Às vezes, a gente acredita que, para entender o mundo com suas complexidades, precisa ter diploma pendurado na parede, pós-graduação, doutorado, certificado internacional em geopolítica ou curso de filosofia política com chancela de Harvard. Mas a verdade é que, muitas vezes, bastava apenas ouvir a voz da sabedoria popular — aquela que ecoa das bocas dos nossos pais, tios e avós, que sempre tinham um ditado na ponta da língua, prontos para dar uma lição entre uma bronca e outra. Porque, sinceramente, se a galera que se aventurou na tragédia do 8 de janeiro em Brasília tivesse escutado meia dúzia desses conselhos populares, hoje não estaria “tomando café de canequinha” na Papuda ou na Colmeia, posando de vítima nas redes sociais.
Vamos começar com aquele clássico que toda mãe brasileira já disse ao ver a gente saindo de casa com uma turma meio duvidosa: cuidado com as companhias, porque, se a polícia chegar, leva todo mundo. “Até explicar que focinho de porco não é tomada…”.
E não é que é isso mesmo? Muita gente que estava lá achou que o 8 de janeiro era um passeio cívico, uma excursão patriótica com direito a bandeirinha verde-amarela, camisa da seleção, Bíblia na mão, lanche e foto em frente ao Congresso. Mas a coisa descambou: quebradeira, invasão, vandalismo, cenas que chocaram o mundo. E agora estão lá, diante da Justiça, tentando explicar que não sabiam de nada, que só estavam “acompanhando”. Mas convenhamos: nessa altura do campeonato, ninguém quer saber se era confusão ou tour do zap. O estrago está feito, e o argumento de “desavisado” já não cola mais. Como diria aquele outro ditado que todo mundo conhece: “Agora não adianta chorar o leite derramado.”
Eles invadiram, quebraram, sentaram na cadeira do presidente do Senado como se fosse cadeira de balanço da casa da avó. Falando de avó, teve até uma que defecou em pleno plenário, como se fosse a casa dela. Gravaram vídeos, tiraram selfies, fizeram lives, transmitiram tudo ao vivo pelo Instagram. E agora? Agora estão sentados no banco dos réus querendo voltar no tempo, apagar as provas e dizer que foi mal-entendido. Mas o leite já foi, o copo já quebrou, e a tal “boiada patriótica foi para o brejo”.
E o mais impressionante é que boa parte dessa galera foi na onda. Foi porque o outro foi. Foi porque alguém compartilhou um áudio no zap dizendo que “era agora ou nunca”, que “o Brasil ia mudar”, que o “pastor disse que Deus mandou falar…”. Foi na empolgação da multidão, no calor do momento.
“Maria vai com as outras”, com orgulho e tudo. Com o peito estufado, bandeira nas costas e a crença de que estavam salvando o país de uma suposta “ameaça comunista”. E aí, meu amigo, deu no que deu, e aprenderam que “em boca fechada não entra mosquito” e que o “peixe morre pela boca”. Naquele 8 de janeiro, ofenderam, desdenharam de Ministros da Suprema Corte, porém esqueceram que “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”.
Sabe aquela frase que toda criança já ouviu ao tentar convencer a mãe a fazer algo que “todo mundo está fazendo” e ela responde: “Se todo mundo pular no poço, você vai pular também?”. Pois é. Muita gente pulou. Só que não era poço, era armadilha mesmo. E agora estão se debatendo dentro dela, tentando escapar das consequências. Se tivessem ouvido a sabedoria materna, teriam evitado processo judicial, vergonha nacional e, principalmente, teriam evitado virar meme nas redes sociais. Outro ditado que cabia muito bem naquele momento é: “nem tudo que reluz é ouro.”
O brilho da bandeira, o grito inflamado, os discursos emocionados, tudo isso iludiu muita gente. Ficaram tão encantados com as promessas de uma revolução que não perceberam que estavam sendo usados. Foram conduzidos por figuras que vivem de espalhar fake news, fazer alarde e alimentar teorias conspiratórias. Caíram como quem vê uma nota de cem no chão e, ao abaixar, tropeça num buraco. Na verdade, a única coisa que reluziu naquele 8 de janeiro foi o giroflex da Polícia Federal. E aí vem mais um ensinamento da vida: “À noite, todos os gatos são pardos.”
