Rafael Grasso hoje tem 31 anos e mora na Alemanha. Em Cabreúva ele era Rafael de Almeida Jesus Viana. Há duas décadas, ele e três irmãs foram apreendidos pela Justiça. Ficaram em um orfanato por cerca de um ano, em Jundiaí. “Eu tinha 10 anos quando tudo ocorreu”, lembra Rafael com dificuldade para escrever em português. Mas muito pior do que não se lembrar do idioma é não ter a mínima ideia dos motivos que levaram a Justiça a retirar os quatro irmãos dos pais, José e Ana Luisa. “Eu não sei até hoje o que aconteceu”, explica. A separação dos irmãos foi drástica. Cada um foi adotado por uma família diferente. Rafael foi para a Itália, assim com duas das suas irmãs. A quarta ficou com uma tia, em São Paulo. Há seis anos, ele conseguiu se reencontrá-la.
A primeira a ser adotada foi Thamires. “Fiquei sabendo pouco tempo depois. Não pude fazer nada”, afirma. Em seguida foi a vez de Fernanda partir. Restaram Rafael e Solange (foto ao lado). Ambos continuavam no orfanato cujo nome ele não se recorda. “Um dia disseram que uma família da Itália queria me adotar juntamente com minha irmã. Eu falei que não queria. Eu me lembrava muito do meu pai e da minha mãe, que chegaram a nos visitar no orfanato e disseram que iriam nos tirar dali”, recorda.
Só que os pais não conseguiram recuperar as crianças. “Fomos levados, eu e minha irmã, para uma casa em São Paulo. Lá estava a minha família nova. Fiquei muito triste porque queria meus pais de verdade. Mas não podia fazer nada. Depois de três meses convivendo com os italianos, eles perguntaram se eu queria ir embora com eles para a Europa. Eu estava cansado e estressado com tudo aquilo e acabei concordando. A Solange não aceitou”, afirma Rafael.
Os pais adotivos disseram que pretendiam voltar ao Brasil algum tempo depois e convencer Solange a ir para a Itália também. “Não era verdade. Só oito anos depois é que minha família adotiva foi até um tribunal de São Paulo para tentar localizar e adotar a Solange. E disseram que ela já tinha sido adotada”, informa. Na verdade, uma tia por parte de pai conseguiu a guarda da menina.
Na Itália – Rafael, que é projetista de microchips, acabou descobrindo que os pais adotivos tinham o telefone da família que havia adotado Fernanda. “Fiquei contente. Mas ainda não tinha notícias da outra irmã, a Thamires, que é a mais nova de todos”, lembra.
Ele se casou com Valentina e um ano depois nasceu Thamires. Rafael deu à filha o nome da irmã para homenageá-la. “Minha mulher ficava em casa o dia inteiro na internet tentando achar a caçula. E foi ela quem descobriu que a família que havia adotado Fernanda tinha contato com os pais italianos de Thamires. “Dei graças a Deus quando soube que ela era bem cuidada. Fiquei mais tranquilo. Pouco tempo depois nasceu meu filho, o Benedetto. Tenho ainda o Alessandro”.
Alemanha – Como a esposa de Rafael já tinha vivido na Alemanha, o casal decidiu morar naquele país. Os irmãos se reencontraram na Itália e também no outro país. Conversaram, choraram. Mas seria impossível dizer que mataram a saudade. Seriam necessários muitos anos para isto acontecer. Na foto principal, Rafael e as duas Thamires da vida dele. Abaixo, a irmã e Valentina, esposa de Rafael.
Alguns anos depois, o Facebook trouxe a notícia que fez Rafael desmoronar. “Estava no trabalho quando peguei o telefone e acessei minha rede social. Uma mensagem avisava que a Thamires tinha morrido em um hospital. Ela tinha 24 anos e faleceu por causa de um tumor no cérebro”.
A morte de Thamires fez com que Rafael acelerasse o processo do reencontro com a família. Antes de morrer, a irmã deixou muitas informações para ele na internet. Através destes dados, ele conseguiu rastrear Solange e voltou ao Brasil. “Fiquei uma semana com minha família biológica. Reencontrei meus pais e a minha irmã. Agora estou em contato permanente com todos”, conclui. Abaixo, Rafael e os pais.
A expressão ‘vida nova’ se aplica muito bem ao caso de Rafael. Uma das irmãs já se foi. Embora o reencontro tenha ocorrido e a família tenha contato virtual frequente, o tempo se encarregou de apagar os registros das quatro crianças que um dia foram tiradas de casa. Mas não há uma foto antiga de Thamires, Fernanda, Solange e Rafael juntos…
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