PERDER E GANHAR

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Será que temos ideia das movimentações da nossa Vida? Fico sempre atento para entender se minhas ações são concretamente assertivas e proveitosas ou se vacilo em instantes que deveria ser mais contundente: isto me permite ter uma leitura clara e explícita do perder e ganhar, em qualquer que seja o significado da palavra.

Ser assertivo e atingir aos objetivos que nos propomos não é das tarefas da Vida a mais fácil: a busca pela execução de nossos deveres e de nossos prazeres sempre é algo inusitado, com sabores e texturas que nos levam ao êxtase ou a mortificação, por trazer um gostinho de ganhar ou perder. Mas, enfim, o que tanto ganhamos ou perdemos em nossa trajetória? Quando estamos mais propícios à vitória e à derrota? Como sentimos isto?

Vejo como coisas distintas o entender e o sentir. Nem sempre entendemos o que sentimos e nem sempre sentimos tudo aquilo que entendemos. São funções diferentes e desta forma é bem razoável que este desencontro de interpretação aconteça. Aprofundando a questão, esta razoabilidade se faz presente porque nem sempre tentamos nos conhecer melhor e, muitas vezes negligenciamos nossos próprios sentimentos.

O ganhar é uma sensação prazerosa que nos fortalece e nos imprime certa resistência emocional. Quando estamos lidando com uma situação favorável somos invadidos por uma onde de oxitocina e dopamina, que nos leva a mais empenho e mais investida naquilo que nos faz bem. Somos gratificados fisiologicamente por nosso sistema endócrino que nos nutre de neurotransmissores que circulam em nosso corpo, ampliando as sensações agradáveis e estimuladoras de novas propostas saudáveis.

Da mesma maneira, o perder nos marca e desestimula novas investidas. O sistema regulador interno vai se moldando a cada nova experiencia e arquivando as experiencias positivas e as pouco positivas, garantindo que, por modelagem, ensaiemos a cada dia aquelas atitudes que nos façam felizes. Podemos pensar na aprendizagem significativa, quando repetimos com êxito tudo o que nos traz prazer e faz bem, tudo o que ganhamos. E o inverso é verdadeiro e real: fugimos de propostas dolorosas e desagradáveis, onde tivemos vivencias que nos trouxeram medo, constrangimento, vergonha e dúvida. Inteligentemente vamos montando nossa memória emocional e tendo bem nítido o que ganhamos e o que perdemos.

Assim vivemos, numa crescente coleta de informações que nos direcionam e nos impulsionam para todas as atividades da vida: nas relações interpessoais, nas relações amorosas, nas relações parentais, enfim. Marcamos cada etapa vivida por este mapa emocional que nos permite repetir aquilo que nos fez bem e afugenta-nos daquilo que nos machucou. Ainda que vacilemos, temos o mapa a seguir.

A cada investida realizada, de maneira pontual e assertiva, estamos demarcando um território alheio, o que nos leva a sermos responsáveis pelos que nos circundam: alteramos nosso contexto com nossas ações e nossas entregas: a transparência e a lealdade edificam relações que tendem a seguir sadias e concretas. A maturidade deveria nos presentear com situações como estas, mas não é bem o que temos visto atualmente.

Diante da fugacidade dos meios de comunicação, onde todo mundo é amigo e todo mundo é parceiro, percebemos crescer o numero de “amizades” e de “parcerias” de laços frágeis e equivocados. Numa sociedade que busca fugir dos relacionamentos sólidos para viver as grandes aventuras, percebemos cada dia mais as relações de aproximação com fins lucrativos e interesseiros, sem um laço afetivo real, engrossando a turma dos “bróders” e dos “parças” sem um compromisso emocional, de fato.

Mas o perder tem outras marcas e outros desenvolvimentos: perder pode surgir naquela amizade onde se investiu tempo, segurança, afetos e confiança e, de repente, se percebe que a troca de emoções foi num único sentido. O outro apenas armazenou e não retribuiu, na altura, por uma ou outra razão. A perda se dá de maneira unilateral e é muito sofrida, deixando marcas e desconfianças perceptíveis e bastante duradouras.

Pode acontecer, também, de acontecerem pequenos deslizes de uma das partes e colocar em risco todo o relacionamento, que se desmoronará sem chances de ser resgatado e reedificado, uma vez que algumas pessoas são inflexíveis diante da traição e das mentiras contínuas ou de vacilos constantes que apontam para uma fragilidade emocional de difícil composição, para uma vida conjunta.

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O ganhar e o perder são valores: algumas pessoas investem em suas relações como os tesouros que foram polindo e guardando a sete chaves, enquanto outros se dizem amigos de todos e vivem numa profusão de palavreados e ações pouco sinceras e pouco fortalecidas. Diante desta situação, cabe a cada um de nós, que está no “baile da Vida”, manter os olhos atentos para não cair em ciladas e nem colocar em ciladas aqueles que nos circundam e compõem nosso contexto social.

Ao mesmo tempo que o ganhar nos faz sentirmos fortes e vigorosos, a cada derrota nos sentimos violados e ultrajados: cada ganho é uma conquista e cada perda é uma derrocada que precisa ser trabalhada e ressignificada, de modo a passar a doer menos e a ter valores revistos. É uma eterna lição para a vida, viver entre o ganhar e o perder, entretanto é uma possibilidade de aprender a valorizar nossas relações e nossas possibilidades de sermos e fazermos alguém feliz.(Foto: Bastian Riccardi/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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