NOVO TEMPO?

novo tempo

Muito estranho este período do ano, quando todos correm sem saber para onde e agem sem saber por quê. Parece que estamos vivendo os últimos instantes de toda uma existência e que precisamos aproveitar cada segundo, em sua potência máxima, para aproveitar o novo tempo que está chegando. E colocamos as necessidades dos outros em primeiro lugar, de forma a atender as nossas próprias necessidades de maneira muito superficial. Cansamos, desgastamos e deixamos de viver com alegria.

Assim o final de ano vai se consolidando, como se este ano fosse diferente do outro, e do outro e de mais outro, sendo que são todos iguais: momento de passar a régua e fechar as contas de um ano fiscal que acaba, mas que não traz muita novidade em seu fechamento de calendário, que é repetitivo e cíclico: todo ano a mesma coisa, todo ano as mesmas comidas e a mesma correria para comprar os  presentes e isso e aquilo.

Tudo sempre igual. Entramos em pânico pelas mudanças que ocorreram e não conseguimos reorganizar e, ainda mais em pânico pelas que virão no novo tempo. Mas de que novo tempo estamos falando? O que de novo, efetivamente novo, nós faremos ou alteraremos em 2024? Porque somente teremos o novo se nós nos propusermos a sermos o novo, correto? Não é a mudança da folhinha, do calendário, que trará o novo…

Ficamos ansiosos, projetando situações que habitam nossa imaginação sem nos prender em fatos reais e em questões de primeira necessidade para uma vida mais estabilizada. Buscamos inovar trazendo dilemas com dinheiro, com amores e com saúde, quando ao menos não nos preocupamos com estes assuntos no decorrer dos 365 dias que encerram este ciclo. Vale questionar: será que temos que nos preocupar com aquilo que não nos preocupou até então?

Tais questões, que nos tomam de supetão e consomem nossa tranquilidade são suficientes para nos desestruturar e, não importa o quão bem-sucedidos sejamos, sentiremos algo entre a infelicidade, o vazio e o fracasso. Justamente porque nos remeteremos ao ano passado, ao outro, e ao outro ainda e mais outro e perceberemos que é algo repetitivo, compulsivamente. Não fizemos a lição de casa e não buscamos o novo, de fato, em todo este tempo passado.

Neste período do ano, mais do que nunca, em função destes argumentos tratados, somos pegos por uma leitura de relacionamentos insatisfatórios, uma grande sensação de vazio e um traço de baixa autoestima gritante em nossa memória: ficamos com o coração apertado e o pensamento fixo num só ponto, o que não nos facilita a avançar. A imobilidade se transforma em algo dolorido e gelado, que nos atormenta sem dar vazão às saídas mais benéficas e satisfatórias.

Esta repetição anual e sazonal apenas nos comprova que estamos presos a um esquema mental pouco sadio e que nos permitimos ser atraídos por relacionamentos superficiais com pessoas egoístas, frias e narcisistas (quando nós próprios não formos estes…) que chamamos de amigos, ou pior: “best friends”. Seduzimo-nos pelo canto da sereia; apesar de sabermos que sereias não existem. Nem Papai Noel…

O medo de mostrarmos quem realmente somos nos leva a situações exageradamente patéticas e nos conduz a um mundo de artificialidades que se multiplicam neste período, parece que tudo soa falso mas não nos importamos: o que interessa é parecer ser. Parecer ser feliz, parecer ser amigo, aparecer ser unido, parecer estar bem, parecer termos muito dinheiro, parecer ser acolhedor. Mas na verdade: o que realmente somos? O que queremos de nós próprios?

São esquemas destrutivos da verdade e potenciais condutores da falsa alegria, falsa identidade, que apenas nos induz a maneira como gostaríamos de ser e não nos livra de fantasiarmos nas trapaças que nossa mente nos prega. Infelizmente o comando desta mente é nosso e deixamos nos levar, como se não tivéssemos controle de absolutamente nada: somos seres sem controle, fingindo ser felizes, durante grande parte destas festas. Muitos sorrisos e frases de autoajuda serão disparadas pelos “Instagrans” da Vida.

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MAS SEMPRE SERÁ UMA DESPEDIDA?

AH, A DESPEDIDA…

SER DIFERENTE

Percebo que apontei para os casos mais recorrentes e mais fáceis de serem percebidos, mas vale aí, também, os convites para as festas, os convites para os amigos secretos e as trocas de presentes entre os “amigos”. Prefiro não comentar. Deixo a critério dos meus amigos leitores a interpretação destes convites e, talvez mais sério: aceitá-los. Porque sempre me pego pensando quanto sou permissivo me iludindo com estas oportunidades não convencionais e muito demonstrativa do vazio interior dos participantes: muitas vezes aceitamos para fazer parte do grupo, para não desfazer do convite ou para não ser ofensivo. Desta forma vamos para o sacrifício de maneira consciente e não temos do que nos queixar, posteriormente.

Decididamente não me atrai esta época do ano. Mesmo porque comemora-se tudo menos o nascimento do menino Deus, que passará mais um ano sem ser lembrado. Haverá muitos atrativos que deixarão ideias de uma festa cristã, apesar de ser um momento bastante pagão. Sou muito chato? Sim, este sou eu. Este é meu ponto de vista e é assim que penso e vivo. Não vou me iludir nem me subverter para agradar um grupo de desavisados. E sigamos rumo ao Natal.(Foto: comunhao.com.br)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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