Muita gente apostou que, no meio da confusão, ninguém seria identificado. Que dava para fazer, filmar e sumir. Esqueceram que Brasília tem câmera até na sombra da árvore da Praça dos Três Poderes. Teve reconhecimento facial, cruzamento de dados, rastreamento de redes sociais e geolocalização. Foi um CSI brasileiro sem roteiro de ficção, apenas com fatos — e muita incompetência exibida ao vivo.
“Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. É o que diz a sabedoria ancestral. Foram atacar a democracia acreditando que ela era frágil, que não teria reação. Mas ela respondeu. E respondeu com toda a sua força institucional: Polícia Federal, Ministério Público, STF, imprensa livre, processos e julgamentos públicos. Descobriram do pior jeito que democracia não é apenas voto, é também assumir seus atos e consequências.
E tudo isso poderia ter sido evitado com outro conselho clássico: “Antes só do que mal acompanhado.” Mas não, preferiram ir em bando, seguir líderes messiânicos, líderes “Olavistas”, confiaram em influenciadores que acreditam em Terra plana, que prometem o céu mas entregam o inferno. Seguiram teorias dignas de novela mexicana: que o Exército ia intervir, que havia um plano secreto para salvar a nação, que o povo tomaria o poder com apoio das Forças Armadas e com as bênçãos de “Deus”. E o tal “grande líder”? O “estrategista”? O “Messias”? “Cão que ladra não morde.”
Enquanto a base dele corria da polícia, se escondia atrás da Bíblia como um escudo improvisado e chorava no camburão, ele estava onde? No exterior. Com ar-condicionado, fast food e sorrisinho nas fotos com fãs. Fugiu da luta, abandonou os seguidores, fingiu que não tinha nada a ver com aquilo. Mostrou que o lema era: “Um filho teu não foge à luta?”. Que nada. Foge sim, de medo da cadeia e com passagem comprada antecipadamente para a terra do Tio Sam, ou melhor, no caso dele, para o colo do Tio Trump.
No fatídico dia 8 de janeiro de 2023, alguns souberam se esquivar, enquanto outros entraram de cabeça sem pensar nas consequências. Como diz o ditado: “Malandro é Malandro e Mané é Mané.” Os espertos, ou malandros, apagaram rastros, já os ingênuos, os manés, transmitiram tudo ao vivo e hoje lidam com as consequências. No fim, quem jogou sem estratégia caiu na própria armadilha.
É, meus caros patriotas, espero que tenham aprendido! Ou pelo menos deveriam ter aprendido uma lição que vale ouro: respeitar a democracia, pensar antes de agir e, sobretudo, desconfiar de soluções mágicas para problemas complexos. Porque a vida é complexa, a política é complicada, e quem tenta encurtar o caminho democrático pela força acaba tropeçando no próprio orgulho. Ou seja, “a rapadura é doce, mas não é mole”.
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A sabedoria popular, muitas vezes, não é só frase feita. É filosofia de vida, é sobrevivência, é a história acumulada de quem já viu de tudo um pouco. Ela serve de guia, de alerta e de limite. E se essa turma toda do “bem” não tivesse escutado os “coachs de revolução” do WhatsApp e respeitado a sabedoria popular, talvez hoje estivesse em casa, em paz com seus filhos (que inclusive são usados na tentativa de uma comoção popular), ao invés de estar respondendo a processo, tentando limpar o nome e, literalmente, a sujeira que fizeram e apagando as fotos que corroboram com crimes que eles mesmos postaram com tanto orgulho nas redes sociais. Meus caros, “quem sai na chuva é para se molhar”. No final das contas, como já dizia minha avó: “Quem planta vento, colhe tempestade” e, no caso do 8 de janeiro, “quem planta golpe, colhe cadeia”.(Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

REINALDO FERNANDES
É assistente social, pós-graduado em docência no curso superior e em Gestão em Políticas Públicas, tutor presencial na Faculdade Anhanguera, membro titular do CMAS, com experiência em políticas públicas, diversidade e inclusão social. Foi o primeiro coordenador dos Direitos das Pessoas com Deficiência em Jundiaí”
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