Ao longo da vida, somos bombardeados por perguntas que soam quase clichê: “o que você quer ser quando crescer?”, “qual é o seu sonho?”, “você é feliz?”. Perguntas que nos parecem urgentes quando somos jovens e que se tornam cada vez mais incômodas conforme envelhecemos, especialmente quando nos deparamos com a rotina, com as obrigações e com as pequenas e grandes frustrações do dia a dia.
Para muitos, a vida se transforma em um trilho — seguro, previsível, mas igualmente tedioso. A verdade é que, em algum momento, quase todos nós precisamos nos perguntar: como reinventar a vida? Essa é uma questão que, ao contrário das outras, não surge com uma resposta pronta.
Trata-se de um desafio, uma tarefa que exige coragem, desprendimento e um bom tanto de criatividade. Afinal, reinventar-se é redescobrir o sentido em meio ao caos, transformar o ordinário em extraordinário e ressignificar aquilo que fazemos.
A vida na zona de conforto é sedutora. Ela nos promete estabilidade, rotina e segurança. No entanto, o preço desse conforto é alto: frequentemente, ele se paga com a perda de sentido. Imagine um pintor que, por anos, reproduz as mesmas paisagens em suas telas. As primeiras obras são repletas de entusiasmo e paixão, mas, com o tempo, aquilo que antes era criação torna-se repetição. Algo semelhante acontece conosco quando paramos de questionar e explorar.
A zona de conforto é como um casulo: protege, mas também aprisiona. Reinventar a vida significa romper esse casulo para redescobrir o que nos motiva. E isso exige que enfrentemos nossos medos, nossos limites e nossas crenças mais arraigadas. Como nos lembra o poeta Fernando Pessoa: “Para navegar é preciso perder de vista a costa”.
A reinvenção da vida não acontece de uma vez só. Ela é composta por pequenos processos de “morrer” e “ressuscitar”. A cada escolha que deixamos para trás, a cada ciclo que encerramos, abrimos espaço para algo novo. Contudo, essa transição raramente é confortável.
Pense em uma pessoa que decide mudar de profissão após vinte anos no mesmo emprego. O medo de fracassar, de ser julgada ou de sentir-se perdida é imenso. No entanto, ao atravessar esse período de incertezas, ela pode se redescobrir em atividades que antes pareciam impossíveis. Como diz a escritora Clarice Lispector: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece”.
Reinventar-se também é um ato de humildade, de reconhecer que não sabemos tudo e que podemos aprender. A beleza desse processo está em perceber que o desconhecido não é um inimigo, mas um convite à expansão.
O papel do significado e a busca pelo sentido é o que torna a vida mais rica e plena. Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, afirmou que “a felicidade é um subproduto do sentido”. Não somos felizes porque temos bens materiais ou status, mas porque sentimos que nossas ações têm propósito.
Reinventar a vida muitas vezes significa ressignificar o cotidiano. Talvez isso não exija uma grande mudança, como mudar de país ou trocar de carreira. Às vezes, a transformação está nos detalhes: aprender um novo hobby, reconectar-se com velhos amigos, dedicar mais tempo àquilo que nos traz prazer.
Há quem veja a felicidade como um destino final, mas talvez ela seja, na verdade, o caminho. Reinventar a vida é uma forma de lembrar que a felicidade está na jornada, no processo de descobrirmos quem somos e no que acreditamos.
Não existe um mapa pré-definido, e talvez essa seja a maior benção: somos livres para redesenhar o trajeto quantas vezes quisermos. Como bem colocou o escritor Jorge Luis Borges: “Se eu pudesse viver novamente, trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Viajaria mais, contemplaria mais pores do sol”.
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ANIVERSÁRIO DAS PERGUNTAS ERRADAS
Reinventar-se é, em certa medida, aprender a viver com mais leveza, sem medo de errar. Reinventar a vida não é uma obrigação, mas um convite. Um chamado àqueles que se sentem aprisionados pela monotonia ou que desejam reencontrar o brilho no olhar. É um ato de coragem, mas também de amor-próprio.
Que possamos nos permitir mudar, evoluir e descobrir novos caminhos. Que possamos transformar nossa própria história em algo que nos inspire a cada dia. Afinal, como dizia Mahatma Gandhi, “Você nunca sabe quais resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”. Reinventar-se é, acima de tudo, fazer algo. E, ao fazê-lo, encontrar o sentido e a felicidade que tanto buscamos.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona, ainda, na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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