Nesse dia dois completei meus 59 anos, à porta de figurar entre as minorias protegidas por lei, no caso o Estatuto do Idoso, o que não me sinto de modo algum mentalmente, mas meus joelhos gostam de lembrar. Muito menos bonito do que dizem que fui (kkkk), mas muito mais experiente (acho), o tempo de aniversariar vale algumas reflexões.

Nessa época sempre lembro dos que se foram de minha vida, mas não de minhas lembranças, ambos precocemente: meu pai Arnaldo, aos 50 anos (a Praça dos Motoqueiros na Avenida Nove de Julho leva o nome dele), e minha irmã Liandra, a mais inteligente dos quatro irmãos, aos 38. O primeiro perdeu para um câncer físico, a segunda perdeu para um câncer de alma, ambos inevitáveis, imprevistos e cruéis. Estarei aqui para torná-los eternos enquanto viver…

Lembro muito também do que tenho feito de minha vida e não me arrependo, porque faço o que gosto, como operador do Direito, e tenho uma linda família, que me dá muitíssimo mais satisfação do que preocupação. Minha ex-muher é uma querida amiga; minha mulher uma companheira inseparável, minha mãe, meus filhos e netos, genro e noras, irmãos e sobrinhos motivos de orgulho e de estímulo.

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Mas o mais interessante é que nessa época lembro também de como gostaria de ser, embora não consiga. É uma historinha simples, filosofia de um índio sioux, que perguntado sobre o que importa na vida, responde que são dois postulados. Primeiro postulado: não se preocupe com as coisas pequenas. Segundo postulado: TODAS as coisas são pequenas! Se vivêssemos assim, por certo não daríamos a relevância que damos às diferenças que nos caracterizam, que identificam os seres humanos, e não haveria guerras por religiões, por nacionalismos que nada significam, por supostas terras por direito divino, por poder econômico, ou, na verdade, por motivo algum! Poderíamos viver numa harmonia que hoje é puramente utópica, porque partimos de pressupostos inversos aos do velho índio: TUDO nos incomoda, TUDO nos importa, TUDO faz com que queiramos prevalecer nossas vontades; tudo, enfim, conduz ao litígio e à beligerância, fazendo com que Sartre tenha tido razão quando disse que “o inferno são os outros”, o que evidentemente nos inclui…

Apesar disso, sigamos em frente. Na medida do possível, dando importância apenas ao que realmente importa. E que é mesmo invisível aos olhos, como diria, no livrinho das misses, o Pequeno Príncipe. (foto acima: www.9dades.com.br)

LEVADACLÁUDIO ANTONIO SOARES LEVADA
Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre/USP e Doutor/PUCSP em Direito Civil. Professor e Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Unianchieta. Professor da Pós-Graduação da PUCSP em Direito Civil. Diretor Jurídico da Associação Paulista dos Magistrados.