POSIÇÕES E PENSAMENTOS. Individuais ou coletivos?

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Numa reta de caminhada, nem sempre reta, mas endereçada à frente, nossas relações avançam, firmes e fortes (nem sempre tão firmes e nem sempre tão fortes), buscando uma existência saudável e suave. Diante de tantas alterações e desconfortos, em alguns momentos somos levados a partilhar nossas posições e nossos pensamentos com amigos, o que é muito adequado, pois teremos balizadores de nossas opiniões, porém, não podemos afastar a possibilidade de procurar ajuda profissional.

Nem sempre conseguimos perceber todo o horizonte e nem dar conta de toda demanda, sem uma ajuda capacitada, então o auxílio de um profissional da Psicologia nos possibilita ter mais responsabilidade em nossas investigações e nossas reflexões sobre assuntos que, no par afetivo, não temos uma ampla visão do nosso contexto.

A dificuldade de iniciar ou de manter uma conversa é um sinal de que uma terapia pode ajudar na comunicação; ao menos pode facilitar a compreensão e a retomada aos planos em conjunto, em especial quando há o interesse de ambas partes. A terapia é um divisor de águas, quando se pensa no fortalecimento de relacionamentos, pois a perspectiva de ter um direcionamento e uma pessoa mediando conflitos é algo tremendamente saudável para a saúde mental.

Muitas vezes, pelo desgaste ou cansaço, as pessoas acabam desistindo de conversar por acabarem sempre nas mesmas discussões e se desencorajando na continuidade, de modo a pensar que nada vai mudar e que a solução não existe. Vale lembrar que os membros da relação precisam perceber suas próprias histórias e a história do outro. O fato de apresentar-se como se é de verdade é um grande início na (re)aproximação das pessoas.

Sim, concordo que os detalhes do passado sejam importantes, mas é preciso ter em mente que somos mais do que a soma das nossas experiências e que as transformações são constantes e frequentes em nossas Vidas, o que sugere que cada um de nós vive num processo de grande alteração, diariamente: ai reside a chance de acertos.

Então, conversar sem amarras e sem preconceitos facilita a existência humana. Ouvir o outro e oferecer apoio, além de indicar ajuda profissional, caso seja necessário, é algo que faz parte da amizade, no mínimo. Construir caminhos seguros e junto com quem nos faça bem, com propostas conjuntas e propostas individuais, é parte do ritual; seria estranho se fosse diferente. Mas o que faz a convivência ser algo difícil? O que faz a convivência ser complexa demais? Será que é o não saber dividir ou o não respeitar as posições do outro?

Neste momento da reflexão, sou levado a repensar na empatia, que todos dizemos desenvolver, cada um a seu modo e cada um se entendendo como um verdadeiro apóstolo da paz, ainda que não consiga olhar para nada que não seja o próprio umbigo. Ser empático me conduz a compreender e a colaborar com o crescimento alheio, não sem antes compreender e colaborar comigo próprio.

O primeiro ato de entrega começa na entrega minha comigo; não haverá entrega a ninguém sem que aconteça a entrega minha, para mim. A disponibilidade com que me analiso, com que me construo e me entrego na minha reedificação dirá muito diante daquilo que esboçarei como entrega ao outro. Impossível amar alguém sem se amar, que isso se bem entendido. Daí, percebemos que somos mentirosos, que boicotamos nossos planos de Vida e que gostamos de ser vistos como o ser empático que ajuda todo mundo e que está sempre disponível, mesmo que isso seja apenas uma máscara.

Viver esse personagem do bem faz bem a alguns, claro. Mas um dia a máscara cai e, neste dia, a situação será caótica: os conflitos interiores terão se avantajado, as tensões internas serão insuportáveis, as dores psíquicas estarão latejando e o caminho de volta à essência será muito mais árduo. Será o momento em que pagaremos a dívida que contraímos conosco: uma dívida de ingratidão que precisaremos repensar e quitá-la em momentos de lucidez e certeza.

Fica claro que empatia precisa ser autoaplicada antes de pensarmos em ser empáticos com os demais membros de nossa comunidade. Não se fala, aqui, da piedade nem tão pouco da caridade; tratamos da empatia e preciso me conhecer e exercitar em mim os pendores empáticos para que não cometa deslizes comigo e aplique no outro, aquilo que não tenho.

Talvez seja o momento de analisarmos que “ninguém dá o que não tem”, entretanto, que fique claro que a minha construção, que se realiza de dentro para fora e que atende ao rumo que busco dar a minha história pessoal de Vida, recebe apoio e discordância do meio externo (outros colegas, familiares, escola e emprego, parceiros, comunidades, etc) e, quando penso na construção do outro ou na possibilidade de fortalecer um par afetivo, eu sou o externo. Eu sou o outro. Sendo assim, só posso colaborar com aquilo que tenho. É obvio.

Sou levado a me apropriar de uma crônica que escrevi tempos atrás, quando me questionava: que momento nojento e difícil estamos vivendo. Ou é alienação ou escândalo, abstenção, ataque ou inércia. Onde esconderam a ponderação? Onde guardaram os argumentos? O que foi feito do raciocínio e da lógica que conduz cada ideia a um patamar razoável de clareza e exequibilidade? Como está difícil opinar, expressar a opinião e respeitar as posições alheias.

Seria gratificante o dia em que estudantes se manifestassem por estudantes, médicos por médicos e assim sucessivamente. Até chegar ao ponto de humanos se manifestarem por humanos. Mas estamos demorando para entender o processo de coisificação pelo qual estamos passando, onde não nos vemos como caminhantes de um mesmo caminho, mas estranhos no Mundo.

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Como estamos demorando para entender muita coisa que nos diz respeito, estamos correndo o risco de perder nossa essência. A essência humana. Penso que seja o preço que pagamos e pagaremos pela nossa própria ignorância ou descaso frente aos assuntos pontuais e básicos que deixamos de nos envolver, em tempo certo, pela simples vaidade de pensarmos ser diferente dos comuns. Triste “evolução” do homem.(Foto: tellfables.wordpress.com)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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