“Querida mãezinha. Escrevo para que a senhora não fique preocupada”. Foi assim que eu comecei o pequeno texto, de pouco mais de 17 linhas, onde eu contava um pouco do que acontecia comigo naquelas longínquas férias, nos idos dos anos 70. A cartinha foi cuidadosamente guardada pela minha mãe dentro de um plástico, colocada numa pasta junto com documentos importantes e lá permaneceu durante décadas dentro do guarda-roupa. Confesso, não lembrava mais deste escrito, mas para minha surpresa me deparei com o papel, já amarelado, algumas semanas atrás, enquanto organizava os guardados da minha mãe, que faleceu em meados deste ano. Nem preciso dizer que senti um nó na garganta. Voltar no tempo, muitas vezes, não é tarefa fácil.
A cartinha até que foi bem escrita, apesar dos erros de português (dezembro com n…), mas me dou um desconto, afinal, eu estava com 10 anos de idade e décadas depois eu ainda derrapo em algumas regras gramaticais. Quem nunca? Escrevi a cartinha porque estava viajando na companhia de meus tios, sem meus pais.
Minha caligrafia, naquela época, era bem mais bonita do que a de hoje em dia. As letras bem redondinhas e desenhadas, com os espaços certinhos entre as palavras, o que mostra o meu capricho na hora de escrever. Com certeza devo ter feito um rascunho e depois passei a limpo para garantir um trabalho perfeito.
Contei para minha mãe que estava gostando muito do passeio, que estava em Bertioga (litoral norte de São Paulo). Que havia ganhado uma boneca chamada Geni, presente dos meus tios e que meu primo recebera um robô. A boneca não existe mais, mas o robô que mostrava os dentes e dava risada, este sim ainda sobrevive.
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MEUS AVÓS DORMEM PROFUNDAMENTE
“Aqui está muito gostoso. A semana que vem eu acho que estarei aí”, continuei a escrever e na linha de baixo assinei a cartinha: “Adeus da Vânia”. Mas o texto ainda tem um PS: ”fale para a vó não ficar preocupada, eu não vou no fundo”. Caí na risada quando li essa última frase, pois cresci ouvindo essa recomendação. Tanto que até hoje morro de medo de águas profundas, seja no mar ou numa piscina. Eu só fico no raso. E o mesmo alerta eu igualmente repeti e ainda repito para minhas filhas.
A cartinha esquecida me fez reconectar com a minha infância, com a lembrança de pessoas queridas que passaram pela minha vida e deixaram muita saudade. Voltei a colocar o papel amarelado no saco plástico, dei uma última olhada antes de juntá-lo a outros documentos e agora a cartinha esquecida está no meu armário. Quem sabe quando ela voltará a ser resgatada e lida novamente…(Foto: Pikist)

VÂNIA ROSÃO
Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na Internet.
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