O calendário foi primoroso em acertar as datas deste ano, pelo menos no que se refere ao nosso Brasil. Um Brasil de todos, e todos têm o verde e amarelo da bandeira no coração, não uma camisa da seleção. Um Brasil que conquistou a democracia, que fez uma nova Constituição em 1988 que não permite golpe de estado e muito menos uma ditadura. Dizia eu sobre datas e, neste ano de 2024, o golpe de 1964 completou, no dia 31 de março, 60 anos. O presidente Lula pediu que não se falasse sobre a data porque não é bom rememorar datas trágicas. E neste ano de 2024, o dia 31 de março caiu num domingo, o Domingo de Páscoa e a data da ditadura passou despercebida. Os quartéis não lembraram da data, Bolsonaro obedeceu Lula e nada comentou. Vida segue…
Em 1985, quando José Sarney assumiu a Presidência, interinamente, já que Tancredo Neves, o presidente eleito no Colégio Eleitoral, tinha sido internado um dia antes e morreu sem assumir, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, que deixava o poder maior da República, saiu pelas portas dos fundos do Palácio do Planalto, sem passar a faixa ao seu sucessor. Claro que no dia 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência sem seu antecessor lhe passar a faixa. Ele estava nos Estados Unidos e não tinha sido um general. Fora capitão!
Figueiredo tinha frases fortes quando falava com a imprensa que ele odiava: “Prefiro o cheiro de cavalo do que do povo”; “peço ao povo que me esqueça”; “povo que não sabe escovar os dentes não está preparado para votar”. Estas são algumas das falas do general que não passou a faixa presidencial. Pelo menos, num ponto, o povo obedeceu: esqueceu o homem!
O objetivo dos militares que deixavam o poder junto com Figueiredo, prometeram que jamais assumiriam novamente o poder, que bastava uma experiência. Mas a democracia brasileira teve dificuldade em se estabilizar: a economia sempre derrapou com planos Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro e por aí vai. Fernando Collor teve problemas no poder e perdeu o cargo. Fernando Henrique criou o Real, depois de ser ministro da Fazenda de Itamar Franco que ressuscitou o Fusca. Lula teve problemas com o Petrolão; Dilma perdeu o poder e o PT diz, até hoje, que houve golpe. E veio Bolsonaro…
Bolsonaro ficou conhecido pelas frases “Não sou coveiro!” e “Sou Messias mas não faço milagres”, nos tempos da pandemia, mas “pintou o clima!” marcou o homem que era pródigo em dizer palavrões.
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Depois disso tudo, apareceram os casos das joias, da falsificação do atestado de vacina, a minuta do golpe, e o envolvimento de uma série de militares dispostos a esquecer promessas feitas em 1985. São muitos militares que estão sendo ouvidos sobre toda esta situação, mas o que chama a atenção é a postura do general e senador, Hamilton Mourão, que foi vice de Bolsonaro e que se elegeu às custas disso. Mourão enalteceu o golpe, a ditadura, afirmando que 31 de março de 1964 não deve ser esquecido.
Ele enaltece o golpe, a ditadura que torturou, que matou, que prendeu que censurou, que calou, que exilou. Mas… (e tem sempre um mas…) pesquisa da Datafolha, publicada no final de março, diz que 63% da população diz que a ditadura militar deve ser esquecida. Então, vamos esquecer o 31 de março de 1964!(Foto: Memorial da Democracia)

NELSON MANZATTO
É jornalista desde 1976, escritor, membro da Academia Jundiaiense de Letras, desde 2002, tendo cinco livros publicados. Destaca-se entre eles, “Surfistas Ferroviários ou a história de Luzinete”, um romance policial premiado em concurso realizado pela Prefeitura de Jundiaí. Outro destaque é “Momentos”, com crônicas ligadas à infância do autor.
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