CINISMO OU IGNORÂNCIA?

Cinismo ou ignorância? Talvez ambos. O ambiente, embora imprescindível e valioso, não tem muitos amigos. Ao contrário, sobram inimigos. Desde os criminosos que exterminam a floresta Amazônica, invadem reservas naturais e desrespeitam áreas demarcadas em favor dos verdadeiros donos da terra, os indígenas, até o aparente inofensivo indivíduo que desrespeita a natureza em sua rotina. Gastando água em demasia. Desperdiçando energia elétrica, produzindo resíduos sólidos em abundância, poluindo ruas, rios e oceanos.

Poucos se salvam nessa empreitada que representa verdadeiro suicídio coletivo. Tão irracional a primícia dentre as criaturas, a única a se vangloriar de sua racionalidade, que prefere acabar com a experiência da vida neste frágil e sofrido planeta.

Dentre os “amigos” do ambiente estão as crianças. Ainda puras, ainda ingênuas, sensíveis e aptas a enxergar que “o rei está nu”. Um rei tosco, rústico e mal-educado. Penso na sutil ironia do filme “Um Pequeno Grande Plano”, dirigido por Louis Garrel e que, pretendendo ser comédia, é na verdade uma lição de ética ecológica.

Escancara o cinismo dos adultos quando o assunto é ecologia, embora a Terra lance candentes sinais de exaustão. Nela, a vida está com os dias contados. As frases de costume são: “é exagero da mídia para ter audiência”, “é estratégia do liberalismo para vender”, “os catastrofistas são poetas”, “o que interessa é vender e transformar tudo em cifrão”.

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A infância é menos hipócrita. Percebe que os adultos estão “se lixando” e resolvem atuar. Por isso existem Gretas Thunberg, não só na Escandinávia, mas em todos os continentes. Para os cineastas franceses Louis Garrel e Jean-Claude Carrière, que o cinema perdeu há pouco, o Brasil protagoniza a sua versão “Pária Ambiental”. Numa das cenas, no final da película, uma das crianças afirma que o projeto de salvar o mundo consiste em “fazer exatamente o contrário dos brasileiros”, que exterminam suas florestas. Que orgulho em ser brasileiro neste fatídico e emblemático ano de 2022!

JOSÉ RENATO NALINI

Desembargador aposentado, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras.

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