PULGAS E PERCEVEJOS

pulgas e percevejos

Andava pela Rua do Rosário quando vi um sujeito maltrapilho correndo com uma peça de carne nas mãos. Ele olhava para trás enquanto era seguido por um sujeito que gritava “pega ladrão, pega ladrão” e que provavelmente o alcançou. Deve ter sido preso – e seu destino terá sido um centro de detenção. Cana. Cadeia. Pulgas e percevejos.

Na primeira vez que entrei em uma penitenciária, chamou-me a atenção, dentre outras coisas, o fato de que as paredes estavam recobertas por folhas de caderno. Folhas em branco, sem nenhuma inscrição. Haviam sido coladas como se fossem um papel de parede. Mas não fazia sentido. Aquele não era um lugar dado a ornamentações.

A penitenciária era povoada por criminosos os mais diversos. Latrocida, homicida, batedor de carteira e roubador. Ninguém preocupado com decoração. Perguntei então a um preso qual a razão das folhas de caderno. Ele, muito educado, mostrou-me o porquê. “Meritíssimo, olha só o que há embaixo das folhas”.

O preso puxou uma das folhas e por debaixo delas começaram a brotar pulgas e percevejos. Eram muitos. Eles saíam por todos os poros e pareciam perguntar: “que lugar é esse?”. Esse – vejam só – é o lugar para onde iria parar o sujeito que tinha a peça de carne nas mãos.

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É errado – e crime – subtrair uma peça de carne. Contudo, mandar o furtador às pulgas e percevejos claramente não é a solução. Até porque um dia ele sairá de lá – agora não só com fome, mas também com raiva.

De vez em quando, entro nas redes sociais para acompanhar notícias de nossa região. E invariavelmente me deparo com comentários contrários ao Judiciário, que deveria – ao ver dos internautas – encarcerar todos os que cometem a menor transgressão. É necessário senso de proporção, porém. A sociedade precisa de muito mais do que a ilusão da prisão.(Foto: Thathiana Gurge/DPRJ/Agência Brasil)

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