acesso, os que me são mais difíceis, os que estão mais presentes, os que me procuram mais e os que eu infernizo mais, sim, existem. Mas eu sou passional: consigo amar a todos. Consigo respeitar a todos e busco entender a todos. Como gostaria de ser entendido por todos, apesar de reconhecer que não sou fácil de levar, pelas minhas implicâncias (que amo e tento reduzir a cada dia…).
Fico chateado quando percebo que querem me controlar: odeio controles, pois sou dono de uma autonomia, desde a infância. Ser controlado e manipulado é uma situação que me tira do sério e me transforma num ser irracional e antissocial. Amarro a cara, mudo o humor, fico azedo e grosso. Não, não façam isso se não tiverem certeza de que terão resistência à minha ira. Transformo-me no pior dos piores.
Exemplo simples: com que você passou seu aniversário? Onde foi? O que fez? Lá isso é do interesse de alguém, além de quem paga meus impostos? Isso é alçada minha e de minha autonomia, não significa atenção nem zelo: significa que querem me pôr na jaulinha onde nunca estive; tentarei nunca estar e providenciei tudo para ter uma caminhada rumo ao fim, com muita autonomia e integridade.
Lógico que meu afilhado sabe de minhas coisas, de meus interesses e de minhas posições diante do improvável, porque isto é inteligente e necessário. Mas nem a ele eu abro tanta chance para me controlar: ele é a pessoa que amo, confio e divido tudo, mas ele tem a vida dele, a família dele, os filhos dele e eu tenho a minha vida. Preciso, sim, de ajuda, mas sei pedir e sei gritar por ela. Sou chorão por natureza e não titubearei em pedir ajuda, mas deixe-me ser livre, por favor.
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Fico feliz por ter chegado na cara do Natal sem me deixar abater. Devo isso aos essenciais que se mobilizam para ajudar a me achar e fazer com que eu me perceba completo. Passo pelo meu afilhado, um anjo que caiu do céu. Os meus fisioterapeutas e psicólogos, os meus alunos amados, os meus vizinhos atentos e à minha Fé. Minha religiosidade é diferente da maioria dos 90% de brasileiros, porém, é autêntica e rigorosa. Creio, entrego-me e sou feliz com ela. E assim, passarei meu Natal. Mais um Natal.
Talvez vá a uma chácara, em Jarinu. Talvez vá viajar. Talvez vá dormir. O que importa é que qualquer que seja minha opção, nunca estarei só porque quem me cuida não dorme nem me desampara e, acima de tudo, porque estou feliz. Meu pedido a Deus foi atendido, eu tenho certeza. Feliz Natal, da sua maneira, do seu jeito, no seu tempo. O importante é que você busque estar bem. O resto? Bem, o resto é simplesmente o resto.
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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