Neste início de ano, disse-me uma amiga tristonha: “Os primeiros dias estão sendo de ócio!”. Perguntei-lhe: “Ócio ou improdutividade?” Tendo ela respondido: “É a mesma coisa, estou me sentindo inútil, improdutiva, ociosa”…
Após essa resposta, resolvi aproveitar e escrever algo sobre o assunto. Vamos verificar, então, se estamos ociosos ou improdutivos.
Considerando que o ócio, no sentido vulgar do termo e na linguagem coloquial, tem conotação negativa de preguiça e indolência, a resposta da amiga está correta.
Mas, na sociologia e na literatura, o termo ócio é empregado em outro sentido. Por exemplo: tempo livre entre atividades estressantes, tanto físicas quanto mentais, como trabalho ou estudo. Empresas de grande porte já usam intervalos para descanso dos funcionários e verificaram que a produção melhora; antes de exames, como o Enem e vestibulares, professores ministram aulas descontraídas e lúdicas para aliviar a tensão dos alunos. É consabido que o excesso de atividades desajusta o equilíbrio, ficando prejudicada a produtividade e o raciocínio; daí a necessidade de uma pausa – o ócio – para abstraí-los da pressão emocional.
E assim, com a redução das tensões físicas e mentais, poderá surgir o ócio criativo. É, nesse momento, que surgem ideias para escrever textos, compor poesias e músicas, criar pensamentos positivos e, até, o surgimento de grandiosas obras de arte.
A pausa é a trégua entre hiperatividades. Poderá ser usada para olhar as nuvens, o mar, o voo dos pássaros, as flores, ler um livro, olhar as cores de uma borboleta, admirar uma queda de água ou apreciar outras criações da natureza. Mas isso poderá ser interpretado, por alguns, como inutilidade e perda de tempo precioso!
Que lucro terá ou em que estará contribuindo com a evolução humana quem pratica a pareidolia? Alguns profissionais da área de saúde mental dizem que isso é escapismo, pois ela não tem função lucrativa e tudo que não tem função de lucro é obsoleto e inútil, pensam alguns.
No entanto, outros olhares veem esses momentos muito produtivos. Parar à beira de uma estrada e ver o movimento desenfreado dos que vão e vêm na busca de algo é, no mínimo, ociosidade observativa, contemplativa e reflexiva!
É nesses momentos que se percebe a utilidade do “não fazer nada”. Talvez seja difícil de entender, poisprecisa ser vivenciado.
Será inútil mostrar o valor do ócio para a modernidade ansiosa por tecnologia de ponta, em franca evolução, tanto para o bem quanto para o mal, a tacocracia impera!
Esse “tempo perdido”, olhando as nuvens e exercitando a pareidolia, poderia ser empregado no estudo de uma tecnologia capaz de acelerar a comunicação, de criar novas vacinas, de coibir a invasão de hackers em redes sociais ou órgãos públicos e outras utilidades humanísticas.
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Muitos até pensariam em criar novas armas, mais leves e precisas para ajudar a polícia no combate aos bandidos; a inventar algo para exterminar inimigos perigosos; algo para evitar a morte dos mais abastados e inteligentes, fazendo, assim, uma sociedade mais igualitária e, claro, outros empreendimentos para melhorar a vida dos seres humanos.
Há, no taoismo, um conceito chamado Wu Wei, isto é: não ação; isso significa que é a melhor maneira de se enfrentar uma situação, especialmente se for conflituosa. Deixar o território do ego inerte e colocar nosso ser em comunhão com o Universo. A técnica Wu Wei do taoismo é semelhante ao ócio reflexivo.
Então, neste início de ano, desejemos mais momentos de ócio criativo em nossas vidas, mais alegria de viver e mais tempo para apreciar a natureza! Pratiquemos o conceito do taoismo! Valerá a pena!(Foto: www.menslife.com)

JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence à Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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