Depois da última crônica, recebi uma série de contatos de leitores que ou se assustaram com a temática ou não concordaram com alguns detalhes da escrita (que é a minha escrita, sujeita a julgamentos, mas é minha). Entretanto, não deixaram de ser interessantes as argumentações recebidas, por uma questão de temporalidade ou de inconsequência: alguns apontam que o comportamento dos “Brothers” corresponde com algo inerente a juventude atual e que não há nada de errado. Outros apenas condenam e abominam tudo o que vem daquela emissora. E outros ainda, apenas pontuam com carinho à favor deste ou daquele candidato.
Como nomeei: inenarrável. Não posso deixar de repetir que temos um participante que fala (fala?????) sobre algo incompreensível, sem sentido, sem nexo; temos outro que é um frequente gratiluz: tudo é o universo, tudo é o cosmos, como se o homem não tive inteligência e vontade para escolher e assumir alguma coisa. Temos o que traz tudo para a fala da “quebrada” e a lei da “comunidade” tem que ser a lei para tudo.
Tem mais? Sim, claro, tem muito mais: as intrigas bem fundamentadas e as nem tão pouco fundamentadas, os egos aflorados e a vontade infinita de se transformar em astro de um mundo surreal, como se eles fossem articuladores ou cientistas sociais, que estivessem diante de uma estupenda descoberta. Sem perder o pé da vidinha fútil e pouco criativa que se repete a cada dia. Novamente sugiro observar que estes serão a maioria que votará na próxima eleição, que não se trata de um BBB, apesar das similaridades. Sinal da temporalidade ou inconsequência?
E saindo desse assunto, voltando a uma vida mais real, batemos na questão da dose adicional e na quarta dose da vacina contra a Covid. Muitas chamadas, muitas informações e muitas publicações sobre este evento, que parece ainda não sensibilizar a sociedade. É grande o número de pessoas que não tomou a terceira dose, como é grande o numero de crianças e adolescentes que ainda não concluíram o ciclo vacinal.
Parece que esquecemos que, por enquanto, é vacina, máscara e certo distanciamento que nos garante a Vida saudável. Talvez, mesmo quando esta situação se tornar endêmica, a vacina continuará a ser nossa chave para bons momentos, mas, até lá, a coisa está no impasse: como criar ânimo para que a população vá buscar sua vacina de modo a diminuir a taxa de contaminação? Que tipo de argumentação e seriedade está faltando para que a adesão seja mais concreta e mais eficiente? Onde se pode atacar, para que a população volte a acreditar nas mensagens oficiais e busque se prevenir?
A crise de credibilidade tem origem quando, por vezes seguidas, as informações oficiais surgem em meio a uma polêmica de instabilidade governamental e os órgãos oficiais não se manifestam de maneira contundente e deixam de trazer à tona a seriedade da vacina e seus efeitos a médio e longo prazo. Nessa situação, a vacinação passa a ser mais uma informação que não mereça destaque nem importância. Temporalidade ou inconsequência?
Interessante que, entre todas as brincadeiras, temos aquelas que apontam que nunca se questionou a vacina aplicada nas escolas, nos idos de 70 e 80. E todos queriam tomar para se safarem da moléstia. Não se questionava a origem, a forma nem tão pouco a periodização. Será que mais informação causou mais resistência? Ou será que o número de mortos não sensibilizou suficientemente? Inclusive, sobre esse assunto (número de mortos e hospitalizados) existem controvérsias e chiados bastante estressantes, para a população e para os órgãos governamentais.
Outra situação a ser observada é a volta às aulas presenciais em escolas despreparadas. Os professores, obrigatoriamente, estão vacinados e tiveram que comprovar aos seus superiores imediatos esta situação. Os alunos, de maneira geral, devem comprovar sua condição de vacinados, porém podem optar pela forma remota. E os docentes devem ministrar suas aulas presenciais e remotas? Duas aulas? Duas jornadas? Incompreensível esta situação, que não tem um balizador oficial direto, deixando a situação à mercê da interpretação das unidades. Cinco passos a frente e cento e 10 passos para traz. Miseravelmente. Ah, essa temporalidade carregada, na maioria das vezes, de pura inconsequência…
Vamos pensar: se existe uma manobra, existe quem será manobrado e quem exercerá a função de manobrar, correto? Podemos quebrar este ciclo? Sim, podemos e devemos. Mas é preciso que os envolvidos percebam e analisem seus gestos, suas ações e seus sentimentos em cada um de seus atos; caso contrário haverá uma pseudomudança e tudo permanecerá como sempre esteve: um pensa que acolhe e outro pensa que é acolhido. Um pensa em cuidar e outro pensa que é cuidado. Estamos vivendo este impasse em vários setores de nossa sociedade e civilização.
E não se trata de algo específico desta geração que traz traços e condições vividas em conjunto com as gerações anteriores (que devem ter ensinado alguma coisa aos atuais membros da “galera” modernosa). Assusta perceber que gerações passaram sem deixar vestígio de civilização. Será este o caso que estamos vivenciando no Brasil de 2022? Seria culpa da temporalidade ou da inconsequência?
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Se ficarmos atentos, em nosso contexto, estaremos cada vez mais expostos a movimentações civilizatórias que nos atingem, tirando-nos o chão, mas numa forma de ondulação, em que já tenhamos vivido, superado e avançado num terreno e, de repente, retornamos à estaca zero. Como se o relógio voltasse e o tempo não tivesse passado: surreal. Inenarrável. Mas acontece e estamos inseridos neste circo, com fantasia de palhaço e todas as demais características.
É desagradável, mas deixamos de nos sensibilizar. Deixamos de sentir a dor do outro, porém, nunca falamos tanto em empatia como em nossos tempos. Falamos. Mas não exercemos a ação empática. Vivemos um cristianismo de fachada, um estado empático de palavras e um (in)sinceridade ao ponto máximo, descuidando, inclusive da nossa própria saúde. Será sinal de derrocada do ser humano? Ou apenas a temporalidade falando mais alto? Vamos observar.(Foto: www.yjc.news)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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