Ayrton Senna: Jornalistas relembram o dia em que a F1 morreu

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A Fórmula 1 morreu no dia 1º de maio de 1994. Pelo menos para os brasileiros. Há 30 anos, a Williams que Ayrton Senna dirigia se perdeu na curva Tamburello, em Ímola, na Itália. A pancada contra as defensas foi violenta. Já se sabia que o acidente era grave. O Brasil entrou em estado de alerta. Uns choravam. Outros rezavam. Horas mais tarde, o jornalista Roberto Cabrini, então na Rede Globo, deu a notícia que ninguém queria receber: Ayrton Senna tinha morrido. O Jundiaí Agora conversou com jornalistas locais. Eles relembraram o dia em que Brasil perdeu um ídolo e o mundo ganhou um mito.

Anelso Paixão:

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Anelso Paixão: plantão inesperado e jornal que quase ganhou o Prêmio Esso

“Este foi um dos momentos mais marcantes e emblemáticos da minha carreira. Apesar de ter ido à Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, a qual o Brasil ganhou, mais emocionante para mim foi a cobertura da morte do Senna. Na época eu trabalhava no Correio Popular, de Campinas, e muitas coisas aconteceram. Nos treinos antes do GP de Ímola, teve a morte do piloto austríaco Rolando Ratzenberger. O chargista do jornal, o Rivas, fez um desenho da ‘Dona Morte’, personagem do Maurício de Souza, dando a largada para o Ayrton Senna e Michael Schumacher. No domingo de manhã, eu ainda estava dormindo e o telefone de casa tocou. Era o chargista. Ele estava desesperado e dizia que tinha brincado com o assunto ‘morte’ e perguntava se eu sabia o que tinha acontecido com o Senna. Foi ele quem me avisou que o Ayrton tinha sofrido um acidente muito grave e que poderia até morrer. A partir daí comecei a acompanhar a cobertura e começaram a me questionar se haveria edição do Correio Popular na segunda-feira. O jornal ia para as bancas nas segundas. Só que o domingo, 1º de maio, era feriado. Comecei a mobilizar a equipe de repórteres para trabalhar e a direção trabalhava a edição que iria para chegar até as bancas. Era preciso achar gráfica e entregadores. Fui para Campinas e quando cheguei na redação vivi um dos momentos mais emocionantes: a redação inteira, de todas as editorias, já estava trabalhando. Fomos definindo assuntos, as entrevistas começaram. Saímos da redação mais de 22 horas. Não deu nem tempo de chorar. Colocamos nas bancas um jornal com 32 páginas. A capa era preta, com uma foto 3×4 do Ayrton Senna, a data de nascimento e a data da morte, além de uma frase do próprio piloto. Foi uma edição maravilhosa e concorremos ao Prêmio Esso. Quem ganhou foi o Globo, do Rio, que saiu com 64 páginas”.

Joaquim Rimoli:

Detalhe da Lotus daquele que viria a ser tricampeão mundial na Fórmula 1

“Como todo apaixonado por velocidade, eu também era fã do Ayrton Senna. Nos anos 80 e 90 não perdia uma corrida. Lembro bem da preocupação do Ayrton com os problemas de segurança  naquele fatídico GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Naquele final de semana, já haviam acontecido dois acidentes feios. O primeiro foi na sexta-feira, durante os treinos de qualificação, em que  o Rubens Barrichello bateu forte sua Jordan contra uma barreira de pneus. Por sorte, ele teve pequenas escoriações e o nariz quebrado, o que acabou tirando o Rubinho da corrida. No sábado, o austríaco Roland Ratzemberger morreu depois de bater violentamente na curva Tamburello, no mesmo lugar onde o Senna iria bater no dia seguinte… Lembro-me como se fosse hoje a cena do acidente. Na hora, pensei: não foi nada e daqui a pouco ele sai do carro andando… Mas os segundos foram passando e nada dele sair. De repente, uma pequena balançada na cabeça, deu um sopro de esperança, mas alguns minutos depois bateu aquele desespero e a constatação de que a coisa tinha sido grave… Quando veio a confirmação, a sensação foi de perder uma pessoa próxima, um irmão. E assim como todos que já perderam alguém querido, o tempo não apaga a dor da separação, mas faz a gente lembrar sempre das coisas boas que mantém a pessoa viva na nossa memória para sempre”. Na foto principal, Joaquim Rimoli e a Lotus 97T/Renault Turbo, usada por Senna, na primeira vitória da carreira dele na F1, dia 21 de abril de 1985, no autódromo de Estoril, em Portugal. A foto foi feita no Festival da Velocidade de Goodwood, na Inglaterra.

