O primeiro FEMINICÍDIO em Jundiaí

O PRIMEIRO

No dia 25 de novembro, comemorou-se o Dia Internacional da Não Violência Contra Mulheres. Tudo bem, há dias destacados para muitas coisas, sendo válidos pelo objetivo de chamar a atenção sobre o assunto, principalmente dos legisladores. Aproveito a passagem da data para escrever sobre, talvez, o primeiro feminicídio em Jundiaí.

Não é um assunto agradável, mas faz parte da história da cidade. Em 2020, o ocorrido completará 120 anos, sendo ainda comentado pela fama que a própria vítima conquistou. Não foi fácil conseguir informações sobre o assunto porque, no século XIX, Jundiaí não possuía profissionais que registrassem acontecimentos para a posteridade.

Depois de muito pesquisar, consegui informações no jornal “O Estado de São Paulo”, datado de 17 de julho de 1900. Diz a reportagem do Estadão : “Crime hediondo na cidade de Jundiaí. A população está abalada. Emílio Lourenço matou a mulher, Maria Polito(foto), com 18 facadas.

Na delegacia, o assassino contou que se casara com Maria Polito, no civil, no dia 21 de junho de 1900, na cidade de São Paulo, onde moravam. Como o casamente religioso só aconteceria 10 dias depois, cada um ficou morando na casa de seus pais.

Disse que, nesse período, procurara por Maria várias vezes em sua casa e não a encontrara. Teve a ideia de que ela o traía. Quando a encontrou, convidou-a para um passeio em Jundiaí, cidade que já tinha visitado.

Ela o acompanhou ao passeio e pegaram o trem para Jundiaí. Levou-a para passear na Estrada Velha de Campinas, compraram doces e refrigerantes, ela estava feliz. Ele procurou um lugar ermo atrás do Cemitério Municipal* e sentaram para conversar.

Ele já tinha a intenção de assassiná-la. Conforme iam conversando, foi tomado por um “espírito do mal”, tirou uma faca da sacola e desferiu-lhe 18 golpes no rosto, no pescoço e colo. Ela implorou piedade, mas o “espírito do mal” não deixou que ele parasse. A lâmina quebrou e, mesmo assim, continuou com os golpes.

A reportagem continua: “O aspecto do cadáver na capela do cemitério era doloroso de se ver, as mãos estavam crispadas e cheias de sangue. Os olhos e a boca abertos mostravam terror. A população de Jundiaí ficou abalada. O enterro foi ontem na quadra 1, túmulo 668, no Cemitério Municipal”.

Na época, Jundiaí tinha poucos habitantes e a notícia se espalhou rápido. Ao enterro, 90% da população, condoída pelo bárbaro assassinato da moça de 19 anos, compareceu. Ele foi condenado a 10 anos de prisão.

Assim, Maria Polito tornou-se a primeira vítima de feminicídio em Jundiaí. Seu corpo foi enterrado em cova rasa mas a peregrinação – dos moradores locais e das cidades vizinhas – fez com que lhe fosse erguida uma capela.

No jornal “A Comarca”, que circulava em Jundiaí, de 27 de março de 1927, consta a publicação de uma campanha visando arrecadar fundos para essa construção. Consta, ainda, ter sido celebrada uma missa no túmulo-capela e que teve uma multidão assistindo o ofício religioso.

Durante o dia, o túmulo foi visitado e a quantidade de velas foi calculada em 4 mil. A foto colocada ao fundo é chocante, mostra a vítima com o braço erguido, implorando que o assassino parasse de esfaqueá-la.

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Ainda hoje, esse túmulo-capela é muito visitado; atribuem à Maria Polito a concessão de milagres e levam-lhe flores para agradecer. Depois do túmulo do Dr. Domingos Anastasio, a quem também atribuem milagres, é o mais visitado.

Coordenei um livro denominado “Lembranças Fantásticas” onde há relatos que resgatam memórias de figuras simples da cidade que deixaram lembranças mas não estão na história oficial.Nesse livro há um relato sobre o Dr. Domingos Anastasio, um sobre Maria Polito, algo sobre a Maria dos Pacotes e outros também muito interessantes.

*O Cemitério Municipal é, hoje, o Cemitério Nossa Senhora do Desterro. (Foto principal: acervo professor Maurício Ferreira/Sebo Jundiaí).


JÚLIA FERNANDES HEIMANN

É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU

 


 

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