Foi dito para mim que a maior viagem que se pode fazer é entre classes sociais. Fui um menino de classe média, criado na Rua Bela Vista entre vizinhos, parentes e amigos. Sem trânsito. Sem perigos. Foi fácil desenvolver a crença que o mundo era exatamente assim. Família com pai e mãe. Pais trabalhavam fora. Mães às vezes. Alguns tinham carro e telefone. Outros não. Mas, todos tinham vidas boas.
Meu primeiro emprego como psicólogo foi na Secretaria de Assistência, no. Projeto Criança. Na faculdade assisti uma palestra sobre trabalho com crianças e adolescentes em situação de rua. Atendê-los na própria rua!
Tive a felicidade de participar de um projeto que praticava as ideias que me fascinaram na faculdade. Lá estavam os meninos. Cadê os pais? Cadê alguém para cuidar deles? Que mundo era aquele? Lembro claramente da primeira abordagem na rua que participei. Havia uma adolescente usuária de crack. Estava com febre. Tinha uma grande infecção dentária. A conduzimos ao Hospital São Vicente…
Logo entendemos que as crianças tinham família sim. Constituímos um grupo para trabalhar essa questão. E começava uma nova etapa da viagem. Comentávamos como algumas mães podiam ser cruéis!
Com o grupo de família, começamos a ouvir essas mães. Descobrimos que a pobre mulher que outrora condenávamos havia dado muito mais do que a vida lhe possibilitou. Conheci a miséria. Situação em que a penúria econômica é o fruto da miséria moral, emocional, educacional, afetiva…
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Guiado por meus colegas, frequentei favelas, entrei e atendi em barracos sob o calor insuportável da Brasilit que cobria o que chamavam de casa. Senti o cheiro. Pisei em fezes humanas. Senti a vida brotar de locais onde nada nasce.
Agradeço a Deus até hoje por aquilo que vivi. Sofri naquela viagem. Ali aprendi mais do que poderia em uma vida inteira. Vi que Deus está sempre presente, mesmo onde só vemos trevas.(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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