No último domingo(24), a jornalista jundiaiense Paula Pereira(foto) – que mora em Odessa, na Ucrânia – divulgou nas redes sociais que ela e o marido estavam avaliando a possibilidade de abandonar a cidade. Um dia antes, Odessa fora bombardeada pelos russos. Agora, Paula publicou um artigo no qual revela que realmente irá fugir com o marido. No texto, ela explica que não conseguirá levar os parentes. Leia:
O sonho da fuga em família
Organizar viagem em família sempre tem seus desafios: é preciso haver um consenso sobre qual vai ser o destino final, a melhor data de partida, de volta, o que levar, quanto tempo ficar, etc. Às vezes a confusão é tanta que a viagem mal começa e já termina em briga e chateação. E se viajar para curtir as férias é assim, quando todo mundo já está com os nervos à flor da pele não poderia ser diferente. A família também discorda e briga na hora de escapar da guerra. Não que exista qualquer lugar na Ucrânia livre de ameaças neste momento, mas certamente há cidades que, ao contrário de Odessa, não foram incluídas na “lista de desejos” do Putin.
Quando recebemos a informação de que a Rússia tentaria controlar toda a região Sul da Ucrânia, imediatamente pensei que ela não tardaria em atacar a cidade e que talvez fosse melhor partirmos, ainda que temporariamente. Não deu outra: um dia após o “anúncio”, um dos mísseis lançados atingiu um prédio residencial de Odessa gerando vítimas fatais; entre elas uma avó, uma mãe e sua bebê de apenas três meses.
Difícil mensurar o risco que cada um está disposto a correr e quais as medidas necessárias para “se proteger”. Acho que ninguém cogita tão rapidamente abandonar a sua própria casa quando começa uma tempestade devido ao risco de uma enchente, assim como os moradores do Capão Redondo não deixam tudo para trás apesar do alto nível de criminalidade. As pessoas continuam vivendo e se adaptando da forma como podem, como julgam melhor, mas há um limite para cada um de nós.
Não sabemos quando a guerra vai acabar. Muitos dizem que a Rússia vai tentar “abocanhar” o máximo que puder da Ucrânia até o dia 9 de maio – data simbólica conhecida como “Dia da Vitória” que marca a derrota nazista pela União Soviética. Dizem também que possivelmente, após esta data, Rússia e Ucrânia partam de fato para alguma negociação de cessar-fogo. “Quem garante?” Ninguém. “O que fazer enquanto isso?”. Não há consenso.
Eu sinto que falhei quando não levei a sério as ameaças da Rússia. Acreditei seriamente que os exercícios militares eram apenas uma “pressão” que Putin fazia sobre a Ucrânia e que um acordo diplomático seria feito. Você sabe, acreditei naquela coisa de “gente civilizada”… me enganei e aprendi minha lição: as ameaças da Rússia devem ser levadas a sério. Mas, agora, o que a população de Odessa deve fazer diante desta nova ameaça? Qual a melhor saída para cerca de um milhão de pessoas que vivem aqui? Correr? Esperar para ver e torcer pelo melhor? Correr para onde? Mais uma vez, não há certo ou errado.
Eu e Sergei havíamos tomado a decisão de partir e no final de semana nos reunimos com a família dele para ver se todos estariam de acordo em partirmos, quiçá, juntos. Ah, mas cada um tem suas razões… e, às vezes, a “razão de um” é o que segura todo mundo. As pessoas de mais idade – cá entre nós e com todo o respeito – podem ser as mais teimosas ou “determinadas”. Algumas não querem abandonar a casa porque ela representa tudo o que adquiriram na vida, não querem abandonar os netos, não querem encarar o desconhecido, não querem abandonar cidade onde nasceram e assim vão ficando.
A saúde dessas pessoas também não ajuda. Com a audição já prejudicada, o coração fraco e com o caminhar mais lento e cuidadoso, não é qualquer idoso que topa abandonar a (falsa) segurança do lar. Além disso, nesta idade eles precisam de ajuda até para as coisas mais simples, como comprar mantimentos, remédios e acompanhamento em consultas médicas, sem mencionar a necessidade óbvia de “companhia”. Como resolver isso? Por um lado, queremos levá-los porque parece ser a decisão mais sábia, por outro, há o desejo de respeitarmos suas decisões… Ou será que quando a gente envelhece a gente tem que fazer o que os filhos mandam?
E assim os avós do Sergei decidiram ficar…. tal como a mãe e o tio; que são quem se comprometeram a cuidar dos pais, custe o que custar. Partir em família, infelizmente, é um desejo nosso que não será realizado.
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