O fato de não termos sido treinados para dizer que não está tudo bem é o causador das pessoas andarem no “modo avião”: sempre respondem que estão muito bem, sem ao menos refletir em aspectos que os amigos estão disponíveis para ouvir ou auxiliar. A pergunta está tudo bem? faz parte das perguntas sociais e reveladoras de um povo predisposto a ajudar o parceiro. Estranho é o parceiro se escamotear e “fingir” o bem que não existe.

O simples evento de acreditar sempre que “Deus é mais”, possibilita a entender que não queremos compromissos com nosso futuro, nem com o presente e muito menos com o passado. Deixamos nas mãos de Deus para que não tenhamos que nos envolver em assumirmos nossa história, com caminhos e descaminhos. Melhor responder que sempre está tudo belo, maravilhoso e os problemas passam a centenas de quilômetros da gente: facilitador e ingênuo. Se não falso. Mentimos para nós.

Tenho receio do tudo bem por questões diferentes: pela exposição a que isso nos coloca, quando questionados em ambientes inadequados. Ou quando falamos com alguém pouco íntimo. Mais: nem sempre se pretende abrir o jogo, apresentar as análises em movimento. Então, a resposta: “sim, está tudo bem”, quando não queremos dar satisfação sobre nossa Vida.

Em determinados momentos, quando estamos no “corre” e a Vida nos leva ao extremo, o tudo bem soa como algo pouco provável e pouco honesto, conosco e com o outro, mas essa avaliação só cabe para quem pensa no outro. Quem pensa apenas em si, mantém o ritmo do “tudo bem” para tudo e para todos em qualquer situação. O mundo da Alice, naquele país das maravilhas.

A vida não tem protocolos para lidar com a situação nem tem forma melhor de sair dela, é como ser apresentado a alguém que “não bate”. Não tem razão objetiva, não tem mudança de comportamento da pessoa que vá fazê-lo mudar de sentimento. Não existe empatia direta e não há proximidade que facilite a relação humana, então a resposta tudo bem é facilitadora para sair de uma pergunta ou pessoa inoportuna.

Entretanto temos a oportunidade de observarmos a situação e a pessoa e, a partir desta observação, buscar tratar do assunto/pessoa com outras propostas, valorizando-a ou afastando-se de vez. Conforme dito: após uma observação e uma boa análise, toma-se a atitude, mais certeira e adequada, para o momento. Sempre lembrando que tudo pode mudar a cada instante. Realmente podemos deixar de amar pessoas à segunda vista, em função das ocorrências, traumas, experiências, sentidos que conferem a continuidade ou distanciamento.

Fábio Porchat, João Vicente, Chico Bosco e Emicida debatem o motor destas reflexões em seus programas, na GNT: explicitam a rejeição e a maneira das se comportarem, em nossa sociedade. Na era da “hashtag” empatia, como a gente lida com o medo de ser rejeitado? Sim, óbvio: respondendo que tudo está, sempre, tudo bem. Passando a imagem de ser de luz, sem vacilar.

Ao menos seu círculo mais íntimo, formado por seguidores incondicionais, estará observando e querendo saber das proezas, das bravatas e das supostas verdades, ainda que sejam mentiras nunca ditas. É o jogo da Vida, a que alguns se sujeitam sem pensar em atuar como senhores de suas histórias e tentar mudar algo que não anda bem ou que se apresenta como dúbio: os tudo bem não encaram uma análise. O medo é maior que a pouca verdade.

O fortalecimento do grupo de agregados, sejam parentes, amigos íntimos, seguidores ou parceiros de “broderagem” sempre atende à propaganda interna que infla o ego e deixa a situação como sendo de extrema verdade e exemplar: merecerá ser copiada e repetida pelo autor e pelos agregados, até que se perpetue no tempo, mesmo sendo uma babaquice sem expressão e sem valor social ou cultural.

Está sempre tudo bem. Se a roda andar para frente, está valendo; se rolar para trás, vale também. E para os lados? Vale igualmente. Não existe expressão de valor, porque nós não valorizamos nada, não priorizamos nem ordenamos nada de mais favorável para menos favorável, de melhor para pior: perdemos a noção de valores e isso fica num plano inercial, de modo a concordarmos com tudo e com todos porque estes serão nossos seguidores e não é favorável tê-los contrário. A parceria pela falta de opinião.

Triste juventude que se arrasta pelos guetos da inobservância e desconhecimento. Que dialoga na linguagem do senso comum e navega pelas águas de da insensatez, onde os vícios, sejam eles quais forem, da heroína aos joguinhos eletrônicos, têm mais valor que a própria vida e onde as relações interpessoais são necessária apenas para ter alto numero de seguidores nas redes sociais, mas que no fundo não passam de avatares sem uma função outra que existir naquela contada rede social.

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AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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