VOZ e magia

voz

Eu e minha esposa Cláudia amamos o Natal. Tempo de família, amigos e festa. Tempo de infância. Passávamos a noite de Natal na casa da tia Terezinha. O Papai Noel iria lá. Carlos foi escolhido para ser o Bom Velhinho. Eu o conhecia. Morava em frente de casa e sempre brincava comigo. Sua voz era familiar como a de todos os outros vizinhos.

Eu vivia nesse mundo mágico. Conhecia as pessoas pela voz e os espaços pelo ouvido e pelo tato. A cegueira não incomodava em nada minha infância.

Chegou a Noite Feliz(tia Terezinha sempre cantava essa música na noite de Natal). Nossos corações infantis explodiam de ansiedade.

-Que hora são pai?, eu perguntava.

A hora não passava.

Ele respondia:

-É quase meia noite.

Meia Noite!! O sininho tocava no jardim e nós pequenos gritávamos:

-Papai Noel!!! Papai Noel!…

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Carlos entrava na sala. Roupa vermelha, barba postiça, gorro. Dizia às crianças que era o Papai Noel, mas quando ele falou… Sem a visão das roupas para me iludir ouvi a voz amiga do Carlos. Era o Carlos. Eu estava acostumado a reconhecê-lo. Eu sabia que era ele. Mas também sabia que era o Papai Noel. E pronto. Não tinha importância. A ternura triunfou sobre a lógica.

Muitos anos depois entendi o significado daquelas noites. Quando crescemos e aprendemos a questionar nos convencemos que Papai Noel não existe.

Já mais velho, quando a maturidade abranda nossos corações, pude ouvir o sábio conselho de minha criança pequena. Sabia que era o Carlos, mas era o Papai Noel também. Minha Cláudia diz que ele existe. Tenho que concordar. Nós o faremos existir para levarmos às crianças todo o encantamento que vivi na casa de tia Terezinha, como a Cláudia na casa da tia Walderez, em nossas infâncias.(Foto: Cottonbro Studio)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA

Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. WhattsApp: (11) 982190402.

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