Joao Carlos Coutinho:

Senna antes da corrida fatal: Semblante sério, pensativo, chamou a atenção dos fãs(Foto: Pinterest)

“Eu era fã do Ayrton. Sempre acompanhava as corridas com meu pai. Ele sim, era fanático pela Fórmula 1. No dia 1º de maio de 1994, eu estava junto com a equipe de jornalistas esportivos de Jundiaí. Eu trabalhava no JJ e estávamos indo acompanhar um jogo do Paulista na longínqua Paraguaçu Paulista, salvo engano. O Galo jogava pela série A3. Os repórteres e um fotógrafo, colegas de outros veículos de comunicação, fizemos a viagem num ônibus da Picolotur, que gentilmente cedia um fretado para imprensa. Soubemos do acidente pelo rádio durante a viagem de ida. Foi de fato um clima de velório. Liguei para meu pai, hoje no Céu, e perguntei se era verdade. Ele confirmou. Voltamos arrasados. Ninguém falava mais nada. Na época, cheguei a pensar que o Grande Prêmio Ímola estava amaldiçoado. No primeiro treino, Barrichello capotou. No dia seguinte, Ratzenberger morreu no treino classificatório. Senna não queria correr, parecia que previa algo ruim e foi o que deu. Eu me acostumei a vibrar com o Ayrton Senna a cada largada e a cada vitória, exibindo a bandeira do Brasil. Porém, depois da morte dele, ficou um vazio e nenhum outro brasileiro conseguiu chegar perto em termos de idolatria, casos de Felipe Massa e Rubinho Barrichello”.

Fábio Manzini:

Tetracampeonato nos Estados Unidos: Homenagem a Ayrton(Foto: redes sociais Ayrton Senna)

“Eu assistia todas as corridas com meu pai. Era fã do Ayrton Senna. Não sou expert em Fórmula 1, mas gostava muito. Estava em casa, em Campinas, quando ele morreu. Estava pintando o quintal, assistindo a corrida. Lembro perfeitamente do acidente e, horas depois, do Roberto Cabrini dando a notícia da morte. Foi muito triste. Depois veio o velório que parou o Brasil. Acompanhei pela TV. Em 1994, o Brasil foi tetracampeão mundial de futebol e os jogadores fizeram uma homenagem para o Ayrton com uma faixa”.

Sandra Gomes:

Na Alemanha, Sandra visitou museu de cera faz homenagem ao piloto morto há 30 anos

“Jamais esquecerei aquele dia. Eu estava num congresso no interior de São Paulo. Por ser um dia livre, os participantes estavam assistindo a corrida, jogando cartas, fazendo um churrasco. Quando aconteceu o acidente acabou tudo. Ficou um clima de luto. Todos choravam. O Ayrton era uma pessoa muito boa, muito simples e que ajudava muito. Foi uma perda enorme. Aqui em Berlim, onde moro atualmente, existe um museu de cera. Até onde sei, o Senna é o único brasileiro que está retratado no museu. A peça não parece com ele. Mas ele está representado no museu”…

Vânia Rosão:

“Sena bateu forte”, disse Galvão Bueno durante a transmissão(Reprodução/Youtube/Rede Globo)

“Nunca fui fã de Fórmula 1. Era fã do Ayrton Senna não tanto pelo esporte e sim pela pessoa que era: íntegro, um jovem batalhador, com foco. Ele inspirava as novas gerações. Era fã por isto. Foi uma fatalidade que acabou com a vida de uma pessoa que servia de exemplo. Gostava da trilha sonora que vinha com ele nas vitórias. Era emocionante. Orgulho de ser brasileira.

