Sou de convivência de coração e gosto de ser assim, embora tantas vezes seja sofrido. Meu coração bate por gente mais próxima ou distante e até mesmo por pessoas que desconheço, embora, constantemente, precise de reparos para o bem. Bate, ainda, por animaizinhos e florestas. É o se colocar no lugar de quem não teve os mesmos cuidados com os quais contei. Essa oportunidade de colo com cantigas de ninar, de equilíbrio e de proteção é essencial.
Aprendi que aquilo que dói profundo em mim, pode não doer tanto em quem experimenta o sofrimento por sua maneira de encarar a vida, por sua história, contudo cada um é cada um.
Nos últimos dias, ocupo-me com um fato que soube de uma pessoa da qual me inteiro de certa forma à distância. Gente de luta. Para sobreviver um pouco melhor, busca alternativas de prestação de serviço e, dentre elas, lavar túmulos com esmero.
Soube que se encontrava hospitalizada. Contaram-me que não era da elevação dos glóbulos brancos. Nem imaginava que possuísse problema no sangue. Coitada! Que esforço além dos limites para conseguir acrescentar moedas à diminuta aposentadoria. Disseram-me mais: às vezes, enquanto cuida dos túmulos, desmaia. Como a administração do cemitério sabe de seus limites, aciona o serviço de ambulância. Apertou-me tanto o coração saber disso! Uma sexagenária franzina, de bem com a vida, carregando infecções que a fragilizam, porém não a impedem da luta no dia a dia, em um país que tomaram as terras indígenas, ganharam à custa da venda e do trabalho forçado dos africanos, mandaram o ouro para Portugal e não se passa um dia sem denúncia de corrupção, com defesas excêntricas no entra e sai da cadeia, permanecendo apenas os chamados “ladrões de galinhas”…
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Recordo-me de alguns dos versos do Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles:
“(…)
Do seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho…
E tão claro! _e turva tudo:
Honra, amor e pensamento. (…)”
Em um ponto de ônibus da periferia, uma senhorinha dá sinal, carregando a sacola com catálogos diferentes, um pãozinho e a garrafa de café. Desce em lugares diversos para entregar as encomendas e, por último, se detém nos sepulcros, dando brilho nas placas e ajeitando as flores, enquanto cantarola e agradece a Deus por mais um dia. Dizer o quê? Foto: (Lucio Sassi/OCP)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.
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