Voltando à VIDA

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Voltando à vida, restou-nos assistir a chegada dos argentinos a uma disputa mais gloriosa. Se é a melhor opção, somente saberemos no momento derradeiro, mas que a trajetória de nossa seleção trouxe muitas reflexões e acirradas discussões, isso não se pode negar. Por um motivo ou por outro, grupos se dividiram para “impor” seus pontos de vista e buscar influenciar os demais, tirando-os de um olhar ingênuo e beatificador de alguns dos nossos atletas.

Resta-nos esperar que esse encaminhamento de santificação seja mantido, agora que não temos mais nada a disputar; que os ídolos sejam mantidos em seus altares mas que ajudem o povo a sair deste caos a que se submete a sociedade brasileira, em especial aqueles que gastaram quase R$ 1mil num álbum de figurinhas. Já que são idolatrados, que ajam com igual força para minimizar a dor do povo.

Não falo nem da dor moral, da derrota contra uma equipe que foi inclemente contra nossos atletas, mas de uma dor física, de um povo mal nutrido, mal assistido pela segurança, pela escolaridade e pela saúde pública. Enfim, de uma dor intransferível, mas perceptível quando observamos um aglomerado de pessoas rumando pela vida para um destino qualquer.

Nosso final de ano, realmente, está uma pintura dantesca. Alguns caminhoneiros continuam acampados a espera de um resultado. Ao certo, pouco sabemos deste resultado, mas eles esperam por ele e, ao que parece, não encontrarão nada que os agrade, visto o fato que o futuro presidente da República já está diplomado, o que encerra s trâmites legais da Justiça Eleitoral, salvo melhor juízo.

Outro ponto dolorido de ser notado é a proximidade do Natal, com alimentos, roupas e brinquedos num preço mais elevado que as estrelas. Da maneira como está posto, poucos lares terão uma ceia farta, em função da disparidade de valores encontrados nos preços da alimentação básica, das roupas mais simples. Gêneros de primeira necessidade são vistos como artigos de luxo: carne subindo diariamente. Idem os demais: feijão, leite, tomate, cebola, banana, laranja. Sempre com a ideia de que é questão sazonal. Apenas o salário não é sazonal e tem um discreto aumento uma vez por ano.

Num outro olhar, temos a Covid fazendo estragos, enquanto a vacinação caminha a passos paquidérmicos: muitas doses sobrando e uma juventude despreocupada com a imunização, criando bolsões de surtos e internações na população com comorbidade e no grupo de idosos. Os municípios dizem que falta uma política estadual mais agressiva e o estado diz que falta organização nos municípios. Enquanto isso, os menos favorecidos geneticamente pagam o preço pela incompetência e inobservância de alguns.

Férias. Vestibulares. Festas natalinas. Chuva. Calor. Dengue. E, em seguida Carnaval. Novos tempos, novas propostas de vida, novas esperanças. Sempre na busca de novos caminhos, novos rumos, vamos seguindo, nem sempre com lideranças que nos indiquem boas saídas, mas avançamos em sintonia com o momento, de uma forma meio lúdica ou meio insana ou, ainda, meio capenga, mas vamos avançando e acreditando nos melhores dos dias.

Todo mundo correndo, agitado, acreditando nas reformas da vida e nas novas oportunidades. Pena que nem todos avançam em seus sonhos e ficam apenas na imaginação. Quando temos um sonho, ele precisa ser perseguido até que se torne realidade. Ai estaremos realizando nossos propósitos e transformando o tédio em prazer. Já nem me arrisco em caminhar pela filosofia da felicidade, em que todos têm que ser felizes, pois é mentira: ninguém tem que ser nada. Tem apenas de escolher seu trajeto. E é só…

Revalidar exames médicos, revisitar oculista, montar nova agenda com terapeuta, rever horários e prioridades no estudo de línguas estrangeiras modernas, separar e iniciar novos livros e novas “playlists”, fazer um balanço das relações prazerosas do ano que finda, ter clareza sobre as relações tóxicas, analisar as próprias atitudes tóxicas e, acima de tudo, ter em mente um plano de ação que garanta a autonomia e a autenticidade, no desenvolvimento da maioria dos dias a serem vividos, no novo tempo. Metas saudáveis e reais para nos entreter.

Assim, espantamos o tédio, buscamos o novo, reforçamos nossos planos de vida e temos garantido um ano novo cheio de novas propostas que nos permita sermos autores de nossas escolhas. Imersos em nossas escolhas e em nossas buscas, certamente estaremos mais envolvidos com as descobertas que, apesar de não serem inéditas, são suficientes motivadoras para nos mostrar que a roda continua rodando. O ineditismo nem sempre é premissa básica para nos trazer alegria de viver; a simples sensação de poder repetir uma proposta, da mais simples a mais elaborada, já nos garante motivos suficientes para nos fazer produtivos e inventivos.

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Penso que são sensações adequadas para que tiremos a derrota de nossa seleção de nossos pensamentos  e consigamos entender que temos mais do que Futebol em nossa sociedade; isso nos possibilitará buscar coisas menos sujeitas à mudanças ou variações ao gosto de um grupo pouco preocupado com o contexto social e cultural da nação e que pouco se atenta com os problemas de seus seguidores (lamentavelmente).

E seguiremos. Esperando do novo presidente. Do novo governador. Dos novos deputados. E de uma sociedade mais justa e culta que queira realmente mudar seu país. E seguiremos.(Foto: www.rau.ua/ru)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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