Geraldo Dias Netto:

“Eu estava em casa. Esperando para almoçar macarrão e croquete que a minha avó fazia. Foi um domingo fatídico. Uma tristeza para o Brasil inteiro. Ninguém acreditava. E já se passaram 30 anos”…

Valéria Nani:

Minutos de apreensão: Piloto é retirado do carro e não se mexe(Reprodução/Youtube/Rede Globo)

“Eu estava assistindo a corrida na cama. Iria almoçar na casa da minha ex-sogra. Quando cheguei lá, todo mundo estava de cabeça baixa. Alguns choravam. Perdemos a fome. Lembro que assim que o acidente aconteceu fiquei observando a movimentação, querendo que ele saísse do carro, mas ele não saía. Ficou imóvel. Eu conversava com o Ayrton, pedindo pra ele se levantar e sair. Acho que, naquele momento, muita gente fez isso: conversou com ele através da TV. Depois veio a notícia da morte. Parecia que estava perdendo alguém da minha família. Doeu muito. Nunca vi comoção igual. Ele era unanimidade entre os brasileiros e também no mundo todo. Perdi o meu maior ídolo e também perdi a vontade de acompanhar corridas por muitos anos. Até o acidente eu não deixava de assisti-las”.

Nelson Manzatto:

“Na época morava em Campinas e sempre participei das missas das noites de sábado. Mas, naquele ano tínhamos um aniversário em Jundiaí e fomos na festa já lamentando a morte do corredor austríaco. Naquele dia 1º fui na missa das 9 horas. Cheguei em casa por volta das 10h30 e minha sogra falou sobre o acidente. Na hora a gente nunca pensa em morte. Depois, o Cabrini, da Globo, deu a notícia que Senna não tinha resistido. Foi triste, foi chocante, principalmente para quem acompanhava as corridas todos os domingos de manhã, como eu. De repente, a Fórmula 1 perdeu o interesse. Difícil acompanhar, apesar da presença do Rubinho, do Massa. Nenhum deles teve o desempenho do Senna. Lembro que no dia seguinte, o Jornal da Tarde(foto ao lado), de São Paulo, publicou matéria sobre a morte. Também tinha um texto do Nelson Piquet que tinha o título: “O silêncio de Ímola foi tão grande que dá para se sentir daqui”.

Silval Miguel:

Silval Miguel acompanhou a chegada do corpo de Senna(Foto: Pinterest)

O tempo passou, envelheci, continuo gostando da Fórmula 1. Admito que não tenho mais a empolgação de antes, quando Ayrton Senna corria. Era fissurado. Domingo sim, domingo não, tinha corrida, Senna nos representando, e eu sentado no sofá junto com um amigo, que sempre vinha em casa assistir. Aquele final de semana não dá para esquecer, apesar de 30 anos da morte de Senna terem se passado. Na sexta-feira daquele final de semana do GP de San Marino, o Rubinho bateu forte. No sábado, o austríaco Roland Ratzenberger também sofreu um acidente e morreu. Senna fez a pole-position, mas parecia transtornado com os acontecimentos e impaciente com o seu carro, com o sistema de direção da Williams. A TV o mostrou olhando para o bólido. Talvez estivesse conversando consigo mesmo, e se perguntando “e agora?”. Na corrida do domingo, ele partiu na frente e, de repente, a “porrada” na curva TambureLlo. Galvão Bueno, o narrador da Globo, falou: “Senna bateu forte”. Ele achou, eu também e meu amigo, que ele iria sair do carro, mas sua cabeça pendeu para um dos lados. Deu aquela aflição, sai da sala, fui ver o tempo, na laje da garagem. O dia estava ensolarado. Não acreditando naquilo, assim como milhões e milhões de brasileiros. Mas era verdade. Chorei. O herói dos nossos domingos havia morrido. Passado o choque inicial, fui com um amigo, em São Paulo, ver a chegada do corpo. Vi milhares de pessoas nas ruas e avenidas acenando, dando adeus ao nosso herói e agradecendo pelo que fez nas pistas, mostrando que era brasileiro. Hoje, se vê a bandeira do País com qualquer esportista. Continuo acompanhando a F1 e seus carros tecnológicos. Mas é diferente, não tem brasileiro nos representando. Senna foi o primeiro e único.

