Que ano foi esse? 2021 é o tipo de ano que nenhuma aventura imaginada deixou de ser superada; um ano daqueles que assusta até o mais incrédulo e que levanta suspeitas sobre o que mais poderá vir. Realmente, diante de tantas coisas inusitadas, a descrença à ciência e a pouca valorização do ser humano foram tônicas a serem lembradas por vários séculos. Poderíamos dizer que marcou época e deixou sua marca. Digamos que, sem sombra de dúvidas, foi um ano para não se esquecer: tragédias, barbaridades e mentiras envolveram situações emblemáticas que remetem a preservação da vida e da dignidade humana. Coloca aventura nisso…
Não gosto da brincadeira que sugere ser um fato tipicamente brasileiro; aposto mais que foi um fato tipicamente maléfico que demonstrou o quanto podemos ser ignorantes e maldosos, diante de propostas assustadoras e indiscutíveis. O ano em que a ciência brasileira foi arremessada ao lixo, por inúmeras vezes e, desta forma, desacreditada por figuras políticas de expressão (seja ela qual for); balizado por um questionamento insustentável, a ciência se viu totalmente desprotegida e vulnerável.
Aqueles que desenvolvem um mínimo de empatia e que acreditam nos indicativos científicos viveram momentos de muita tensão e terror; em determinados momentos pensávamos que estávamos vivendo na idade da pedra lascada. Terra de ninguém e argumentações muito aquém das sustentadas por crianças em idade pré-escolar. Brincadeira de muito mau gosto e de uma insensatez a toda prova. Em todas as áreas e perspectivas, visto o fato que a gritaria era geral, de todos os lados, o que tornou o ano insustentável.
Esperar pela virada dele acena como um alento, não esquecendo que não basta acabar o ano civil: é preciso mudar a mentalidade. Enquanto pensávamos que aprenderíamos algo, depois do pior pico da pandemia, fomos surpreendidos por um surto de pouca ou nenhuma consciência e pouca ou nenhuma empatia. Pois é, não aprendemos nada diante de tantas perdas. A Psicologia aponta para um único aspecto: caráter frágil ou inexistência dele. Como podemos tripudiar diante da vacinação? Como podemos insistir em levar vantagens diante do falido e esquálido? Como pensamos viver fingindo alegria e fartura enquanto a maioria mal sobrevive? Ainda temos muito a aprender.
Não conseguimos ter alcance do mal que nos abateu e isso fez da gente uma espécie estranha, que comenta sem sentir, que argumenta sem refletir e que se importa apenas com questões que beneficiam a nós próprios, portanto encenamos o zelo e o amor ao próximo, sem termos nenhum pudor em agir no sentido oposto à nossa fala. No melhor dos verbetes atuais: amadurecemos e nos fortalecemos numa postura fake. Somos uma fraude. Sem treinamento e sem preparação, somos uma fraude legítima e forte.
Mas, houve algo bom em 2021? O que esse ano atípico nos trouxe? O que fizemos de bem em 2021? Foi o ano da tentativa de salvação, aos que enfrentaram filas de vacinação, seja da ovid, seja da gripe. Foi o ano da aposta pela Vida, insistindo no uso da máscara (que ainda vai se estender por um longo tempo, pois o vírus está ai, se travestindo de outras cepas). Foi o ano do crescimento pessoal para os que investiram em si, em aprimorar-se como pessoa, em crescer como ser humano.
Um ano difícil, mas compensador, em que não teríamos sobrevivido sem o apoio dos amigos; um ano que ensinou a valorizar as pessoas e a não subestimar os conselhos e o amor delas. O ano em que o falso foi desmascarado e as pessoas tóxicas desveladas; possibilitou focar naqueles que se preocupam com a gente e com nossas causas. Um ano revelador, com suas nuances que mais pareciam um carrinho desgovernado numa montanha russa, de um parquinho mambembe; mas que nos ensinou a separar as coisas que nos são queridas.
Particularmente, garanto que sobrevivi por força dos meus amigos queridos, do meu afilhado amado, dos meus alunos simpáticos e da minha Fé. Pela Fé consegui ressignificar cada uma das minhas quedas, que foram muitas, e entender o valor de cada escorregão. Meus médicos estiveram atentos e vigilantes, mantendo minha saúde mental próximo do saudável e, meu contexto se restabelece, vagarosamente, mas já vislumbro outras abordagens e outras metas.
Sim, foi um ano difícil, mas um ano exemplar para bater e mostrar porque bateu. Um período de alta tensão, que vivemos sempre amedrontados pela “besta fera” que poderia nos fazer reféns sem que tivéssemos chances de recomeçar. Então, tudo foi aprendizado: troca de hábitos, troca de empregos, troca de bancos, troca de médicos e remédios, troca de amigos, troca de metas. Uma luta constante e um infindável receio de nos depararmos, numa encruzilhada qualquer, com o assustador Covid. Mas sobrevivemos e aprendemos alguma coisa.
Valores foram virados de ponta cabeça, emoções pululavam de cima à baixo, rodopiavam e pululavam de novo. Choros, tensões, alegrias, vitórias, abraços, beijos, partidas, chegadas, mentiras, constatações, violações, carinhos…tudo junto e misturado. Mas intenso. Um ano para ser gravado na “calçada da fama”; só não reconhece a imponência dele, aquele que esteve anestesiado, no sentido filosófico da palavra, e optou por flanar, sem refletir.
Eu aprendi. Apanhei muito, chorei muito, gritei muito, esperneei, ofendi. Fui intenso. Até que a calmaria se fez presente pelas mãos de quem me ama e a quem amo, incondicionalmente. Estou me reerguendo e renascendo. Ano novo, vida nova. Quero retribuir tudo o que recebi e apostar num novo tempo, com novas oportunidades. A Fé irá ser minha bússola e, com ela, terei mais chance de acertar. Desejo dividir o que aprendi e o que sinto, hoje, com quem eu quero bem: você, por exemplo. Feliz novos tempos.(Foto: Educa Mais Brasil)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport
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