Muitos anos atrás, fui visitar um amigo em Copenhage, na Dinamarca, e descobri um restaurante onde se serviam pratos extremamente quentes e que contrabalanceavam o frio intenso daquele início de inverno. Entrei, fui acomodado em uma mesinha e me trouxeram o cardápio – em dinamarquês. E o que poderia, eu, querer de diferente – estava na Dinamarca, afinal! Mas não haveria como ler aquilo. Então puxei conversa com uma senhora e pedi se ela poderia traduzir o cardápio – do que surgiu uma conversa. Ela perguntou de onde eu era, falei que do Brasil, ela citou o carnaval, a música e o Presidente Lula – que era, à época, o Presidente em exercício.
– O Lula consertou o Brasil, não é mesmo?
– Não sei se poderíamos dizer dessa maneira.
– Mas o Brasil não é hoje um bom país para se morar?
– É um ótimo lugar, na minha opinião. Mas não sei se a população toda acha a mesma coisa.
– Por quê?
– Porque…
Nesse momento, chegou meu prato. Ainda bem. Como iria explicar que o Brasil é bom para uns e ruim para outros. Que aqui há gente que morre de tédio enquanto outros morrem de fome.
– Veja só – continuou ela –, eu mesma não sabia que no Brasil a população falava tão bem inglês!
– Então, não é toda a população que fala inglês.
– Não!?
– Não. Eu falo inglês porque tive oportunidade de estudar inglês. Mas não é todo mundo que teve a mesma oportunidade que eu.
– Como assim, isso eu não compreendi.
Ela realmente não compreendia. Nasceu na Dinamarca e lá todos têm a oportunidade de estudar inglês, não apenas uma parcela da população.
– Eu falo inglês porque meus pais puderam pagar um curso de inglês para mim. Contudo, a maioria da população não teve esse mesma oportunidade.
– Deixe eu entender: quer dizer que no Brasil quem tem dinheiro pode estudar inglês enquanto quem não tem dinheiro não pode?
– Isso.
– Mas concorda comigo que quem não fala inglês dificilmente terá dinheiro?
– Concordo. A princípio, ao menos.
– Então, no Brasil, quem nasce pobre será sempre pobre e essa diferença social nunca deixará de existir?
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Um dia, quero travar essa conversa de novo – que poderá começar igual, inclusive, já que novamente Lula é o Presidente do Brasil. Mas gostaria, claro, que o final fosse outro. É constrangedor tentar explicar que no lugar de onde venho uns têm tudo e outros não possuem sequer os meios para tentar chegar lá. Não há alegria nenhuma nisso.
Não importa em quem você tenha votado, vamos torcer para que o país dê certo. Não por este ou por aquele político, mas pelas milhões de crianças que têm o direito de tentar ser feliz. Não desistamos do Brasil. Aplaudamos o time quem quer que seja o capitão.(Foto: Pikist)

FILIPE LEVADA
É juiz de Direito
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