Muita gente não sabe, mas antes de ser Promotor de Justiça, tive outros trabalhos e experiências desde os 12 anos de idade, sendo um deles de Delegado de Polícia, que me rendeu muita experiência, coragem e casos interessantes. Hoje não vou falar sobre o meio ambiente, para contar uma história do plantão policial que reputo interessante para demonstrar a dificuldade do trabalho de todos os policiais e outras inúmeras carreiras públicas, todos os dias. Às vezes, quando paro para refletir sobre minha trajetória no serviço público, uma noite em especial me vem à memória com força: a véspera e o Natal de 1991.
Eu tinha apenas 23 anos. Jovem, mas já com alguns meses de polícia nas costas e um senso de responsabilidade que parecia sempre pesar um pouco mais a cada plantão. Naquele dezembro, o destino me colocou de plantão na Delegacia de Polícia da Vila Maria, em São Paulo. Estava longe da minha família, dos meus pais e irmãos, dos cheiros e vozes que aquecem o coração em datas como essa. Fiquei sozinho, encarregado da noite e do dia seguinte, enquanto a cidade cintilava de luzes e as casas se enchiam de abraços.
Na madrugada daquele Natal, o rádio chamou. Havia um corpo numa obra. Um operário fora morto a pauladas. Um crime brutal, seco e triste. Desloquei-me com a equipe até o local, que era uma construção em andamento, rodeada de entulho e solidão. A cena era de desolação. A vítima ainda jazia ali, sob uma lona mal colocada, enquanto os poucos colegas que restavam por perto tentavam entender o que havia acontecido.
Começamos os trabalhos. A rotina fria da investigação se sobrepõe a qualquer emoção — mesmo quando é Natal. Aos poucos, as peças foram se encaixando. O autor era um companheiro de trabalho da vítima. Tinham passado a noite bebendo, talvez tentando anestesiar um pouco da ausência de seus próprios Natais. A discussão começou por motivos banais, inflamada pelo álcool e, no impulso cego, terminou em tragédia. Dois homens simples, trabalhadores. Um perdeu a vida, o outro a liberdade. E eu, mais uma vez, perdi um pouco da minha inocência e ganhei mais experiência.
É impossível não lembrar desse episódio sem refletir sobre o que é a vida pública no Brasil. Ser Delegado de Polícia – e depois Promotor de Justiça – nunca foi tarefa fácil. A realidade que enfrentamos nas delegacias é dura. Faltam recursos, faltam condições mínimas, muitas vezes falta até o respeito que a função merece. A aprovação nos concursos é difícil, exige anos de estudo, renúncia e desgaste. Mas é no exercício da profissão que vêm os maiores desafios: lidar com a dor alheia, com a frustração do sistema, com a lentidão da justiça, com a violência urbana, e, sobretudo, com a responsabilidade de não errar.
Naquele plantão de Natal, aprendi que a farda ou o paletó do servidor público não protege de sentimentos. A solidão bate como em qualquer outra profissão, mas pesa mais quando se carrega uma arma na cintura ou um processo cheio de dores nas mãos. Ainda assim, seguimos. Porque acreditamos — ou pelo menos queremos acreditar — que nossa função tem um propósito maior.
Hoje, quando olho para trás, entendo que aquele jovem Delegado de Polícia na Vila Maria, sozinho na noite mais simbólica do ano, se tornou Promotor de Justiça por outros 30 anos e agora advogado e professor, por conta de inúmeras experiências, inclusive essa narrada. A realidade nua e crua que vivi ali moldou minha visão sobre justiça, sobre humanidade, sobre serviço público e a importância de compartilhar o saber.
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A vida seguiu. A dor da família da vítima ficou, como tantas outras. E eu, mesmo com todas as adversidades, continuei escolhendo servir. Porque, apesar de tudo, ainda acredito que a justiça pode — e deve — fazer a diferença na vida das pessoas e muitas carreiras são importantes para alcançar esse objetivo. (Texto e fotos produzidos com ajuda do Chatgpt a partir dos critérios estabelecidos sobre uma história real).

CLAUDEMIR BATTAGLINI
Promotor de Justiça (inativo), Especialista em Direito Ambiental, Professor Universitário, Consultor Ambiental e Advogado. Presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB Subseção Jundiaí e Vice-presidente do COMDEMA Jundiaí 2023/2025. E-mail: battaglini.c7@gmail.com
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