Quando eu sou o RESPONSÁVEL…

responsável

Em crônica anterior eu afirmei que a tecnologia não era vilã. Ela é apenas a tecnologia, criação do homem inteligente e moderno, que tem seu uso mal empregador; ela é desajustadora de comportamentos e merece ser observada com zelo, visto que nossa saúde mental se ressente deste cuidado. Quando eu sou o responsável, o fato de ser saudável passa por este cuidado muitas vezes negligenciado e zelar pelas emoções é gratificante e fortalecedor.

Assim como o psicólogo espanhol Marc Masip afirmou que o celular é a heroína do século 21, em seus estudos, ele informa também, que se você ficar ansioso ao imaginar um mundo sem Facebook, Instagram ou WhatsApp sua situação é muito complicada e comprometedora frente a tecnologia de comunicação.

Volto a dizer que, de uma maneira muito teórica, os vícios são todos vícios, não existe o pior ou menos preocupante, o mais fácil de largar e o mais complexo: não há muita diferença entre o vício em drogas e o vício no uso do celular. Existem, sim, algumas peculiaridades: as drogas nunca são bem usadas. Já o celular pode ter adequações e isso gera uma leve vantagem. A impossibilidade do uso do WhatsApp ou do Instagram ou ainda do Facebook é suficiente para que nós sintamos mal-estar, análogo à  síndrome de abstinência.

Estamos ainda descrendo dos estragos que o celular anda fazendo em nossas vidas: desde o distanciamento social, a negligência familiar, o trabalho excessivo e alteração da rotina de vida são as mínimas razões para termos cautela com seu uso. Claro está que o uso adequado e responsável do celular é nossa salvação em muitos casos: consultas médicas, conversar com amigos e familiares distantes, pagamentos e compras. Temos as vantagens, sim, quando usamos com moderação.

Óbvio que podemos diagnosticar nosso grau de dependência à tecnologia, ainda que não estejamos admitindo o vício. Ao notarmos quantas vezes pegamos o celular e entramos para verificar notificações, curtidas, mensagens, postagens, recados ou, simplesmente para iniciarmos um contato remoto estamos assumindo nossa necessidade de estarmos inseridos na cibercultura. A fissura por se fazer presente, comunicar-se e estar no mundo do outro (por isso os comentários, as curtidas, os matches), consumir ou copiar-colar alguma postagem que nos faça sentido, coloca-nos na estatística dos usuários desta rede que apenas cresce desordenadamente.

Estudiosos afirmam que estes são indícios de dependência ou vício. E a dificuldade está exatamente na proposta de que, em relação às drogas, já somos capazes de prever seu malefício físico e mental, mas as novas tecnologias todos nós usamos sem saber o tamanho do dano que podem causar. Somente de pensar que a paralisação delas paralisa o Mundo, já nos assustamos. É o caso de lembrarmos quando os bancos ficam com o “sistema” fora do ar ou os aeroportos se desregulam, diante de uma pane no cibermundo.

Ficamos alarmados ao ouvirmos sobre casamento de humanos com robôs ou que algumas civilizações já encaram com tranquilidade a relação entre humanos e sistemas operacionais (vale relembrar de muitos filmes que eram conhecidos como ficção e hoje são apenas constatações). Entretanto, não nos preocupamos ao verificarmos que os abraços se extinguirão e que a virtualidade será a tônica das gerações futuras, inclusive esta que está em crescimento e desenvolvimento, totalmente plugada, incessantemente.

Acredito que o real sempre vai superar o virtual: todas as invenções e invencionices são incapazes de dar o beijo que desejamos, o abraço que precisamos e o carinho que necessitamos, hoje e sempre. Acredito mesmo, ainda que de modo vago e impreciso, que o resto de humanidade e humanismo que ainda mantemos natos, mesmo que em estágio dormente, não conseguirão entender está dualidade que insistimos em conhecer pouco, em dar pouco sentido, em tatear sem aprofundar, por medo do desconhecido. Mas manterá o insano hábito de sermos humanos.

E ser humano cobra de cada um de nós a grande vontade de aglomerar, de abraçar e de beijar…somos assim. E tecnologia alguma dará conta de dizimar estes gestos tão humanos e tão queridos. Mas é preciso ser responsável. Temos de nos policiar para não sermos um ser híbrido e satisfeito com a imersão no mundo virtual. O real ainda fascina e provoca grandes emoções.

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Clínicas de desintoxicação de tecnologia estão se replicando e oferecendo tratamentos comportamentais para os problemas de saúde mental graves e até físicos. Há fortes indicativos de desastrosos resultados no desempenho acadêmico dos jovens e adultos, muitos e dos mais variados acidentes de trânsito que podem levar ao pior, sem contar com as crises de ansiedade, estresse, frustração, transtornos alimentares desencadeados nos usuários das redes sociais, via aparelho celular são os principais adoecimentos a que nos permitimos acometer.

O uso adequado e responsável do celular facilita e favorece sobremaneira a sociedade atual, em qualquer de seus setores e, em especial, aumenta o nível de conectividade da população mundial, mantendo grande número de pessoas numa relação direta, ainda que remota, com um número cada vez maior de adeptos e numa rede de contatos sempre mais volumosa. Então, o uso controlado e adequado sempre será bem vindo e necessário, para que não nos percamos de nós mesmo. Depende apenas de nós.(Foto: DroidBlue Tutorial/Youtube)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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