
O trabalho “Saúde como idioma: um relato de experiência da formação para a humanização no atendimento a migrantes e refugiados”, de autoria dos professores Marília Jesus Batista(foto ao lado), Alcione Vendramin Gatti e Adriano Pires Barbosa, e alunas Gabriela Schulz Souza, Mariana Brunhara de Moraes, foi apresentado no Congresso Brasileiro de Educação Médica (Cobem) e recebeu menção honrosa pela relevância da iniciativa. A proposta nasceu de projetos de iniciação científica que identificaram a barreira da língua como um dos principais entraves para migrantes e refugiados acessarem os serviços de saúde. Para enfrentar esse desafio, um grupo de estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí(FMJ) organizou uma atividade de extensão no Centro Scalabriniano de Promoção do Migrante, em Jundiaí, oferecendo aferição de pressão arterial, glicemia capilar, consultas médicas e orientações em saúde. Participaram 10 alunos voluntários e três docentes. O Jundiaí Agora conversou Marília:
Cite algumas dificuldades de comunicação que acontecem na prática com pessoas migrantes e refugiados…
Existem algumas barreiras linguísticas com relação a atendimento de pacientes de outros estados do Brasil. Temos sotaques diferentes e expressões também. Por exemplo, eu como dentista já tive situações atendendo pessoas da Bahia que relatavam comer muito ‘queimado’ e fiquei sem saber o que era. Pensei que se tratava de algum doce do tipo quebra-queixo. Até que atendi uma paciente que falou que o neto poderia ter muita cárie por gostar de um queimado de maçã verde. Perguntei e ela explicou que queimado é bala, no caso, de maçã verde. Pacientes de outras regiões chamam os dentes molares de ‘queixá’. É necessário uma boa comunicação para compreensão da informação em saúde, tanto da que o paciente nos traz, como para se certificar de que o paciente compreendeu corretamente a orientação, prescrição do tratamento. As barreiras podem aumentar quando se trata de migrantes e refugiados que não falam português. Nestes casos usamos aplicativos de tradução. Isto ajudou muito na comunicação. Também procuramos alunos voluntários e parentes do refugiado para nos ajudar. Em saúde, é fundamental uma comunicação clara e acessível. Por isso, pensar em políticas públicas que facilitem o acesso e uso do serviço de saúde é fundamental, o que tem relação com a literacia em saúde.
Acreditam que médicos de todo país passam pelas mesmas dificuldades? Ninguém pensou em fazer um estudo para quebrar a barreira da linguagem?
Acredito que não são apenas médicos brasileiros que passam por esta situação. Profissionais de muitos países convivem com as barreiras linguísticas. Alguns estudos começando a abordar este assunto da literacia em saúde dos refugiados, que é a habilidade do indivíduo em ler, compreender e colocar em prática as informações de saúde. Acredito que existam ações sendo realizadas para melhorar e quebrar essas barreiras, principalmente em países que recebem muitos refugiados, mas são estudos incipientes. Trata-se de um problema emergente no mundo.
O trabalho de vocês é inédito?
O estudo de literacia nesta população que buscou os serviços de saúde de Jundiaí é inédito. Existem mais estudos que avaliaram outras populações, mas são escassos também.

Quais soluções encontraram para chegar a uma comunicação eficiente com refugiados e migrantes?
O nosso estudo investigou as barreiras existentes por parte dos refugiados, mas serão necessários futuros estudos que testem estratégias de comunicação. Vimos a necessidade de uma política pública para esta população, voltada para a divulgação do que é o SUS e os serviços de saúde disponíveis, favorecer o acesso desta população, que chega em vulnerabilidade muitas vezes.
Estas soluções estarão disponíveis para médicos de todo Brasil que enfrentam as mesmas dificuldades?
Acredito que seja necessário divulgar essas estratégias para que todos tenham acesso. Esse é um bom tema de estudo. Seria necessário um ensaio clínico para testarmos a eficácia das estratégias de comunicação para, quem sabe, termos em breve algo neste sentido! O que conseguimos agora com a experiência que tivemos foi mostrar que é importante ter atenção para as dificuldades de comunicação. Além disto, o profissional deve sempre ter certeza que o paciente o compreendeu, usando aplicativos de tradução ou familiares. Assim o profissional entenderá as queixas dele, tirar as dúvidas e a saber história médica daquela pessoa.
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