Pois é, as vezes me sinto muito estranho diante da imprevisibilidade das pessoas. Passei uma semana postando duendes, gnomos, fadinhas e demais seres que voavam o imaginário ou fantástico Mundo de alguns, sempre afirmando que havia mudado meu paradigma inicial de formação. Dizia que havia desistido da Ciência e que passava a crer no fantasioso, em especial diante da polêmica criada em torno das vacinas. E fui seguido de muitos amigos e colegas que me congratulavam e diziam crer, também, nos gnomos. Senhor, preciso desenhar?
Será que as pessoas estão tão desavisadas que não conseguem perceber o que se trata de uma brincadeira e o que é real? Será que não perceberam que todas as postagens se dirigiam ao Facebook, que me advertira, novamente, por haver satirizado as palavras do poderoso governador e do desatina ministro, que estão duelando entre si, enquanto a Covid-19 avança em passos imensamente gigantescos? Por acaso as pessoas perderam o senso de crítica social e de exatidão diante do real e do fantástico? Ou este comportamento apenas nos leva a acreditar que, atualmente, as pessoas são levadas a clicar no “curtir” sem ao menos ler o conteúdo manifestado pelo autor da postagem? Será, mesmo, que preciso desenhar?
Diante de uma semana em que muitas postagens foram retiradas de circulação por uma censura explícita e demasiada, qualquer comentário sobre vacinação, ou Covid, ou governo (em qualquer nível de governança), preconceito, racismo era pontuado como algo fora do escopo daquele veículo de relacionamento social, portanto inoportuno e desnecessário. Então, usando caminho inverso, passei a dizer de minha crença e fé nos gnomos e criaturas do meu imaginário infantil (apesar de ver muitos dos meus amigos crendo absoluta e verdadeiramente) e desfazendo dos caminhos concretos e insubstituíveis da Ciência.
Será que consegui convencer? Será que confundi a todos ou será que foram simpáticos comigo, concordando com minhas postagens camufladas de ranço e descaso com a insensatez de uma governança que não está aí com a população? Será que não perceberam minha alegoria com a empáfia do Senhor Deus, criador e distribuidor da vacina salvadora para um estado gigante e para todo cidadão que estiver neste território? Será que fui sutil demais ao desdenhar de um governante que minimiza o poder deste vírus que já ceifou milhares e milhares de vidas e que, diante deste “gripinha”, afirma que não se vacinará e ainda coloca em dúvida a potência desta ou daquela vacina, como se fosse m renomado cientista? Acho que preciso desenhar, mesmo.
Neste momento, remeto-me à questão da autonomia, que nos tem sido retirada, aos poucos, junto com nossa liberdade, uma vez que não podemos emitir nossos pensamentos nem registrar nossas indignações, sem que o Grande Irmão permita. Na verdade, o censor aparece na figura de uma rede social, que regula nosso “modus operandi” e limita nossa liberdade de expressão e, com ela, nossa autonomia como padrão de Vida. Mas não a minha…
Cresci na Ciência, estudei muito e muitas coisas aprendi. Entendo bem a diferença de espiritualidade e religiosidade, já tive oportunidade de trazer este assunto em crônicas, e respeito a fé, entendo as crenças alheias e as minhas próprias; sei da transcendência e da transmutação, como acredito em entidades e incorporações destas. O sincretismo religioso que vivemos no Brasil é um espaço inovador e desafiante do qual sou estudioso e praticante, bem como estudo, com profundidade, a Bíblia e o Evangelho segundo o Espiritismo sem procurar desvendar mistérios. Pois são mistérios e fé não se aprende nem se estuda com cartesianismo.
Também já tive oportunidade de trazer em crônica que existe o lugar para a Ciência, para a Filosofia e para a Religião, de modo que elas possam viver seus espaços sem criar atrito com os demais espaços e sem tentar ter domínio uma sobre a outra: são grandezas diferentes e como tais devem ser compreendidas e vividas, seja lá qual for nossa posição. Entretanto, muitas vezes precisamos desenhar o improvável. Como desmerecer uma grupo de cientista de renome internacional, de um instituto de reconhecimento mundial, diante de falas e insinuações imbecis e politicóides de quem não entende nem pontos cardeais? Que cilada a Vida nos propôs…
Desta vez não vou me estender. Desta vez vou apenas lamentar que terminemos um ano que mal começou e foi tomado pelo isolamento social que ajudou a muitos numa evolução pessoal e num crescimento interior, mas que bestializou, ainda mais, outros alguns, que continuam acreditando numa conspiração intergaláxica ou numa invasão alienígena, sem ao menos conhecer o fundo do seu quintal. Desdenham da Ciência, talvez por pensarem que ela, a Ciência, não é para todos, enquanto ela está aí, a serviço da humanidade e serve de branco a negros, de machos e fêmeas, de homens e mulheres, de heteros a homos, de chinos a vermelhos, de pobres a ricos, de cristãos a ateus e a umbandistas e a evangélicos e a kardecistas e a budistas e islâmicos e para todos os demais seguidores de credos diversos que a natureza humana pode seguir. É preciso desenhar isto?
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Talvez a única coisa necessária de se pontuar diante da crença na Ciência seja que ela apresenta determinadas regras a serem seguidas e, diante deste cenário, não seria diferente: ou segue e sobrevive ou não segue e extermina com parte de uma sociedade. Assim se explica a propagação do vírus e assim se apresenta a necessidade de isolamentos sociais e demais cuidados. Isso é função da Ciência e a prudência é o dever de todos. Simples, prático e eficiente. Ou será, ainda, preciso desenhar?
Na segunda-feira, gostaria de ganhar de aniversário, a possibilidade de duas doses desta abençoada vacina e mais seis meses de isolamento social, para poder ter vida longa e segura, junto com meus queridos mais queridos.Entretanto acho um presente muito valioso e muito pretensioso, em tempos tão difíceis. Só espero viver o suficiente para, na próxima eleição, poder votar no melhor e não no menos pior. Ah, sim….um Natal de equilíbrio, porque desejar feliz e seguro Natal já será pedir demais.(Foto: konica.al)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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