A pequena semente da INSEGURANÇA

semente

Tanto pensamos e analisamos as relações interpessoais que parece haver se esgotado o assunto; entretanto sempre nos sobra uma dúvida ou uma pequena semente de insegurança diante das nossas próprias relações: por acaso damos conta da nossa própria rede de amigos e pares afetivos? Diante de tantas propostas de vida, estamos adequados em nossas escolhas? Do ponto de vista da Teoria Bioecológica, nossas relações humanas merecem ser olhadas à luz do contexto, do tempo, da pessoa e do processo e, sendo assim, toda observação e critério são bem vindos.

Pensamos ser claro que não há como destacar um dos quatro pilares para termos uma relação interpessoal estável: o equilíbrio nos leva a manter a interdependência delas mas é tão importante o contexto, quanto a pessoa, o processo e o tempo. Isto posto, passamos a analisar os equilíbrios de força existente em nossas práticas de convivência social.

As habilidades sociais são questões de suma importância ao tratarmos, ainda que por teoria, nossas relações interpessoais; pouco avançamos se nossas habilidades sociais forem deterioradas ou tóxicas. A questão do processo vai ser um balizador importante quando pensamos em sermos empáticos ou não. Ou sermos receptivos ou não.

Em verdade, o mesmo se passa com relação ao contexto, ao tempo e a pessoa. Cada um dos pilares traz sua importância a ser ressaltada em nossas tentativas de firmarmos contratos sociais, com nossos futuros ou atuais pares afetivos; não há aquilo que se diga ser de maior importância ou ser menos interessante: o que interessa é o humano que está envolvido naquela relação.

Qualquer que seja o papel deste ser humano, em qualquer momento, de qualquer contexto e com qualquer processo, o que está em jogo é o desejo de ser feliz que todos temos e nem sempre entendemos que esta felicidade está dentro de nós. Em função disto, cada um de nós guarda ou expõem seus desejos, dos mais simples ao mais secreto, buscando ampliar os espectros de felicidades. Não há quem não queira ser feliz. Entretanto, não podemos viver na “corrente da felicidade” sem correr o risco de sermos “Alice no país das maravilhas”.

Mais do que isso, não podemos acreditar que somos os empáticos de plantão e estamos sempre disponíveis para ouvir e acolher o próximo, atraindo sobre nós todas as benesses e bondades sociais executadas e existentes. Não, não somos este ser de perfeição: temos limites e temos predileções. Somos humanos. E como tais, somos complexos e incompletos, num tempo de respostas velozes e pouca agregação interpessoal.

É mesmo impossível que estejamos sempre abrindo mão de nossa estabilidade ou de nossa felicidade para atender ao próximo, como não confere o fato de sermos tão dedicados ao outro sem termos preocupação com nossa evolução pessoal. Essa sintomatologia apenas manifesta como mentimos bem para nós mesmos. Escancara o quanto pensamos numa atitude e vivemos outra, oposta aos bons ideais.

Possivelmente o espelho onde nos vemos nem sempre esteja adequadamente ajustado, fazendo com que tenhamos uma imagem pouco desfocada de nós mesmos. Chego a acreditar que supervalorizamos nossa percepção pessoal e não avançamos com medo de nos surpreender com algo “podre no reino da Dinamarca”, sendo que esta Dinamarca sou eu próprio. Explico: não queremos enxergar nossos lapsos nem nossos defeitos, tão pouco nossa insensatez diante do domínio afetivo do outro.

Mentimos tanto para os outros que perdemos o controle das verdades que temos e somos: passamos a ser uma farsa. Não somos sérios nem conosco e isso nos conduz a blefar inclusive conosco, deixando-nos desnorteados e insanos sem saber o que já dissemos de verdade e onde plantamos a mentira. Nossa intimidade conosco se transforma numa grande encenação. Somos uma mentira.

Neste quadro, como pensar nas relações externas se a relação interna está desestruturada? Como fortalecer laços se o principal laço está frágil e sem conexão com meu contexto? Reside ai, infelizmente, o foco da ansiedade e da baixa autoestima, resultando numa vida atribulada e vazia. Pensamos que fazemos muito, pensamos que nos dedicamos demais aos outros, mas não realizamos nada o que “sonhamos” realizar, porque somos a personificação da desestrutura mental e da mentira.

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Se reavaliarmos nossas ações com seriedade e compromisso de transformações, talvez tenhamos fôlego para dar uma guinada e iniciar a reconstrução de nossas Vidas, mas isso é compromisso para quem tem a preocupação de ser melhor e de querer ver os outros melhores. Significa, então que essa tarefa árdua poderá ser bem sucedida, quando existir coragem, empenho e determinação para tal feito. Entretanto, são tantos que fingem e saem fortes, ainda que magoem os demais, que fica difícil de acreditar numa intenção desta natureza.

Mas é viável. É cabível. É possível. Basta acreditarmos em nossa potência transformadora. Aliás, assim é a Natureza Humana.(Foto: www.pikist.com)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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