Imagine que seu passeio de final de semana seja navegar ou praticar algum esporte náutico num dos rios que passa pela sua cidade. Imagine sentar às margens do rio para ler um livro, apreciar a paisagem, levar seu cachorro ou bebê para passear, no fim da tarde. Imagine caminhar, correr ou andar de bicicleta nas margens do rio. Esse rio é limpo, não tem mau-cheiro e suas margens são emolduradas por uma grande variedade de árvores, flores, plantas e diversas espécies de pássaros.
Parece um sonho, já que para muitos, a ideia que se tem de rio é um canal reto, poluído, malcheiroso e cercado por avenidas e prédios em suas margens ou marginais com trânsito intenso de veículos. Entretanto, muitas cidades têm buscado a reintegração de seus rios na vida urbana. Os rios urbanos fazem parte da paisagem de muitas cidades pelo mundo, garantindo bem-estar aos que desfrutam de passeios pelas suas margens.
São cenas comuns os banhos de sol nas margens do rio Sena, em Paris e noivos registrando suas fotos de casamento. A prática de esportes náuticos é corriqueira em Oxford, na Inglaterra. Em Londres, no Tamisa, que já passou por extenso trabalho de despoluição, a navegação de lazer e transporte de pessoas faz parte do dia a dia da cidade.Aqui, próximo de nós, o rio Jundiaí também tem passado por um processo de despoluição e talvez possa ser reconectado com as pessoas nas cidades por onde passa.
No processo de canalização dos rios, muitos deles foram “cobertos” e não fazem mais parte da paisagem das cidades. Na cidade de São Paulo, estima-se que entre 300 e 500 rios estejam concretados embaixo de casas, edifícios e ruas, o que corresponde a 3 mil quilômetros de cursos d’água escondidos.
Há diversos movimentos, inclusive artísticos, que buscam mostrar os “rios invisíveis”. Um exemplo é a exposição “Rios Des.Cobertos: O Resgate das Águas da Cidade”, que está em cartaz no SESC e já passou pelo de Jundiaí esse ano. Esses movimentos se baseiam na ideia de que não é possível cuidar daquilo que não vemos, não percebemos e não faz parte do nosso cotidiano.
Também por isso, o processo de descanalização dos rios está em debate atualmente nos grandes centros urbanos. Através desse processo, muitos defendem ser possível a reintegração dos rios às cidades, valorizando os aspectos paisagísticos. Essa é uma tendência em diversos países, sobretudo da Europa. Certamente, é um processo complexo, mas deve ao menos ser considerado pelos gestores urbanos.
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O exemplo mais emblemático talvez seja do rio sul-coreano Cheonggyecheon, em Seul. O projeto massivo de descanalização, restauração e revitalização do rio trouxe desenvolvimento econômico à cidade, atrai muitos turistas do mundo todo e tem impulsionado a biodiversidade local.
Esses casos ilustram a busca pela reconexão com a natureza em seu elemento de fundamental importância para a humanidade, a água.Cabe avaliar o quanto estamos dispostos a transformar o espaço urbano para conviver em harmonia com a natureza.
Para saber mais sobre o projeto do rio Cheonggyecheon: https://bit.ly/2yMlGXU
Foto – https://inhabitat.com: rio Cheonggyecheon, Seul, Coreia do Sul.
FABIANA BARBI
Socióloga, com mestrado, doutorado e pós-doutorado na área ambiental (Unicamp). Foi assessora de projetos no ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade e professora de Gestão Ambiental na Unianchieta e Faculdades Anhanguera. É autora do livro “Mudanças Climáticas e Respostas Políticas nas Cidades” (Ed. Unicamp, 2015). Acesse: www.fabianabarbi.com.br