O Belo e a La Bella são a razão desta crônica. O querido Wesley Dyogho me presenteou, em 14 de junho, com uma foto do Edital No. 15/2021 da Escola Bolshoi de Dança em Joinville – SC, no qual constava que ele fora aprovado para Dança Clássica.
O Belo, ele. A Bella, a Academia de Dança La Bella Arte onde ele estudou nos últimos cinco anos e que vê a dança como “arte que transforma”. Bem isso.
O Belo e a la Bella se misturam. O belo clássico, na arte grega, tinha como base um ideal de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça. Para alguns, a beleza não se explica, mas fala aos nossos sentidos e ao nosso coração. Para Santo Agostinho, uma criatura é bela só pelo fato de ser ou existir.
A dança, como proposta de vida, o Wesley começou a perceber aos seis anos. Sua avó materna – minha sempre querida Sirlei – era voluntária na Associação Socioeducacional Casa da Fonte, que tem como mantenedora a Companhia Saneamento de Jundiaí – CSJ. Foi com a avó ao projeto e se deteve, conforme me contou, no salão onde acontecia a aula de ginástica artística da professora Tânia Cristina Coelho Vaccari. Encantado, perguntou o que era aquilo e desejou de imediato se integrar. Um pouco mais tarde, da ginástica quis a dança e foi paras as aulas de jazz da Profa. Jéssica Carolina. As primeiras vezes que pisou no palco do Polytheama foi com a Casa da Fonte e notou que o palco seria seu caminho.
Criança ainda, agora com 15 anos, estava além. A professora Jéssica o encaminhou a La Bella Arte – Escola de Dança. Além da bolsa integral, deram-lhe a estrutura completa para que se tornasse bailarino. É escola de dança que enxerga além de suas paredes para investir em valores que, comumente, a sociedade ignora.
Na La Bella Arte, passou pelo Jazz, Contemporâneo, Clássico. Aprimorou-se no balé clássico. O Jazz é mais solto, mas o balé clássico considera lindo tecnicamente e artisticamente e exige disciplina e foco. “Aquece o coração – me diz ele. E quero seguir carreira como bailarino para seguir meu coração”. O Belo e a La Bella!!!
No Bolshoi, na segunda semana de junho, acompanhado pela professora Lisiane Pandini da La Bella Arte, fez aulas sob a observação dos profissionais para analisarem a performance. Considera interessante que, de onde estava hospedado até o local, as pernas tremiam, mas ao chegar lá,acalmava. Imaginou que seria uma experiência incrível, contudo foi além com uma vaga garantida. Até então, tinha o olhar voltado para uma outra escola na Suíça.
Gostou muito de Joinville pela energia que transmite como cidade da dança, desde as placas. Tudo aquece o coração, de acordo com ele. Sentiu-se bem acolhido e não houve rivalidade com outros bailarinos.
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Deixar a casa, a cidade, a escola de dança é doloroso, contudo é seu futuro, como reconhece. Consciente de que a disciplina é rígida e que conta também o desempenho no Ensino Médio. Ficam alojados em famílias acolhedoras, remuneradas, com mãe social. Serão cinco anos de curso, pois foi aprovado para o quarto ano. Depois poderá integrar a Companhia de Dança do Bolshoi ou buscar os seus próprios caminhos. No momento anseia por uma carreira internacional. Seus olhos brilham ao falar do Royal Ballet de Londres e justifica que é pelo método.
Cresceu em tamanho, firmeza, serenidade e é de gentileza ímpar no trato com as pessoas. Determinado e conhecedor de seu potencial, inúmeras vezes, ao lhe questionar sobre a razão disso ou daquilo, me respondeu: “Aquece o coração”. Creio que quem busca aquilo que aquece o coração e esse calor acaba por transbordar em seus dons, sem dúvida faz a diferença. Haverá de brilhar nos palcos do mundo!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.
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