O SURFISTA voador e a fadinha do SKATE 

surfista

Viralizou nas redes sociais uma foto do surfista brasileiro Gabriel Medina, tricampeão mundial de surfe (2014, 2018 e 2021), colocando o Brasil no centro das atenções olímpicas. Os direitos autorais impedem a reprodução da imagem, que pode ser acessada aqui. Uma onda épica, que rendeu a maior nota do esporte em olimpíadas (9,9). Ao sair de um tubo gigante, nosso herói decola num voo que, de tão impressionante, parece ser resultado de uma montagem. Mas é real. Tanto de realidade como de realeza. Gabriel Medina, um surfista nobre no reino dos mares!

O surfe é um esporte que reflete valores de liberdade, companheirismo e harmonia com a natureza. Apesar de sua longa história, só recentemente, desde Tóquio 2020, o surfe passou a integrar o programa olímpico, garantindo competições emocionantes e a sua continuidade nas Olimpíadas de Paris 2024. Para os brasileiros, o esporte ressignificou nossa experiência de acompanhar as competições, transformando o desejo de medalhas em conquistas concretas. Quem ficou com o ouro em Tóquio foi outro surfista brazuca, Ítalo Ferreira.

Outro esporte de prancha, que se juntou ao surfe ganhando a cena olímpica em Tóquio, foi o skate. Lá, o mundo conheceu a nossa estrela, Rayssa Leal, a ‘Fadinha’, como é chamada. Ela nos orgulhou ao conquistar medalha de prata aos 13 anos de idade. Agora em Paris, aos 16, nos brindou novamente com o pódio e uma medalha de bronze. Se o surfe tem uma relação com a natureza, o skate tem sua conexão com o ambiente urbano.

Quem diria que estes dois esportes, super marginalizados nas décadas de 1970 e 1980, acabariam se tornando patrimônio do esporte, tanto nacional como mundial? Em 1988 o skate, inclusive, foi alvo de proibição na cidade de São Paulo, na gestão do então prefeito Jânio Quadros. O veto durou poucos meses, sendo derrubado pela prefeita eleita Luiza Erundina, já no início de seu mandato em 1989. Era uma de suas promessas de campanha.

Mais de 30 anos se passaram e, ainda hoje, surfistas e skatistas carregam um estigma negativo, sofrendo preconceito por grande parte da sociedade. Seus praticantes são associados a adjetivos pejorativos, tais como vagabundos ou baderneiros. No caso do skate, há uma quantidade enorme de vídeos na internet, com registros de abuso de poder por parte de agentes da polícia ou de segurança privada.

Mas por que será que o surfe e o skate incomodam tanto?

Na nossa cultura da produtividade e do desempenho, se a pessoa passa horas e horas na praia, na pista ou mesmo na rua, é lida socialmente como alguém que não dá valor ao trabalho. Como surfar ou andar de skate demanda bastante tempo para treinos, muitas pessoas adaptam o estilo de vida ao esporte. Com isso, pessoas fascinadas por algo que não podem fazer ou reproduzir, podem ficar ressentidas.

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Na minha hipótese, tais esportes provocam, na verdade, inveja: sentimento que surge quando se deseja algo que pertence a outra pessoa, seja um objeto, uma habilidade ou um estilo de vida. A inveja toma conta do psiquismo, em geral associada ao ódio, à agressividade e à falta de empatia. Funciona mais ou menos assim: se algo que quero muito não está ao meu alcance, então ajo de forma a impedir que outras pessoas acessem aquilo que eu desejo, seja proibindo a prática ou discriminando seus praticantes.

É importante destacar que sentir inveja é normal. Entretanto, mesmo não tendo controle sobre o que sentimos, podemos controlar o que pensamos. No lugar de comportamentos destrutivos, podemos encontrar saídas criativas e prazerosas para a inveja que se poderia sentir de um surfista ou skatista. Por exemplo, que tal frequentar mais a praia ou um parque?(Fotos: redes sociais Gabriel Medina/Rayssa Leal)

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

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