Recordo-me de duas situações dolorosas com adolescentes. A primeira: fracasso escolar somado a problemas familiares, contato algum com o pai, de quem esperava proximidade emocional. Para se inserir a algum grupo da periferia, passou a usar drogas. A mãe ausente durante a semana, pois era o único arrimo da família. A experiência com a pedra, que acalmava por instantes seus sentimentos negativos, fez com que ampliasse o consumo do ilícito e a dívida. Houve um primeiro aviso de cobrança. Amarraram-no em um local ermo e lhe danificaram um dos pés. Um cidadão que, na madrugada, se dirigia ao local de trabalho, assustado, o soltou. Na falta de perspectiva para o futuro e na beira de seus abismos interiores, “optou” por ingerir chumbinho. O outro, por conflitos familiares somado a decepções, foi encontrado com uma corda no pescoço, dependurado ao caibro de seu quarto. Umas das mãos na garganta, talvez em uma tentativa de salvação. Quanta tragédia! Consequência da depressão na adolescência.

Sobre a depressão nessa faixa etária, que também é enfermidade séria e real, recebi informações da psicóloga Ana Cristina Codarin Rodrigues, que participa, na UNICAMP, do curso denominado Clínica Psicanalítica da Adolescência com o Prof. Psiquiatra Dr. Antônio Carvalho de Ávila Jacintho. A respeito das causas, o Prof. Jacintho apresenta o seguinte: vulnerabilidades neurobiológicas (neurobiologia é o estudo das células do sistema nervoso e da organização dessas células dentro dos circuitos funcionais que processam a informação e medeiam o comportamento); problemas familiares como lutos, pais deprimidos, conflitos familiares, separações; questões existenciais, como decepções sentimentais, fracasso escolar; doença física e pressão cultural da sociedade contemporânea. Um dado alarmante: de 28 a 44% de jovens, da população em geral, apresentam um humor de intensidade variável.

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A psicóloga Cláudia Pinto, em entrevista a R7, sobre a depressão, considera-a como um transtorno mental afetivo ou uma doença psiquiátrica, caracterizada pela tristeza constante e outros sentimentos negativos. E, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), até 2020, a depressão será a principal doença mais incapacitante em todo mundo.

Penso que, principalmente para adolescentes da periferia, o álcool e as drogas, são oferta mais fácil do que a intervenção médica. Depressão é enfermidade e a superação, além do tratamento adequado, passa por uma relação saudável com a família, a escola e o seu meio. Qual a rede que acompanha efetivamente os adolescentes com sintomas de depressão? Sinais não faltam de pedido de socorro.(Ilustração: erlc.com)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

 


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