Nem sempre as coisas saem como planejamos. Aliás, na maioria das vezes somos surpreendidos pelo inesperado e isso mostra o nível de vulnerabilidade a que estamos sujeitos na inebriante arte de viver. Sempre ficamos surpresos e, até, pensamos que aquilo foi “plantado” para nós. Aquilo foi escrito para mim. Aquilo foi dito para mim. Aquilo foi feito para mim. Mas não, meus olhos e meus sentidos percebem aquilo que, no momento, quero perceber.
O que significa isso? Que assumimos algumas posições e reagimos a elas, como se tudo fosse dirigido a mim, enquanto o Universo gira aleatoriamente e, de forma inesperada, nos vemos observando algo que nos diz respeito, algo que faz parte de nossa vida. Semelhante ao “déjà vu”, que é uma forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto oujá ter vivido ou já ter ouvido alguma coisa ou situação de fato desconhecida para mim.
Assim são as crônicas que publico e peço que sejam compartilhadas pelos que gostaram do tema e da forma de escrita. Muitas vezes recebo perguntas de amigos que dizem: foi para mim? Ou ainda: era isso que conversamos semana passada. No entanto, como descrevo o cotidiano, tudo o que ronda meu contexto e reverbera em minha cabeça, eu trago para as crônicas. Confesso que os comentários sobre o atua BBB 2022 têm me feito refletir sobre o jovem ali exposto e o jovem que assimila tamanhas barbaridades.
Sim, falarei sobre o BBB 2022. Diante de minha ótica e da ótica daqueles que compõem meu círculo social; isso é viver em sociedade e não podemos nos dar ao luxo de vivermos somente numa zona de conforto, onde assuntos polêmicos não sejam percebidos e resolvidos por nossa cabeça tumultuada. Apenas acredito que não seja preciso absorver todas as máculas e esplendores expostos pelas mídias sociais.
Entretanto é preciso fechar um ciclo iniciado quando me propus a trazer reflexões sobre temas de conduta e filosofia, iluminando (ou não) alguns espaços que nem sempre estamos dispostos a enxergar: são as sombras, que todos temos (e viva a Psicanálise!!!) e optamos por esquecer ou negligenciar. Porém existem e, num determinado momento, deverão ser analisadas com mais carinho e profundidade, mesmo que queiramos escamotear. As dificuldades em tentar enxergar são sempre seguidas de propostas de reformulação, mas estas são de difíceis operacionalizações, quando não se quer enxergar a necessidade de mudança interna.
Não, não é indireta nem é mensagem endereçada a ninguém: é o que realmente acontece. Ou enxergamos a necessidade de mudança ou somos mais um “alecrim dourado” que não precisa assumir erros, não precisa mudar nem precisa pensar numa mudança de conduta. Sim, temos essa atitude por estarmos numa zona de conforto e assim, não que nada a mudar, os incomodados que se mudem. Simples e pouco produtivo.
Porém, entramos num outro momento e numa outra leitura sociocultural, que nos possibilita repensar as novas mídias: incrível como num momento pandêmico como este, ainda exista tempo e olhares astutos para os “youtubers”. Absurdamente mal preparados e com idéias fugazes sem sustentação, que se amarram em visibilidade e ajuda de custo, com venda de produtos ou criações. Realmente produtos custam e criações merecem ser postas à venda, mas preparação é fundamental.
Ainda atravessaremos estes anos futuros vendo o apogeu desta turma sem formação e, às vezes, sem noção, imprimindo suas ideias frente a muitas coisas que já temos expertise de relações fundamentadas em experimentos e constatações. Ah, mas o tempo passou….ah, mas hoje é assim…sim, o tempo passou e hoje é assim, por isso temos uma juventude amorfa e apolítica que tem muito pouco a oferecer para um mundo sequioso de novas propostas consolidadas e robustas para atingirmos um patamar mais humanizado e inteligente.
É bem isto que vemos nessas últimas versões de BBBs, em que os participantes, os Brothers, se sentem notórios e vips quando ao menos não conseguem emitir uma opinião consistente. Os diferenciados são defenestrados por serem diferenciados. A exclusão se faz ao contrário. Mas, conforme escuto, “as minas pira” e os “boy delira”. Piram e deliram com as bundas, coxas, peitos e roupas, porque o mercado livre está disponível e o que se quer é “gozar como gozo alheio”. Vãs loucuras de vãs cabeças ocas.
Coisas do momento? Coisas da atualidade? Não, coisa do pós-modernismo em que o consumismo chegou as raias de consumir os efeitos midiáticos, como bem ilustra o filme “Ela”, já rodado no mercado cinematográfico, mas pouco assistido porque é preciso pensar, para entendê-lo. Nada contra a relação interpessoal do homem com o sistema operacional, aliás, nada contra as relações quaisquer que se possam pensar (cada um se relaciona com seu cada um, diga-se de passagem). Porém, causa espanto esperar retribuição daquilo que não consegue se autoamar.
Relações interpessoais. Roda-se e esbarra-se nelas, como se fossemos sugados pela força centrífuga que alimenta a corrente humana de uma existência sedenta de amor. Mas que tem medo de amar, que tem medo de se entregar, medo de se conhecer e de ter que mudar a leitura de mundo para assumir outros horizontes, outros espaços, outras perspectivas. O que será que tanto procuramos? Será que a Alice, do país das maravilhas, não foi mais glamorosa e sensata, e encontrou seu espaço e seu desejo?
MAIS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO
Em que falhamos ao buscar nossos desejos em propostas tão fúteis? Por que almejamos propostas tão materiais e vilãs, quando o invisível nos oferece mais condições de crescermos internamente? Conversas intimistas distanciam pessoas, justamente por serem intimistas, porém, o que é o amor senão o ápice do intimismo? Vale lembrar que amar não é a palavra dita (fácil e volúvel como as pombas, já dizia o poeta) mas ações, que são concretas e contundentes.
Entretanto, ai mora o perigo: amar pede entrega. Entrega pede aceitação. Aceitação pede mudança. Mudança pede sacrifício. Sacrifício pede esperança. Esperança pede liberdade e a corrente não terá fim. Amar é o verbo e a ação mais complexa que perseguimos na Vida. Como na “Balada del Loco”, de Piazolla, onde saímos a bailar, na rua, entretidos com o coração a extravasar a emoção maior de viver o amor. De fazer coisas que demonstrem este sentimento e de se permitir ser amado. Inebriante sensação a de estar amando.
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport
VEJA TAMBÉM
ESPAÇO PARA ERRAR AJUDA NAS DESCOBERTAS, AFIRMA EX-ALUNO DA ESCOLA PROFESSOR LUIZ ROSA
ACESSE FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES
PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI