Não, eu não falarei sobre eleições, tão pouco farei minha apreciação sobre este ou aquele candidato, porque a escolha é de foro íntimo e consciência é algo pessoal: cada um faz sua opção e arque com suas consequências, como cidadão brasileiro e membro de uma comunidade carente, desprovida de educação, de escolarização, de saúde, de segurança e de espiritualidade. Somos as escolhas que fazemos…
Minha escolha, infelizmente está direcionada pelo processo de exclusão, o pior dos processos, visto o fato de não haver me sentido seguro ou impressionado por nada nem ninguém que acredite dar conta do recado. Meu medo (porque eu tenho e muito) é que num segundo turno terei que escolher entre o que não quero e o que jamais quereria. Mas este é o princípio democrático vigente; não me furtarei em me posicionar.
Óbvio que não abrirei em quem votarei. Mas estou muito hábil em dizer em quem não votarei. E tenho dito.
Opção. O direito de escolher dentre algumas coisas, aquela que mais preenche os requisitos que você estipula como convincentes, ou mais adequados, ou mais apropriados. Se isto realmente é assim, significa que existem regras para escolher. Ao menos regras pessoais e modeladas de acordo com nossa escolha, nosso ponto de vista, no critério.
Todas as escolhas, diante de opções, atendem a um critério, seja ele o mais maluco, mais alucinado que seja. Legal é sempre lembrar como norteamos nossa opção, para que tenhamos em vista o que cobrar com o passar do tempo; e cobrar de nós mesmos, ou daquilo ou daquele que foi escolhido.
Estes acordos que norteiam nossas opções e escolhas são reflexos de nossas interações sociais e de nossa cultura: pautamo-nos calcados em novas perspectivas, sejam sociais, sejam culturais, espirituais ou econômicas. Mas são frutos de nossas convicções e não são tão aleatórias como gostaríamos (e dizemos) que fossem.
Uma má opção demarca nossa perspectiva. Acentua nossa tendência. Explicita nossa inclinação. Nada é por acaso nem nada é despretensioso: somos inteligentes o suficiente para avaliarmos o caminho a ser tomada por nossas opções. E, em sendo assim, somos senhores deste desdobramento inusitado de uma opção escolhida na incerteza ou na troca de favores. E, quando a escolha não é a melhor, corremos sério risco de nos decepcionarmos, conosco mesmos e com o objeto de escolha.
Talvez isso explique tanto casamento rápido e com fim abreviado. Tanta roupa comprada e descartada. Tanta comida jogada fora. Tanto livro comprado e mal lido além do primeiro capítulo. A vantagem destas escolhas pouco criteriosas é que elas atingem apenas o sujeito da ação.
Entendido ou preciso desenhar?
Queria fazer terapia mas não sei que linha ou corrente escolher. Queria um bom terapeuta, mas não sei se me identificarei com o profissional e com o processo terapêutico. Queria rever minha vida, mas não sei se terei coragem para encarar tudo e mudar algo.
Queria, queria, queria.
Queria ou quero?
Porque todas estas dúvidas ai postas são questionamentos que todos fazemos e que se desfazem ao iniciarmos a trajetória em direção ao nosso interior. Processo terapêutico é exercício interno de reconstrução, de modo que toda mudança se dará no decorrer da trajetória, numa ou noutra corrente psicológica, com este ou aquele terapeuta, que será apenas o sinalizador: o caminho é nosso. Nós o traçaremos.
Sinto que, na verdade, o que falta, neste momento de dúvida sobre escolher este profissional ou esta linha psicológica, é uma coragem de enfrentamento e uma disposição pela transformação. Este é o exercício terapêutico real.
Entretanto, independente da abordagem psicológica pretendida e ofertada e sem pensar no profissional escolhido e sua formação, é necessário que tenhamos claro que a trajetória terapêutica é formada por vertiginosas mudanças e descobertas, de coisas e situações que guardamos de nós mesmo, mas que nos libertam na medida em que partimos para o enfrentamento e projetamos o novo percurso.
Este caminho é único e escolhido por cada um de nós. Se a bússola adotada para delimitá-lo chama-se Psicanálise ou Terapia cognitivo-comportamental ouHumanista ou Sócio histórico, não será este instrumental que nos conduzirá ao sucesso: o triunfo da transformação está nas mãos daquele que se envereda pelos caminhos da reconstrução e da reformulação. Continuamos a ser os construtores de nossa história.
Terapia é para fortes. É para quem quer ter o privilegio de se olhar no espelho interno e mudar o que não está satisfazendo. Ou que não esteja adequado. Dói, sangra, mas fortalece.
Comemorou, em 27 de setembro, o dia de São Cosme e São Damião. Jovens médicos, irmãos gêmeos, perseguidos por exercerem a medicina sem cobrar por isso. Acredita-se que por volta de 300 depois de Cristo. Interessante que, em Roma, a igreja titular e basílica (Basilica dei SantiCosma e Damiano) é muito frequentada e localiza-se num dos trajetos para o Coliseu.
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E no Brasil? No Brasil, nosso calendário litúrgico católico tem como data oficial dos santos gêmeos o dia 26 de setembro e os adeptos da Umbanda e Candomblé comemoram no dia 27 de setembro. Causa estranheza estas duas datas para um mesmo evento, mas estranheza maior fica por conta dos católicos que depositam doces nos jardins o distribuem-nos para crianças, visto que estes são poucos afeitos ao sincretismo religioso, de modo explicito.
Talvez o problema não esteja nas duas datas, mas na indecisão ou vergonha de se postar diante da fé e da escolha de liberdade de espiritualização. Comemorar São Cosme e São Damião já não nos conduz à fogueira da Inquisição, apesar de termos tantos inquisidores da fé convivendo ao nosso lado.
Teríamos que ter coragem de dizer à estes: Volte pro mar, oferenda…
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.