Há exatos 20 anos, a Rede Globo exibia a novela Mulheres Apaixonadas. Na época, uma das tramas escritas por Manoel Carlos levou o Sindicato das Empregadas Domésticas de Jundiaí a entrar com uma ação contra a emissora. A entidade achou desrespeitosa a representação de Zilda, vivida por Roberta Rodrigues, que era assediada pelo filho dos patrões, o adolescente Carlinhos, interpretado por Daniel Zettel. O processo não deu em nada; a novela está sendo reprisada desde maio; hoje, no sindicato ninguém mais se lembra do episódio. Zilda, no final do folhetim, cedeu ao rapaz. Na vida real, os casos de violência sexual contra mulheres no trabalho continuam acontecendo.
A volta de Mulheres Apaixonadas para as tardes globais fez com que muitos sites especializados em notícias de TV relembrassem a ação movida pelo sindicato jundiaiense. O Notícias da TV, do UOL, escreveu recentemente: “Zilda era empregada na casa de Carlão(Marcos Caruso). Carlinhos era um adolescente louco para perder a virgindade. O jovem se sentia atraído pela funcionária e, mesmo sem ela dar qualquer tipo de abertura ou consentimento, ele a assediava com frequência, forçando contatos físicos e a intimidando no local de trabalho”. Em 2003, o Sindomésticas, entrou com uma ação cautelar para tentar impedir que fosse ao ar uma cena de sexo entre Zilda e Carlos(foto). O pedido à Justiça dizia que a novela ‘inseria na cabeça de adolescentes o desrespeito e insinuava que empregadas domésticas, além de servir à família com trabalho e dedicação, devem servir aos desejos sexuais dos pequenos iniciantes, como se fossem meretrizes à espera do patrãozinho”. Na época, o autor, Manoel Carlos disse que considerava a ação do sindicato normal. Várias categorias reclamavam de como suas profissionais eram retratadas nas novelas. “É como se essas mulheres não fossem capazes de provocar interesse em um homem a não ser por suas qualidades no trabalho”, disse. A juiz Hertha Helena Rollemberg Padilha Palermo, do Tribunal de Justiça de São Paulo, acabou com a polêmica. “Segundo o entendimento do autor(sindicato), nenhum personagem ruim ou que pratique atos condenáveis pode ter profissão definida porque atentaria contra os direitos da personalidade de todos os profissionais da categoria”, julgou ela.
O JA entrou em contato duas vezes com o sindicato. O objetivo era saber como os representantes da categoria viram o desfecho da ação há 20 anos e como encaram a reprise da novela. Uma atendente explicou que ninguém da direção atual esteve envolvido naquele episódio.
Em Jundiaí, segundo reportagem publicada em abril último, “entre 2018 e o ano passado, a Justiça do Trabalho da região de Jundiaí registrou 150 casos de assédio sexual. A estatística leva em consideração as cinco varas de Jundiaí(contando também os processos de Louveira e Itupeva); Campo Limpo(que recebe os casos de Várzea) e de Cabreúva, que são encaminhados para o Fórum de Itu. Em fevereiro último foram registrados cinco casos de assédio sexual na região. O ano com mais abertura de processos foi 2022. No total foram 41 casos. A 1ª e a 3ª Varas de Jundiaí foram as recordistas com oito denúncias cada. Em 2018, a Justiça do Trabalho recebeu 35 processos. Naquele ano, só a 5ª Vara de Jundiaí atendeu 10 casos. Dois anos depois também foram abertos 35 processos de assédio sexual no trabalho. Campo Limpo registrou 10 ações. Em 2021 foram atendidos 25 processos. A 4ª Vara de Jundiaí sozinha teve sete casos. Por último, em 2019, foram apenas 14 casos.
Em 2020, de acordo com matéria publicada pela Agência Brasil, levantamento produzido pelo Instituto Patrícia Galvão revelou que 76% das mulheres já foram vítimas de violência no ambiente de trabalho. Segundo o estudo, 12% das vítimas disseram que foram vítimas de agressão sexual, que inclui assédio e estupro. Não foi encontrada nenhuma pesquisa específica sobre assédio sexual contra empregadas domésticas.
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