Fábio Pescarini:

Pescarini entrevistou Prost no banheiro da Assembleia, onde o velório foi realizado(Foto: Pinterest)

Antes de mais nada, confesso que nunca fui fã de carteirinha do Ayrton Senna. Ok, era um gênio, assim como o Sócrates e o Zico, e nunca torci para Corinthians e Flamengo por causa disso. Foi assistindo a algumas corridas, agora na geração YouTube, que passei a analisar detalhes da sua pilotagem, para admitir que o cabra era bom mesmo. Mas foi a sua morte que me tornou um repórter melhor. Fiz parte da lendária equipe que abriu as portas do Correio Popular, que naquele 1° de maio de 1994 decidiu não circular, pela primeira e única vez na sua história, porque não valeria pagar horas extras num domingo, ainda feriado. E a gente fez jornal na marra. Eu, recém-casado e duro na época, morava na periferia de Jundiaí, num apartamento sem telefone(naquela época isso era artigo de luxo). No dia seguinte, eu estava de folga, pois deveria ter esticado o feriado por causa do banco de horas estourado. Só que eu residia no meio do caminho entre Campinas e São Paulo… E pouco antes do escurecer, na terça, dia 3, para o carro do jornal na porta do prédio e o fotógrafo Alexandre Battibugli, meu grande parceiro de pauta na época, chama no interfone: “Toma banho rápido porque você está convocado para cobrir o funeral”. Se eu não tinha telefone para ser avisado com antecedência, problema era meu. Passamos a madrugada no aeroporto de Guarulhos, com saguão vazio – o que só comprovava a minha tese de que o Senna não era tudo aquilo.  O caixão chegou umas 7h do dia 4, Maluf recepcionando e tal. A cena da fila de táxis enfileirados em forma de ‘S’ na saída do aeroporto, à espera do carro dos bombeiros com o corpo, começava a mudar minha opinião. Alguém não deve ter deixado a multidão entrar, por isso passei a madrugada praticamente sozinho no saguão, sem fãs histéricos ao meu lado. Só quem acompanhou o cortejo do Ayrton Senna, há longínquos 30 anos, sabe o que foi a comoção daqueles dias. Mas lá de cima acho que o Senna resolveu me perdoar por ser piquetista. Com 20 e tantas horas acordado, estava eu lá em pé na frente do mictório do Assembleia Legislativa, onde ocorria o velório, quando um baixinho de cabelos encaracolados para do meu lado. Era o Alain Prost, o eterno rival do cara. Tinha ali a chance de uma entrevista exclusiva, mas estava com as mãos ocupadas e o bloquinho no bolso de trás das calças. Segui o cara até a pia, lavamos as mãos juntos e me apresentei num inglês tão ruim quanto a habilidade de um piloto novato da Minardi, e sapequei uma pergunta, sem pensar no tão ridículo que aquela situação poderia ser. O francês entendeu e respondeu.  Saindo do banheiro, sucesso na segunda pergunta também. Só que a terceira embaçou, ele não entendeu nada e já esboçava falar tchau. Mas lembra que o cara lá em cima havia me perdoado? A Beatice, assessora de imprensa do Senna, do nada passou em frente ao banheiro masculino justo naquele momento, viu o constrangimento da situação e fez papel de intérprete ao notar meu desespero. O francês respondeu, ela traduziu, ele gentilmente agradeceu e sumiu no corredor. Fui correndo procurar um orelhão. Eu havia acabado de fazer três perguntas para o Alain Prost, o eterno rival arrependido do Senna. E no banheiro! Precisava avisar a redação para separar uma página: com aquelas três respostas eu escreveria um caderno inteiro se precisasse. No ano seguinte, vi o Prost no hotel dos pilotos, mas ele fugiu daquele batalhão de repórteres carniceiros atrás da confirmação de que ele voltaria às pistas. Não fui a nenhum banheiro procurar. Seria um desrespeito com o Senna, que no seu velório provou, lá do além, que eu deveria ter confiado mais nele.(Texto originalmente publicado em 2022)

Fábio Estevan:

Eu quis acreditar que nada de mal aconteceria com o Senna”

“Eu tinha 13 anos e estava em casa. Na época morava no jardim Monte Alegre, em Campo Limpo e tinha combinado com os colegas que iríamos jogar futebol depois da corrida. Todos assistiam a Fórmula 1. O Senna se acidentou e ninguém saiu para a pelada. As especulações começaram, ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Até que um amigo foi me chamar. Sai chorando e perguntei se tinha visto o acidente. Ele respondeu que eu não deveria me preocupar porque os pilotos tinham muita proteção e, por isto, contavam com várias vidas. Eu quis acreditar nele. Depois veio a notícia da morte dele. Fico emocionado ao relembrar…”

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