BANDEIRAS: Artista de Jundiaí sente-se atacada após exposição

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As obras que causaram o cancelamento da exposição ‘O Grito’, na Caixa Cultural de Brasília, são de autoria da artista jundiaiense Marília Scarabello(foto ao lado). Marília produziu um painel com série de colagens da bandeira do Brasil. Numa delas, os políticos Paulo Guedes, Arthur Lira e Damares Alves estão numa lata de lixo. Noutra, o ex-presidente Jair Bolsonaro defeca no símbolo nacional. A repercussão foi rápida: a mostra orçada em R$ 250 mil, começou no último dia 17 e foi suspensa seis dias depois, com muita gritaria de deputados do PL, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Caixa alegou que o ‘viés’ político da obra de Marília fere as diretrizes do programa de ocupação dos espaços de exposição. Também observou-se que a lei 13.303, de 2016, teria sido desrespeitada já que proíbe que empresas públicas patrocinem eventos de cunho político partidário. A artista está se sentindo atacada por comentários nas redes sociais. Para ela, vem sendo feita ‘uma leitura enviesada’ sobre o episódio. O Jundiaí Agora entrevistou Marília Scarabello:

Você foi convidada para fazer parte da exposição ‘O Grito’?

Sim, fui convidada.

Como surgiu a ideia das colagens para o painel da ‘Coleção Bandeira’?

É uma pesquisa que desenvolvo desde 2016 quando percebi o quanto as pessoas intervinham na imagem da bandeira para expressar sensações e sentimentos relacionados ao que acontecia no presente. Fui colecionando essas imagens até o momento em que criei um perfil no Instagram para apresentar o conjunto, que nunca cessa de crescer. A soma delas é o meu trabalho, essa colcha de retalhos.

Não imaginou que colocar as fotos de Damares, Paulo Guedes e Arthur Lira dentro de uma lata de lixo, além de Bolsonaro defecando na bandeira do Brasil iria dar uma grande repercussão? 

Não se trata disso. Essa é apenas uma das centenas de imagens que fazem parte do trabalho. A soma é o que me interessa, olhar para um panorama de manifestações que, inclusive, muitas vezes se contradiz. Isso é o que me interessa dentro da minha pesquisa artística: pensar o que é o Brasil.

A Caixa afirmou que na sua obra “foi identificada manifestação com viés político, o que fere as diretrizes do programa e por isto suspendeu a exposição e abriu apuração”. Você não foi informada que os trabalhos não poderiam ter viés político?

Não existe arte apolítica. O trabalho é, obviamente, político. Ele não é político-partidário, não tem uma condução ideológica, pois abraça todas as manifestações. Como sou uma artista convidada, não posso falar sobre as negociações com Caixa, pois eu não as fiz. 

As obras não passaram por checagem antes da abertura da exposição para confirmar se seguiam todos os requisitos? A exposição foi orçada em R$ 250 mil. Quanto você iria ganhar? Recebeu? Terá de devolver?

Não posso responder a esta pergunta pois, novamente, não participei diretamente deste diálogo. 

Você diz que está sendo vítima de informações equivocadas. Poderia explicar melhor? 

O que tem sido replicado nas redes, além de informações erradas sobre o projeto – é um recorte de 1/800 do que é o trabalho. O trabalho, a imagem do trabalho, é a soma de centenas de vozes e manifestações. Quem acessa essas informações replicadas não consegue ter nenhuma ideia do que, de fato, é a obra. Isso constrói uma ideia errada sobre o que estava exposto e essa ideia cria uma narrativa outra que nada tem a ver com o que eu faço. Pegar um pedaço de uma palavra não é mostrar a palavra inteira. Muda completamente o sentido. É o monte de bandeirinhas que compõem esse painel. Centenas de pensamentos diversos sobre uma ideia de país. Além disso existem notícias dizendo que a exposição era minha e não é. Disseram que ganhei R$ 250 mil, o que beira o absurdo.

Na sua página no Facebook há alguns ataques contra você. Está se sentindo ameaçada?

Estou me sentindo atacada por conta de uma leitura enviesada sobre tudo isso. Mas isso é o que as redes sociais provocam. Não é a toa que as fake news funcionam tão bem. 

Aliás, você apagou várias postagens, antigas inclusive…

Tenho tentado proteger a minha vida pessoal de ataques que ultrapassam uma crítica ao trabalho e que podem, inclusive, ser objetos de processo. 

Você bloqueou sua página no Instagram?

Eu apenas a fechei temporariamente. Nem todos os perfis são abertos e preferi me resguardar um pouco diante do que aconteceu nos últimos dias.

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Se por um lado você está sendo atacada, por outro, este episódio deu enorme visibilidade para seu nome e trabalho. Algo positivo aconteceu? Recebeu convites para outras exposições, por exemplo?

O trabalho pensa o que é o Brasil, essas múltiplas vozes que ecoam todas ao mesmo tempo, muitas vezes divergindo, em franca oposição. Neste sentido, o trabalho está acontecendo em uma esfera muito maior do que uma exposição física conseguiria. E é paradoxal pensar que, neste sentido, ele se justifica como tal, ainda que também esteja causando imenso desgaste a mim, à curadoria do projeto, aos artistas e demais profissionais envolvidos. 

O que fará com o polêmico painel de colagens? 

O painel é um site-specific feito de lambes. Como a exposição foi desmontada, ele não existe mais. É um trabalho feito para o local onde é exposto. Não existe materialmente depois e não é, portanto, comercializado. O trabalho segue vivo no Instagram, recebendo as imagens dos seguidores, como acontece há anos. (Fotos: redes sociais/reproduções)

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