CERTEZA DE QUÊ?

certeza

Vou cursar faculdade em Curitiba, não estou certo da minha escolha, mas fui aprovado no vestibular. Vou ficar noivo em novembro. Certeza mesmo de que é a melhor escolha, não tenho, mas vou em frente. Estou querendo trocar meu carro e quero continuar nos modelos da MMMMM. Mas, não tenho certeza da troca. E por ai vai a vida. Sempre com indefinições, sempre com poucas certezas absolutas.

Uma vez ouvi que a certeza absoluta era uma certeza burra. Argumentou-se, na época, que só temos certeza da Vida e da Morte. Não retruquei nem pensei em argumentar, mas sinto pessoalmente que nossas certezas são sazonais e respondem a alguns tipos de necessidades ou opções temporárias, que até se debandam para outros objetivos, mas correspondem ao momento da escolha.

Isso nos mostra a delicadeza da situação. Quando estamos diante de uma escolha, por mais fácil que ela nos possa parecer, estamos numa encruzilhada por onde passam nossos desejos, nossas angústias, nossas indecisões, nossas supostas certezas, nossas precauções e nossas ansiedades. Tudo junto e misturado encontra-se numa caixa que, às vezes, vem embrulhada para presente e, em outras vezes, o conteúdo vêm solto e desordenado.

Daí pergunto: certeza de quê? Certeza da escolha? Certeza do tempo de validade desta escolha? Certeza da veracidade das palavras que envolvem cada uma das etapas daquilo que estamos pleiteando? Nunca teremos a absoluta certeza de nada. Lembro-me quando estava para cursar o Mestrado e me perguntei: para quê? Se a ideia era continuar na rede pública de ensino, para que um mestrado? Encontrei muitas respostas, que me atendiam naquela época, mas que hoje são inócuas, insuficientes. Entretanto, naquele momento foram norteadoras de todo meu trajeto e todo meu percurso acadêmico.

No meio do caminho eu me via bem instável quanto à linha de pesquisa, a temática estudada, as interfaces que tudo se ligava, porém eram as oportunidades daquele momento, daquela época, com aquelas pessoas. Hoje faria outras ligações e assumiria outras perspectivas, mas a experiência que trago hoje não era a mesma que tinha nos anos 80-90. E sei que isto define grande parte das escolhas e das certezas.

Na clínica, intriga-me os que buscam pela Psicologia como uma ciência da alma, mas desespera-me aqueles que a procuram para resolver suas escolhas para a eternidade: parece que o psicólogo tem o poder mágico de traçar propostas de paz e alegria para as pessoas, enquanto estas propostas são consequências das escolhas que fazemos no decorrer do caminho.

Não seria numa sessão de terapia que eu traçaria os planos dos meus próximos 10 anos. Nem seria lá que eu esboçaria meu plano de felicidade para todos os feriados do ano.  Lá eu irei me organizar para colocar em prática os instrumentos que tenho, a disposição, para caminhar com clareza e objetividade, sem procrastinar nem dar chances para pensamentos automáticos virem me sabotar.

O mesmo acontece com nossas escolhas políticas: cada um, dentro de suas leituras pessoais e percepções deve fazer sua escolha, sem se deixar levar por promessas, porém observando cada ação, cada palavra e cada atitude daqueles a quem iremos eleger. Escolhas e consequências. Sempre nessa ordem.

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Por estes mesmo caminho passam nossos matrimônios, com nossos compromissos e respeito aos nossos pares afetivos (ou não; mediante traições e fugidinhas rápidas). Passam nossos vínculos empregatícios e nossas tomadas de decisões empregatícias (ou não, quando apenas aceitamos o que é para sobrevivência e não aderimos ao espírito do empregador). Transitam nessa trilha as nossas amizades, nossos parceiros e nossos colegas (ou não, quando vivemos autonomamente, sem dar satisfação aos demais de nosso círculo). Nossa família. Percebo que nossa Vida caminha nesta estrada, de mão multivariada e sempre se alterando.

Mas está tudo bem, pois nossas mudanças atendem às necessidades, as emoções e as características do momento. Somos pessoas de fase. E, sendo de fases, nem sempre estas fases são as melhores, porém estamos sempre escolhendo um caminho, um atalho, um percurso. Com certeza? No momento, sim, porém, quando mudar a fase, outras certezas virão. Certeza, certeza, só da Morte.(Foto: cena do filme ‘A Beira do Abismo, 2012/Divulgação)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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