Quando a noite chega, muitas pessoas enfrentam um desafio comum: a incapacidade de dormir. Esse problema pode ser ainda mais angustiante quando o coração acelera, a mente não desliga, e a sensação de solidão toma conta. Em meio à escuridão e ao silêncio da madrugada, a cama parece um campo de batalha, e ligar a televisão se torna uma tentativa desesperada de encontrar algum alívio. A solidão dos apaixonados torna-se um paradoxo do amor. Este ensaio explora as causas e os efeitos da insônia, o papel da ansiedade, e como a solidão pode exacerbar esses sentimentos, propondo também algumas estratégias para lidar com essas dificuldades.
A insônia é um distúrbio do sono que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Ela pode ser caracterizada pela dificuldade em adormecer, em manter o sono, ou por acordar muito cedo e não conseguir voltar a dormir. Entre os muitos fatores que podem contribuir para a insônia, estão o estresse, a ansiedade, a depressão, e até mesmo hábitos de vida inadequados.
Quando o coração acelera à noite, pode ser um sinal de ansiedade ou pânico. Esses sentimentos podem ser desencadeados por preocupações cotidianas, medos irracionais, ou até mesmo problemas de saúde não diagnosticados. A insônia, por sua vez, agrava a ansiedade, criando um ciclo vicioso onde a falta de sono leva a mais ansiedade, que leva a mais insônia.
A solidão é um sentimento que pode ser particularmente intensificado durante a noite. Durante o dia, a rotina e as interações sociais distraem a mente e fornecem algum alívio. Porém, quando chega a noite e tudo fica em silêncio, a falta de companhia pode se tornar mais evidente e dolorosa.
Estar sozinho na cama, mudando de lado e tentando encontrar uma posição confortável, pode fazer com que a mente se torne um terreno fértil para pensamentos negativos e preocupações. Ligar a televisão pode ser uma tentativa de preencher esse vazio com sons e imagens que distraiam a mente. No entanto, isso muitas vezes não resolve o problema e pode até piorar a situação, já que a luz azul das telas pode interferir ainda mais na capacidade de adormecer.
Embora a insônia e a solidão possam parecer intransponíveis, existem estratégias que podem ajudar a amenizar esses problemas. Primeiramente, é importante criar uma rotina de sono saudável. Isso inclui ir para a cama e acordar no mesmo horário todos os dias, evitar cafeína e outros estimulantes antes de dormir, e criar um ambiente de sono confortável e relaxante.
Praticar técnicas de relaxamento, como meditação, respiração profunda, ou ioga, pode ajudar a acalmar a mente e o corpo antes de dormir. Além disso, é fundamental identificar e lidar com as causas subjacentes da ansiedade. Isso pode envolver falar com um terapeuta, participar de grupos de apoio, ou usar aplicativos de saúde mental que ofereçam recursos para gerenciar o estresse e a ansiedade.
Para combater a solidão, é importante manter conexões sociais durante o dia. Isso pode ser feito através de telefonemas, videochamadas, ou até mesmo participando de atividades comunitárias. Cultivar relacionamentos e sentir-se conectado aos outros pode reduzir a sensação de isolamento que muitas vezes se intensifica à noite.
A paixão é um sentimento intenso e avassalador, capaz de preencher a vida com alegria e significado. No entanto, é comum ouvir que aqueles que estão apaixonados também podem sentir uma profunda solidão. Este paradoxo pode parecer contraintuitivo, já que a paixão, em teoria, deveria ser um antídoto contra a solidão. Para entender essa complexa dinâmica emocional, é necessário explorar os diferentes aspectos da paixão, as expectativas que ela gera, e as realidades que podem levar à solidão.
A paixão é frequentemente descrita como um estado de euforia, caracterizado por uma intensa conexão emocional e física com outra pessoa. Durante a fase inicial do enamoramento, os apaixonados tendem a idealizar o parceiro e a relação, colocando o objeto de seu afeto em um pedestal. Este período é marcado por altos níveis de dopamina e outros neurotransmissores que promovem sentimentos de prazer e excitação.
No entanto, essa fase intensa e idealizada é frequentemente insustentável a longo prazo. À medida que a relação evolui, a realidade começa a se impor, e as imperfeições do parceiro e do relacionamento se tornam mais visíveis. Esta transição pode ser desconcertante e pode gerar sentimentos de solidão, especialmente se a paixão inicial não se traduzir em um amor profundo e maduro.
Uma das razões pelas quais os apaixonados podem sentir mais solidão é devido às altas expectativas que acompanham o sentimento de paixão. Muitas vezes, espera-se que o parceiro satisfaça todas as necessidades emocionais e preencha todos os vazios existenciais. Esta expectativa irrealista coloca uma pressão enorme sobre o relacionamento e pode levar à decepção quando o parceiro não consegue atender a essas demandas.
Além disso, a paixão pode criar uma sensação de fusão emocional, onde os apaixonados sentem que suas identidades estão entrelaçadas. Quando essa fusão não é reciprocada ou quando ocorrem desentendimentos, a desconexão pode ser profundamente dolorosa, amplificando a sensação de solidão. A percepção de que o parceiro não é capaz de compreender plenamente as emoções e desejos mais profundos pode levar a um sentimento de isolamento emocional, mesmo dentro do relacionamento.
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TRANSFORMAÇÃO DO ‘SIM’ EM ‘NÃO’
A paixão também pode exacerbar a solidão existencial, uma forma mais profunda e filosófica de solidão que surge da consciência da própria individualidade e finitude. Estar apaixonado pode intensificar a percepção de que, apesar de uma conexão profunda com outra pessoa, cada indivíduo permanece fundamentalmente só em sua própria existência.
Essa solidão existencial é muitas vezes confrontada durante momentos de introspecção, quando os apaixonados refletem sobre a natureza do amor e da vida. A percepção de que ninguém pode realmente entender ou compartilhar completamente as suas experiências internas pode ser angustiante, levando a uma sensação de isolamento.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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