ENSINO INTEGRAL

Observo, neste início de ano, um aumento das conversas sobre ensino integral, entendido, basicamente, como ampliação da carga horária escolar. São inúmeros os argumentos a favor que encontram eco em quase todos os setores. Fala-se dos espaços, dos períodos e, até da solução para os pais que não têm onde deixar seus filhos, entretanto ninguém parece se preocupar com o processo pedagógico, como se o simples aumento do tempo na escola representasse o “salto de qualidade” que se pretende.

Sou absolutamente favorável à adoção de modelos consagrados mundialmente nos quais os estudantes passam boa parte do seu dia na escola, mas desde que sejam implementados com base em uma proposta pedagógica compatível com os objetivos de aprendizagem pretendidos. Não é possível afirmar, absolutamente, que mais tempo na escola determine necessariamente maiores ou melhores aprendizagens. Insistindo, apenas deixar a criança ou adolescente na escola o dia inteiro não é garantia de que eles aprenderão mais. Assim, sem um projeto pedagógico bem construído e conduzido por pessoas preparadas e competentes não adianta só aumentar o tempo de permanência na escola.

Gosto de separar propostas bem intencionadas da realidade observada e a perspectiva de exequibilidade dessas propostas. Cabe perguntar a quem pretende implementar o ensino integral generalizadamente: temos espaço físico para isso? Temos professores e coordenadores formados para isso? Temos material didático, equipamentos e tecnologia na escola para isso? Quanto demora para que todas essas condições sejam atendidas? Evidentemente bons investimentos e, sobretudo, tempo, podem sanar estas questões, então vamos nos dedicar a um planejamento que possibilite, em um prazo razoável, que isso possa ocorrer.

Começando pelas inter-relações entre as diversas esferas de poder responsáveis pelos diferentes níveis e modalidades de ensino. Se a União e o Estado se dispuserem a devolver aos municípios parte dos impostos federais e estaduais que nele são arrecadados para investirem em ensino integral saberemos que a proposta é séria e efetiva. Mas se forem para apenas as Prefeituras assumirem mais esta conta, uma vez que são, na sua grande maioria, as responsáveis por considerável parcela da educação básica, essas propostas não irão longe. Basta ver a reação dos municípios em relação à elevação do piso salarial dos professores. Ninguém é contra professores bem remunerados, mas é indispensável equacionar isto nos orçamentos de cada unidade federativa.

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A ideia de uma educação integral é muitíssimo bem-vinda desde que contemple as características e diversidades das escolas e que seja decorrente de um completo estudo de viabilidade de implantação em cada uma delas, respeitadas, principalmente, suas propostas pedagógicas. O que determina a qualidade do processo educativo é a consecução dos objetivos de aprendizagem e isso não se dará, necessariamente, pelo simples aumento da carga horária.(Foto: Agência Brasil)

FERNANDO LEME DO PRADO

É educador

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