PAI, seu sobrenome é saudade…

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Existem poucas músicas que retratam a dor da perda de um pai sem ser piegas. ‘Naquela Mesa’, escrita por Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolim, mostra a tristeza de se deparar com uma mesa num canto, uma casa e um jardim, após a partida do músico. Afinal, era naquela mesa que Jacob se sentava e falava para o filho o que é viver melhor. Ali, ele juntava gente para contar o que fez de manhã. Jacob se foi, o compositor ficou com a mesa na sala e pararam de falar da magia do bandolim de seu pai. Restou a dor ao ver a mesa no canto, a casa e o jardim. Cedo ou tarde todo mundo terá a sua própria mesa vazia. É a vida.

O Jundiaí Agora convidou a jornalista Tatiana Fávaro, o juiz Filipe Levada, a professora Maria Cristina Castilho de Andrade e o educador Fernando Leme do Prado, para escreverem sobre seus pais e como enfrentam a mesa vazia deixada por eles. Tatiana é filha do também jornalista Pedrinho Fávaro, que morreu no final de junho. Filipe é filho do desembargador Cláudio Levada, falecido em setembro de 2021. Ele escreveu o texto com os seis irmãos. Cristina, colaboradora do Jundiaí Agora, é filha de João Castilho de Andrade, que foi condecorado “Herói Jundiaiense na Revolução de 1932”. Fernando, também colaborador do JA, é filho do professor e cronista José Leme do Prado Filho. Confira:

Quando me pediram pra escrever sobre a falta que você faz fiquei com medo de não dar conta. Ainda é muito recente e você faz tanta falta que não consigo falar de você na terceira pessoa. É tu. Não consegui ver nossas fotos, ouvir nossos áudios, ler nossas mensagens. Eu ainda estou aqui, meio paralisada, esperando o Whatsapp me avisar que tem mensagem sua.

Ou você ligar cedinho pra, mesmo cada um numa cidade, dividirmos uma xícara de café. Há quem chame isso de negação, uma das fases do luto. Eu ainda não encontrei nome e, por recomendação terapêutica, tô permitindo só sentir. Acontece que as sensações e emoções vêm em ondas. Quando acho que tô melhor, tomo um caldo. Aí lembro da gente no mar, na praia, à mesa do almoço de domingo e sinto sua presença. Eu preciso entender que você não tá aqui. Mas você tá em todo canto, a todo momento. E eu só queria te abraçar ou sentir a veia bailarina da tua mão. Tatiana Fávaro

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Do meu pai, saudade – João Castilho de Andrade, conhecido como Joanico, que saudade imensa! Convivemos durante 33 anos, mas foi tal a estreiteza de ternura e dos conselhos sábios, que permanecem comigo.

Casou-se aos 48 anos, após os anjos virem buscar minha avó. Estava com 50, quando nasceu meu irmão e 55, no meu nascimento. Fomos festa.

Sinto falta dele todos os dias. Gostava de música, poesia e de gente. Era da paz e de coração com delicadeza. Declamava e, dentre os poemas, os de Martins Fontes, em especial, o que termina assim: Cotovias do amor cantai nas ramas/pois quem ama como nós amamos/tem por certo violetas dentro d’alma. Assoprava para longe os meus medos.

Faz-me tanta falta, em meio a outras, a sua carícia de pétalas de violeta, em especial nos dias embrutecidos! Maria Cristina Castilho de Andrade

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Seus Seis e a sua falta – Somos seus seis e você faz muita falta. Falta nos momentos felizes, no extraordinário, na elevação dos pensamentos e na intensidade dos sentimentos; no sorriso fácil e na gargalhada que tomava todo o espaço. No abraço forte, nas palavras doces e nos olhares que diziam sem precisar falar. Falta nas gargalhadas dos netos ao te verem. Falta você à mesa, devorando a vida. Você faz falta.

Como nos falta chegar à casa e ouvir que tinha algo para buscar. Quão deslumbrante o trajeto com música alta e risadas, chegando ao destino, qualquer que fosse – o espetáculo continuava com todos brincando com você feito amigos de infância.

Sua presença era sempre ansiosamente esperada nas festas de família. Você surgia como uma pessoa normal, retirava os óculos e cumprimentava gentilmente a todos até a sua primeira alta gargalhada ressoar em todo espaço e frestas, preenchendo-os com sua imensa energia, um Big Bang particular.

Com você, as conquistas tinham um sabor a mais. Se havia uma boa nova, você multiplicava o acontecimento e assim ele jamais era esquecido, era tatuagem na alma.

Não há dúvidas de que você, Pai, estará nas conquistas, casamentos, nascimento de netos e bisnetos, graduações e brindes espalhafatosos. Mas fará falta. Falta nos vinhos de domingo, na água gelada, nas idas à feira, no som alto, na água para os beija-flores, nos exageros, no abraço.

É na rotina que vemos a completude da sua inexpugnável falta, em que uma simples folha em branco vira saudade por não se tornar sua agenda diária escrita à mão. Até mesmo uma simples volta de carro vira saudade quando não temos à nossa disposição uma variedade de garrafas de água gelada.

Você faz falta nas respostas pendentes de perguntas que nem sequer sabemos realizar. Também faz falta nas verdades que desmentem mentiras que nos assombram ao cogitar a ideia de errar. E é nessa falta que vemos como você foi Tudo. Um grande e imenso Pai. 

Porque você existiu, e existe, é que somos Seus Seis. E te amamos e te amaremos, a cada Dia dos Pais e sempre. Para sempre. Um beijo e até, Papai. Filipe Antônio Marchi Levada, Liliana Maria Marchi Levada Betioli, Fábio Henrique Mölk Marchi Levada, Tatiana Maria Marchi Levada, Nicolas Antônio Andreaça Levada, Igor Antônio Andreaça Levada

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De pai para filho – Meu pai, José Leme do Prado Filho, seria centenário se não tivesse nos deixado tão cedo. Sem muita escolaridade formal foi graças ao seu autodidatismo que se tornou um professor respeitado. Agraciado com o título de cidadão jundiaiense amava a cidade na qual viveu desde solteiro. Aqui se casou e aqui nasceram seus três filhos. Diretor do também centenário “Ginásio Rosa” foi um exemplo de participação comunitária. Escreveu por muitos anos suas crônicas diárias com uma habilidade rara de publicar passando a sensação de que estava conversando. Sou professor influenciado por ele e pela tradição da família Leme do Prado que tem no magistério sua marca. Continuo tentando manter, sem a mesma competência de encantar o leitor, a tradição de escrever. Este é um legado que não se extingue. Fernando Leme do Prado(Ilustração gerada por IA Canva)

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