Embora já tenha ouvido o maior sonho do povo que entende de noites sem abrigo, tive um impacto, recentemente, com a moça que me contou sobre um episódio de sua infância. Guloseimas passavam em seus olhos no mundo da imaginação. Em um sábado, na cidade distante em que morava, ficou escondida dentro do supermercado que não abria aos domingos. Amou a prática, experimentando o que tinha vontade. Na segunda, a encontraram e a conduziram ao plantão policial, pois na época não havia conselho tutelar. Concluiu dizendo que o sonho maior de toda a menina pobre, de sua época, era ser esquecida dentro de um mercado.
Considerei tão triste essa constatação!
A cada vez que sei de um fato assim, penso no quanto temos dificuldade em pedir licença e nos embrenharmos na história e sonho dos que sofrem ou são o resultado de incontáveis abalos desde criança.
Na Via-Sacra da Jornada da Juventude com o Papa Francisco em Portugal, a 6ª Estação, Verônica enxuga o rosto de Jesus, o texto de reflexão é o seguinte: “Senhor, uma mulher furou a multidão para limpar o Teu rosto e ficou com a Tua imagem gravada no seu lenço. Amar é assim, é deixar-se mover pelo rosto do outro, mesmo desfigurado. O rosto do filho que se ama, do amigo que se ama, do pobre que se ama, da mulher ou do marido que se ama. O rosto da Igreja que se ama, mesmo quando está desfigurada. Amar é deixar-se atrai pelo rosto do outro.
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Mas nós, jovens, vivemos num mundo individualista. Disseram-nos mil vezes que o que mais interessava era a nossa imagem e a nossa autorrealização. Que tínhamos direito a ser felizes e que devíamos pensar primeiro em nós mesmos. E aqui estamos autocentrados, cada um focado no seu telemóvel (celular), nos seus assuntos, na sua ilha, à espera de uma felicidade que não vem. Porque a verdadeira felicidade está em deixar-se atrair pelo rosto dos outros”.
É fato. Quantas pessoas procurando um sentido para a vida e quantas delas sem resistir à droga, à pornografia, ao álcool. Que doloroso uma criança sonhar em ser esquecida no supermercado, em lugar de dormir nos braços dos pais com cantigas de ninar. Quanto falta para me mover pelo rosto do outro, em especial dos mais sofridos!(Foto: Jano Gepiga/Pexels)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
É professora e cronista
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