Quando o BRASIL começará a andar?

andar

Pergunto-me se agora o Brasil começa, passado o Carnaval, ou se esperará a Páscoa e os Jogos Olímpicos para iniciar seu ano. Não sei responder, porque me parece que a inércia está imperando faz um bom tempo e, não será este ano que um calendário colocará em marcha aquilo que tanto se tentou prorrogar: enxergar com seriedade o que precisa ser mudado, já disse isso em crônica anterior. Afinal, quando o Brasil começa a andar?

Aí está o grande problema de todos nós, que temos olhares para as mudanças, mas tememos iniciar o processo, devido a situações várias que se tornam um impeditivo, no mundo como um todo. Falo de uma tomada de decisão que é alguma coisa que preocupa a todos os que têm juízo, justamente por ser uma iniciativa que mobilizará nossas forças e nossas atitudes, em especial, porque não serão palavras que se manifestarão, mas ações que tomarão formato de grandes empreendimentos e transformações.

Tal empreitada demanda planejamento e coragem. Vejamos que é necessário planejamento para ter tempo de analisar, estudar as estratégias e programar as ações a serem desenvolvidas no processo transformador e olhares e gestos estratégicos para agir com segurança, nas diversas áreas. Sempre toma tempo e astúcia ser inovador e querer transformar algo que já está sistematizado e alicerçado, estando bem ou não, de modo que um belo e robusto planejamento favorece às iniciativas futuras, sem pôr em risco demasiado tudo o que se pretende.

Por outro lado, carecemos de coragem, que é vital e fatal: sem ela não avançaremos; estaremos atados e frágeis com a nítida sensação de que algum espectro ou fantasma nos ronda, nos espiona e nos amedronta de modo a nos silenciar ou a nos anestesiar; a coragem é a mola  que nos  permite reconhecer e redescobrir as nossas limitações e mobilizar-nos para superá-las, sempre criando um clima de muita expectativa e de muita surpresa, porque romperemos o antigo e aportaremos no novo, no futuro.

Deste modo teremos a expectativa de situações mais promissoras, de fatos mais equilibrados e de pessoas mais lúcidas, ainda que lutemos contra nossas idealizações tendo em vista que não saberemos onde dará nossa intenção, de maneira que podemos acertar nos nossos investimentos, mas podemos fadar ao insucesso e não conseguirmos ver o fim da nossa empreitada. Justamente por sermos afoitos demais ou por termos retardado demais nossa ação de transformação. Claro que será sempre uma ação inusitada e que despertará curiosidade, justamente por se tratar de uma inovação e uma tremenda capacidade de criar propostas e espaços para mudar a história. A nossa história.

Este é o sinal dos inovadores (novamente recomendo o filme fantástico do Bertolucci: Os Sonhadores). Os inovadores são e serão eternos Dom Quixote de la Mancha, a perseguir seus inimigos travestidos de moinhos de vento e, em nosso caso, de brasileiros que não percebem o país andar, parece dizer: vá por onde quiser, mas vá; não deixe seus sonhos guardados, ou rabiscados num papel ou digitados num bloco de notas. É preciso andar, se movimentar, agitar. Transforme-se, mexa-se, recrie-se, repense. E nunca esqueça o que prometeu a si mesmo. Lembre-se de que tem muita vida esperando por você ali, à sua frente. E, então, Dom Quixote volta a montar em seu cavalo e segue seu rumo…

Aconteça o que acontecer, é preciso nos libertarmos da inércia, ainda que o futuro apenas nos reserve surpresas. Entretanto, a surpresa, essa companheira de Vida de todos nós, é um combustível que nos aproxima do inusitado, que nos empurra para o desconhecido e nos surpreende pelas conquistas e pelas derrotas; somente assim tomaremos nossos rumos para a concretização dos sonhos e construção do futuro. Se formos positivamente surpreendidos, teremos mais disposição para avançar e ludibriar as dificuldades que, certamente, aparecerão. Estaremos mais seguros e fortalecidos.

Pode ocorrer da surpresa ser negativa, o que nos causará uma certa apreensão e temor diante do novo, fazendo com que diminuamos a velocidade de avanço ou a meta a ser seguida, entretanto, sempre poderemos nos surpreender diante do inesperado, indo para cima do infortúnio e revertendo o processo. Sempre. Quantas não foram as vezes em que vencemos uma situação agressiva que se apresentava impossível e sem solução, porém nossa habilidade social e mental fortaleceram nossas estratégias e, de repente, viramos a mesa?

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Este é o poder da nossa resiliência. Nosso foco na ação e nossa impetuosidade permitem que possamos andar para frente, percorrer caminhos difíceis e impensáveis que nos permitam avançar além de nossos próprios limites, possibilitando que construamos um espaço melhor e um futuro mais saudável, sempre baseados em nossa perspectiva cognitiva e afetiva…nada é apenas pensamento nem tão pouco somente emoção: o conjunto nos conduz com mais prudência e firmeza.

Mas até para sermos resilientes precisamos saber quando o Brasil vai começar a andar. Num ano de eleição, de Carnaval no inicio do mês, de jogos olímpicos, de duas guerras que envolvem problemas territoriais, religiosos e étnicos, de uma culpabilidade criminal que não vemos avançar e de um salário mínimo pífio, fica difícil saber se este não será um ano que não existiu.(Foto: Bia Santana/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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