Não me digam que a evolução tecnológica é ruim ou que eu sugeri, em minhas crônicas anteriores, que ela danificava o Mundo. Sou fã delas e sou um dos estudiosos mais acirrados e afiados nas publicações que comentam, analisam e investigam o uso das tecnologias no mundo moderno. A cibercultura me encanta ao ponto de devorar livros e filmes e entrevistas, repeti-los e revê-los e revisitá-los para extrair a essência da proposta.
Passo horas em debates e entrevistas, defendendo o uso de cada nova engenhoca que surge, focando sua multiplicidade de ações e demonstrando que podem vir a ser uma ferramenta de união dos povos, por este e aquele motivo. Minha implicância recai sobre o mau uso delas e o mais aproveitamento das vantagens de tê-las. Infelizmente o homem não se deu conta de utilizar uma ferramenta sem se perder diante dela.
Lembro-me muito bem quando o cursinho preparatório para vestibular inovou com as repetições de aulas, por meio da televisão. O rebuliço se fez presente porque era uma tentativa de substituir o professor, uma forma de tirar o professor da sala de aula e usar um aparelho eletrônico para fazer suas funções. Foi um escândalo, enquanto o mundo já fazia isso com muita seriedade. Entretanto não se buscava substituir ninguém, apenas buscava-se ampliar o poder da transmissão de informações.
Num outro momento, as aulas da TV Cultura, também, causaram muito comentário, apontando que a forma como a educação entrava nos lares era uma substituição clara do docente e do aparelho escolar. Foram discussões acirradas e, que não avançaram, justamente por ser um modelo importado que dava certo nos EUA e na França, como uma maneira de acelerar o processo educativo e cultural dos países que o implantavam. Muito tumulto e muitas palavras em vão.
E vamos andando. As tecnologias vão avançando até que chegamos no momento que os computadores individuais e os notebooks chegam no país e dentro dos lares. Como sempre, as falas começam pela possibilidade destes aparelhos substituírem alguém, no caso os pais ou outros familiares. No serviço, teríamos a substituição de funcionários produtivos, que perderiam seus espaços. Algo amedrontador do tipo: a máquina substituindo o Homem. Porém, nunca se avançou muito neste tipo de análise e, tão pouco, se perdeu tempo analisando se o espaço perdido realmente estava ocupado por alguém que estava cumprindo seu papel.
Desta maneira, começo indagando: o computador na escola, substitui o professor? Ou é mais uma ferramenta que o professor pode utilizar para otimizar os procedimentos pedagógicos? Em que momento o computador esteve na frente do corpo docente? Ou apenas ampliou a forma de atuar sobre um conteúdo e a motivar mais uma aula? É verdade que o uso deste equipamento em aula é algo viciante, porque alguns docentes não conseguem mais dar aulas sem o aparelho e sem o datashow…mas o problema está nas novas tecnologias ou no docente mal acostumado e inábil?
Talvez possamos ampliar este nível de análise aos lares onde as crianças estejam bem aparelhadas com seus celulares. Talvez aqui tenhamos mais indagações: quem deu o celular para as crianças? Por que deu o celular? Como controlam o uso deste aparelho na mão dos pequenos? Quanto tempo as crianças passam no mundo virtual? Quanto tempo passam no mundo real? Acredito que, uma vez respondida estas questões, veremos que o foco se dirige para outro campo.
A criança ganha celular para dar folga aos pais ou porque o coleguinha tem. Isso não é motivo plausível e aceitável para nenhum pai que pense seriamente na Educação de seus filhos. Outro grande segredo é selecionar o que podem e o que jamais poderão acessar, desde que se tenha regras e oportunidades de acompanhá-los em suas imersões ao mundo virtual. Deve ser sempre muito claro que os pais precisam zelar por este espaço e fazer seu papel como deve ser. Nada pode passar despercebido.
O fato dos pais estarem ocupados com seus afazeres e suas atividades sociais e joguinhos (etc e tals) não os liberta da responsabilidade de cuidar do tempo de exposição e liberdade de uso do celular. Observamos que ao dar o celular, os pais, de maneira geral, ganham mais tempo vago para cuidarem de si, deixando seus filhos à vontade para usar o celular como bem quiserem e, isto sim, transforma-se num grande problema, que apresentará suas consequências no futuro.
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E estas consequências não ficarão formatadas apenas naquela casa: terão avanços à toda comunidade por onde a pessoa sem limite passar e se tornar membro dos grupos aleatórios: este é o grande problema. A família, não cumprindo seu papel de formar bem seus membros, concorre para que situações ofensivas, desordenadas e pouco civilizadas sejam vistas em todos os setores da sociedade nacional. E, lógico, cabe a pergunta: de quem é a culpa? Do celular, das tecnologias, ou do usuário que não teve instruções para seu uso?
Fica aqui, então, a sugestão de uma reflexão mais contundente sobre o uso harmonioso das tecnologias, no mundo modernos. Elas não são nossas inimigas e malfeitoras; são ferramentas para facilitar nossa vida, desde que usadas com ponderação e adequação. Está aí o desafio. O grande desafio.(Foto: Ron Lach/Pexels)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Diretor técnico da Clínica de Psicologia da Faculdade de Psicologia Anhanguera, onde leciona na graduação.
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