Hoje, dia 20 de abril, Augusto dos Anjos, autor do conhecido Soneto da Amargura estaria aniversariando. Ele nasceu em 1884. Foi, e ainda é, segundo alguns críticos, o mais discutido poeta brasileiro.
O grande sonetista nasceu no Estado da Paraíba, lecionou Literatura Brasileira no Liceu Paraibano, sendo afastado por se desentender com o governador. Revoltado com as injustiças sociais que grassavam em sua terra natal, mudou-se para o Rio de Janeiro onde passou por dificuldades financeiras. Para sobreviver, o autor de Soneto da Amargura lecionou Geografia e Literatura em várias escolas. Foi indicado para dirigir uma escola em Leopoldina e mudou-se para Minas Gerais, onde faleceu aos trinta anos.
Apesar de ter escrito muitos sonetos, publicou apenas um livro: “Eu e outras poesias”, onde consta a sua mais conhecida e discutida obra:
“Versos Íntimos”
Vês! Ninguém assistiu ao formidável/ enterro da tua última quimera/somente a ingratidão, essa pantera/foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera/o homem que nesta terra miserável/mora entre feras, sente a inevitável/ necessidade de também ser fera!
Toma um fósforo, acende o teu cigarro/o beijo amigo é a véspera do escarro/a mão que afaga é a mesma que apedreja!
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga/apedreja essa mão vil que te afaga/ e escarra nessa boca que te beija!
Esse soneto retrata bem a alma amargurada do poeta, do homem solitário, sempre às voltas com problemas sociais, sendo considerado por muitos como um “desajustado emocional”. O livro chocou os poetas da época, pois diziam que era agressivo e falava muito na morte.
Consta que, certo dia, um aluno perguntou porque escrevia versos tristes, tendo ele respondido:
– Meu filho, o meu poema vem como o meu espírito o dita. É isto. O mundo, meu caro aluno, é o pior lugar para se viver. A desilusão ocorre em todos os níveis. Eu já nasci desiludido de tudo e de todos.
Augusto dos Anjos foi um poeta sem igual, seus sonetos são perfeitos na rima e na métrica. Utilizava metáforas e palavras inusitadas para compor os versos; termos como: contubérnio, hidrópicos, brônzea e similares eram comuns em suas composições. A leitura dos clássicos do materialismo e evolucionismo, como Comte, Darwin e Spencer foi fator determinante na sua cosmovisão e na poesia.
Foi incompreendido pelos intelectuais do seu tempo, morreu prematuramente, como já escrevi, aos 30 anos. Conta-se que Olavo Bilac, ao saber de sua morte, ajeitou o monóculo e disse:
– Perdeu-se um pouco.
Não era bem-visto por ser franco e desprezar reuniões sociais. Ao morrer, foi enterrado em cova rasa.
Anos mais tarde, suas poesias foram lidas por poetas que entenderam as mensagens nelas contidas e as valorizaram. Isso desencadeou interesse em saber onde o poeta fora enterrado e motivou uma disputa entre a Paraíba – onde nasceu – e Minas Gerais – onde faleceu. Por força da lei e por vontade dos filhos, seus restos mortais permaneceram em Leopoldina, Minas Gerais. Depois disso, ergueram-lhe um mausoléu que hoje é atração turística. Também na Paraíba foi homenageado com o Memorial Augusto dos Anjos, que sempre será lembrado pelo Soneto da Amargura.
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Após tantos anos de seu falecimento, seus sonetos continuam a ser analisados por literatos e estão sendo restituídos às nossas Letras pela crítica contemporânea. Na semana passada, vi um programa televisivo onde ocorriam declamações de suas obras. Os sonetos: Morcegos, Último Credo, Vozes da Morte e Vandalismo , onde encontramos os conhecidos versos: “meu coração tem catedrais imensas, templos de priscas e longínquas datas” , foram declamados com maestria.
Está sendo visto, embora tardiamente, como o primeiro mestre da modernidade poética, com todo o mérito e justiça!
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence à Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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