PROCURA E ESPERANÇA

procura

Neste mês de junho, em nome da procura e esperança, duas tragédias no mar: o barco que afundou na Grécia, no Mar Mediterrâneo, e a implosão do submersível do OceanGate nas profundezas do Oceano Atlântico.

No primeiro, a busca de uma vida melhor na Europa por causa das dificuldades.

Falou-se menos sobre o infortúnio na Grécia, onde mais de 300 cidadãos paquistaneses morreram. Encontravam-se em uma traineira de pesca superlotada. Dezenas de milhares de pessoas buscam refúgio da guerra, perseguição e pobreza. Caem nas mãos do tráfico humano.

De acordo com a CNN Brasil, 750 homens, mulheres e crianças estavam no barco lotado, quando ele virou.

O Globo/Mundo, em 23 de junho, relatou que o barco de pesca saiu da cidade líbia de Tobruk rumo à Itália e afundou a 80 km da cidade grega de Puylos. Apenas 104 pessoas, todos homens entre 16 e 40 anos, sobreviveram. Testemunhas dizem que as mulheres e as crianças estavam presas no porão no momento do naufrágio. Viajaram movidos pela esperança.

Titan, o submersível que levava cinco pessoas para visitar os destroços do Titanic, implodiu, segundo a Guarda Costeira dos Estados Unidos, em virtude da pressão interna na cabine.

Em entrevista à Agência Globo em 24 de junho, o doutor em psicologia clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor da sociedade psicanalítica APOLa no estado, a respeito da razão de bilionários, como os tripulantes do submersível, buscarem aventuras arriscadas, disse que pode representar a “busca por um sentido que não se encontra na simples aquisição de bens materiais. (…) O desejo é movido por uma falta que está sempre em outro lugar, a grande questão é como a gente vai preencher isso”.

O psicólogo Scott Lyons, em entrevista recente ao jornal britânico Daily Mail sobre a alta procura por atividades perigosas por esse público, afirmou: “Eles procuram por coisas que os fazem sentir que estão vivos”.

“Dentro de uma lógica de consumo, essas experiências também têm o status como atrativo. Quantas pessoas podem ver o Titanic?”, continuou Domiciano.

OUTROS ARTIGOS DE MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

ACUSAR A SI MESMO

GEMA DE VIDRO

MUNDO DAS CRIANÇAS

A respeito do destaque dado ao Titan em comparação ao drama dos imigrantes que se arriscam no mar, em conversa com a BBC News Brasil em Londres, para Priyamvada Gopal, professora de estudos pós-coloniais da Faculdade de Inglês da Universidade de Cambridge, alguns elementos-chave contribuíram para consolidar o que chama de “anonimato sem rosto” dos refugiados no Mediterrâneo contra o “protagonismo” concedido aos cinco tripulantes do Titan. Ela concluiu: “Os que morreram no Mediterrâneo (…) também são indivíduos, com interesses e histórias de vida provavelmente muito interessantes, que simplesmente não ficaram disponíveis para nós”.

Dolorosas as duas tragédias!

Fico pensando que a melhor de todas as “aventuras”, para se sentir vivo, seria juntar os oceanos de forma que o Atlântico fizesse acontecer a esperança dos que atravessam o Mediterrâneo, dando-lhes a dignidade perdida.(Foto: OceanGate)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

É professora e cronista.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES