A vivência no Carmelo São José, há alguns anos, em Missa de Ação de Graças pela caminhada da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena e Associação Maria de Magdala, toca o olhar, o coração, a alma de cada um de maneira pessoal. Para quem observa à distância, é o encontro do santo com o profano.
Por que vamos ao Carmelo na data? Porque existe lá uma Presença maior de encontro/reencontro, com Aquele que nos possibilitou ser e nos observava desde o ventre materno. Talvez, mesmo que não consigamos traduzir racionalmente, nos vemos diminutos, embalados além do útero, pelo sorriso do Céu.
E depois… Cada um sabe de sua história pessoal com encontros e desencontros, com doçura e nódoa, com embriaguez para fugir da lucidez que torturava e sangrava. Abusos sexuais daqueles que deveriam ser protetores, uso e abuso, a promiscuidade sexual como atmosfera na situação de miséria em que viviam, a carência de laços, disfarçada pelo álcool e outros tipos de droga. E quantos sonhos para que as filhas não passassem pela mesma trajetória, apesar de, quando surgia um “programa”, necessitavam pedir que deixassem o quarto, que era habitação, e brincassem no corredor lúgubre.
Inúmeras cicatrizes! Sonhos sepultados no desamparo para o qual o mundo empurra.
Houve um dia, mais outro dia, mais tantos dias e, mesmo na fé em Deus, de que Ele ouve os que se encontram às margens, depararam-se com a Palavra que não acusava, não destruía, mas chamava e chama para a proximidade dos Anjos.
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Precede-nos, portanto, no trabalho da Pastoral e da Magdala, o anúncio de que o Senhor fala através de Seu filho Jesus Cristo. Por isso, cantamos fortes com as Monjas, na Missa do último dia sete de novembro: “Graças, meu Deus, te rendo graças, por esta vida, graças/ por teu amor dou graças, graças! / Graças, meu Deus, te rendo graças, por tua/ bondade, graças. Te rendo graças mil!”
Não é um encontro do santo com o profano, mas sim de quem se encontra ou se encontrava na aridez e descobriu, no Carmelo, junto às Irmãs, a fonte da misericórdia do Senhor, que sorri, canta, se interessa, pergunta e abraça com os olhos. Graças, meu Deus, te tendo graças pelo Carmelo São José.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.