Estamos sempre revendo nossas amizades, nossos trajetos e nossa Vida. Poucas são as coisas que surgem sem que haja a possibilidade de revermos sua origem. Geralmente temos cuidado suficiente para optarmos pelas fortes lembranças e nos viramos bem, diante das alegrias ou dores. Geralmente. Mas em outras vezes somos guiados pela melancolia e ficamos reféns de nossas saudosas memórias, perdidas pela vontade de viver de novo aquilo que um dia fora bom.
É assim que percebemos que a felicidade vem de dentro: vem de nosso interior que vai dar o real significado e valor ao que merece ser valorizado. É nosso interior que sabe o que é melhor para nós, em cada momento de nossa Vida, ainda que vacilemos e nos deixemos guiar por sentimentos e emoções traiçoeiras e muito sutis, que poderiam bem passar desapercebidas, mas temos a mania que mexer em feridas não cicatrizadas…
Quando estamos naqueles dias de muita alegria, de pensamentos muito bem adequados e saudáveis, conseguimos estabelecer um roteiro de bastante fluidez e decisão. Nestes momentos não temos nada que nos segure nem que nos desvie de nossos objetivos. Tomamos a melhor decisão e arcamos com todas as consequências, pois fizemos a escolher certa para o momento certo. É quando dizemos que os pensamentos positivos atraem as coisas boas. Entretanto, é apenas o fato de termos acertado na escolha e temor tomado a melhor decisão. Claro que ficamos felizes.
Em situações desta natureza haverá uma correspondência direta com as atitudes dos que estão em nossos círculos mais próximos: estamos predispostos a ser gentil com as pessoas que nos respondem com gentileza. Tal propósito se encarrega de atingir o melhor alvo e de recolher as melhores respostas, como se houvesse uma fluidez deste bom humor entre as pessoas. Realmente isto é uma situação real, de forma que o carinho resulta em carinho, o bem resulta no bem e as relações interpessoais se fortalecem e estendem tentáculos que envolvem outras pessoas que nos circundem. Sempre será verdadeiro.
Na legitimidade da correspondência afetiva, não podemos deixar de perceber que o retorno é algo presente em qualquer circunstância: pessoas mal humoradas têm em seu entorno outros não bem humorados, que vibram na mesma sintonia. O que vale dizer, então, que quando estamos de bom humor atrairemos outras pessoas igualmente felizes e que esta relação será tremendamente rica de sucesso e realizações. Podemos arriscar a dizer que os sorrisos são contagiosos.
Além dos neurotransmissores que são lançados em nossa corrente sanguínea, a proximidade de pessoas queridas e agradáveis nos traz conforto e confiança, deixando-nos mais seguros e satisfeitos de modo a termos mais assertividade e mais convicção em nossa conduta; sorrisos abrem portas e facilitam contatos humanos saudáveis. Melhoram os dias das pessoas, de fato.
Seria inocente achar que apenas os sorrisos edificam uma amizade; apesar de serem contagiosos, a gentileza é componente de uma relação madura e saudável, tanto quanto a confiança e o respeito. Este “combo” é uma forma de garantir que as relações humanas sejam as mais flexíveis e saudáveis possíveis, em especial, num tempo em que a fugacidade e a negligência estão tomando caminhos totalmente equivocados.
Obviamente que apenas fracassa quem desiste, mas quando os laços afetivos se tornam frágeis e pouco resistentes, sem uma solidez ideal que sobreviva a algumas descompensações e desagrados, é preciso que a vontade de manter a amizade seja maior que os arranhões que se possa ter entre amigos. Quando pensamos em fortes lembranças, sempre nos ocorre algo de um passado remoto ou próximo, que fique entre uma traição, um desrespeito, um vacilo ou um mal entendido, fruto de uma amizade que se fragiliza e se auto destrói por falta de compreensão.
Pessoalmente acredito que tudo possa se resolver, até que não haja desrespeito, é claro! Muitas vezes a situação se torna estranha porque nosso imediatismo nos obriga a reagir, sem um prévio exame da situação, mas percebo que as pessoas, em suas diferenças, reagem de forma buscar aquilo que melhor lhes parece, diante de cada setor da Vida privada, fazendo com que nos fortaleçamos ou nos distanciemos dos outros.
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As fortes lembranças são situações que trazemos em nossas memórias e aguçamos umas mais do que outras, em razão das marcas afetivas que as tornam “fortes” e que se transformam em perenes, a cada oportunidade. Apenas me pergunto por que as lembranças mais doloridas são mais lembradas e as lembranças mais saudáveis são poucas vezes alçadas ao consciente. A razão seletiva de nosso cérebro fazer estas escolhas não deve ser motivo de muita especulação, mas seria excelente se avivássemos tudo de bom que já nos ocorreu, deixando-nos felizes por mais tempo.
Que consigamos trazer à tona por mais vezes as fortes lembranças de nossos amigos de infância, de nossos pais e professores iniciais, dos locais onde fomos muito felizes e, até mesmo, das risadas que demos por razões tão simples e tão banais. Essas fortes lembranças que seriam muito bem vindas.(Foto: Lisa Fotios/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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